Gravações obtidas pelas autoridades policiais revelam detalhes sobre o modus operandi de uma quadrilha que assumiu o controle de 16 bairros na zona oeste do Rio de Janeiro, desde 2023. O portal g1 divulgou os áudios dos criminosos na última terça-feira, 4.
Em uma das gravações, os criminosos discutem se devem “arrancar o coração” de uma vítima ou “picotar” o corpo. A conversa envolve o traficante Juan Breno Malta Rodrigues, o BMW.
“Nós não ‘tem’ tempo pra tirar o coração, não, BMW”, disse o assassino, não identificado. “Porque, tipo assim, nós tá no meio do mato aqui, os ‘cana’ tá se movimentando. Nós ‘vai’ picotar essa ***** toda, vai enterrar e vida que segue.”
A guerra territorial resultou em um aumento significativo de assassinatos, com um total 684 mortes, sendo 359 apenas no primeiro ano do conflito. A Delegacia de Homicídios analisou cerca de 15 mil arquivos digitais, que incluem fotos, vídeos e mensagens, fundamentais para identificar os autores de outros crimes na região.
![YouTube video](https://i0.wp.com/i.ytimg.com/vi/b_IL-o0S3OU/hqdefault.jpg?resize=480%2C360&ssl=1)
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Essas investigações começaram depois que um miliciano se aliou ao Comando Vermelho, gerando uma disputa que se espalhou por bairros como Praça Seca, Taquara e Freguesia. O Complexo de Jacarepaguá também foi um dos focos, onde as decisões violentas eram tomadas em tempo real, com os líderes monitorando os homicídios à distância.
“Desde 2023 teve um aumento significativo no número de homicídios nessa região”, disse o delegado adjunto Leandro Costa ao g1. “Exatamente por esse medo dessa investida, começa uma caça recíproca: traficante caçando miliciano, miliciano caçando traficante. E isso vai aumentando significativamente o número dos homicídios.”
Criminosos geram medo nos moradores
O impacto do domínio criminoso é sentido diariamente pelos moradores, que vivem sob constante medo e insegurança. Muitos deixaram suas casas, e o mercado imobiliário sofreu uma queda nos preços das propriedades.
“O pessoal está sangrando”, afirmou um morador da região. “Está com medo. Toma casa, toma isso, toma aquilo, e não acontece nada. Nada, nada, nada, nada. Como é que pode?”
Os áudios mostram que, em certas ocasiões, os próprios líderes do grupo eram os executores dos assassinatos. Indivíduos identificados como ameaças são capturados e eliminados, com os corpos ocultados.
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Os eventos se iniciaram no começo de 2023, quando um membro da milícia de Rio das Pedras passou a apoiar o Comando Vermelho. A luta pelo domínio de Gardênia Azul se prolongou por meses, o que intensificou a violência em outras áreas, com uma série de homicídios e atividades criminosas adicionais, como extorsões.
Os áudios investigados também revelam conversas em que líderes de facções discutem estratégias para prejudicar grupos rivais. Moradores relatam a presença constante de armas e a consolidação de uma cultura de violência.
“Eles param veem a sua cara, se não te conhecer, ou se cismarem com a sua de falar alguma coisa, eles vão te enquadrar com fuzil, com pistola na sua cara”, disse um morador ao g1.