Desde 2018 no UFC e às vésperas da sua 15ª luta pela organização. Aos 33 anos, Johnny Walker é um dos lutadores mais experientes sob contrato com o Ultimate. Mas até entrar neste seleto grupo – e ainda podendo sonhar com o cinturão –, muita coisa se passou na vida do jovem nascido em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro.
O gosto pela luta sempre foi algo latente na vida de Walker, que precisou fazer algumas escolhas antes de enfim trilhar um caminho de sucesso. E isso incluiu trabalhar como servente de pedreiro, segurança de boate e também tentar a vida acadêmica como engenheiro químico.
Hoje top 13 dos meio-pesados, categoria que tem Magomed Ankalaev como campeão, Johnny começou a trajetória nas lutas através do jiu-jitsu. E foi em Rio das Ostras, na famosa Região dos Lagos carioca. Mas para treinar, ele também precisou se sustentar.
“Quando comecei a treinar, acordava às 6h. O trabalho como servente de pedreiro era de 8h às 17h, e às 6h eu já estava puxando ferro. Saía da academia, trabalhava para fazer um dinheiro e depois ia treinar à noite”, contou em entrevista à ESPN.
Só que ao mesmo tempo, também era preciso conciliar os treinos e o emprego com a faculdade. Ele acabou cursando apenas um período, já que logo em seguida decidiu que o seu futuro seria de fato no mundo das lutas. Onde também concluiu o seu “doutorado” – como Johnny assim definiu.
“Eu também fazia faculdade e tive que escolher entre a faculdade ou o treino. Aí escolhi o treino, a melhor escolha que fiz na minha vida”, prosseguiu, explicando por que escolheu engenharia química na faculdade.
“Eu morava em Rio das Ostras, via muita gente com carrão, com dinheiro, mexendo com petróleo, com óleo, e falei ‘quero mexer com isso também para ganhar um dinheiro’. Fiz engenharia química, mas muito difícil. Eu vi que no esporte eu estava me dando bem também e tive que escolher um ou outro. Não dava para focar nos dois, e praticamente hoje sou um doutor da luta. Tenho mais de 10 anos de experiência, é como se eu tivesse feito um doutorado da luta. Virei profissional da luta”.
Johnny Walker ainda morou por um tempo em Curitiba antes de arrumar as malas e se mandar do Brasil para viver na Escócia. Na Europa, as dificuldades também marcaram presença, mas no fim foi lá aonde o UFC o “descobriu” através do Contender Series.
“Me mudei para Curitiba através de um empresário, que me enganou. Fiz umas lutas e fui para outro empresário, que me ajudou bastante. Eu tive oportunidade de sair do país e saí fora, fui para Escócia, comecei a lutar lá, treinando em condições ruins, não falava inglês, não tinha dinheiro. Foi uma correria do caramba até conseguir bater nos caras lá, às vezes eu não tinha nem treinador, treinava com alguém na praia, batia em saco de pancada e levantava peso. Mesmo assim, bati em três caras de alto nível e consegui a oportunidade de lutar no Contender Series, foi aí que assinei com o UFC. Passei cinco anos sem ganhar dinheiro, só acreditando no sonho e Deus, que me suportou o tempo todo”.
Versão ‘mais séria’
Prestes a protagonizar a luta principal do UFC China, neste sábado (23), com Zhang Mingyang, Walker, que não entra no octógono desde junho de 2024, promete apresentar uma “nova versão”. E tudo com base na mudança da Irlanda para os Estados Unidos, onde treina no UFC PI, o instituto de performance do Ultimate, em Las Vegas.
“Me mudei da Irlanda para Las Vegas. Na Irlanda eu tinha um bom treinador, mas não muitos parceiros de treino. Não dava para confiar nos caras que tinham lá. Às vezes eu treinava, às vezes não. E eu dirigia muito lá, eram praticamente quatro horas dirigindo todo dia, uma hora para ir, uma para voltar, aí se treinasse de novo (no mesmo dia) mais uma para ir e outra para voltar. De três a quatro horas dirigindo todo dia, olha quanto tempo eu perdi e não tinha tudo o que eu tenho hoje no PI”, disse.
“Eu fazia sempre o meu melhor com as condições que eu tinha, agora eu estou fazendo o meu melhor com as melhores condições possíveis. Eu treinei muito. Eu moro a cinco minutos do UFC PI, a três minutos da academia. O PI me dá café da manhã, almoço e janta, suplementação, fisioterapia, preparação física e recuperação. Eu só comia, treinava e dormia. Essa foi a melhor preparação até hoje e só vai melhorar. Eu senti que o meu nível aumentou e sei que tem um espaço muito maior para aumentar ainda mais. Mais um, dois anos treinando, ninguém vai conseguir me bater, eu vou bater em todo mundo porque agora eu tenho o melhor de tudo. Agora vai dar certo”, prosseguiu.
“As coisas nos Estados Unidos são muito mais fáceis. Você compra algo na internet e chega no mesmo dia, às vezes na manhã seguinte, as coisas são muito mais fáceis para você comprar, abrir uma empresa, construir algo, é tudo muito fácil. Fiz uma obra lá em casa, em três dias botei tudo no lugar certo, tudo novo, a vida lá é mais fácil. A mão de obra lá é cara para c…, por isso eu trabalhei uns três dias botando grama no meu quintal, economizei US$ 9 mil, eu mesmo coloquei. A comida saudável lá é cara, mas eu não gasto porque como no UFC direto, então só gasto com a minha família mesmo”.
“É (vai ser a minha versão mais séria). Agora eu estou com filho pequeno para criar, mulher, tenho que ganhar essa luta de qualquer maneira para pagar as contas para dar um futuro bom para o meu filho, pagar as minhas contas nos Estados Unidos. Lá as coisas são caras, pagar a casa que eu comprei lá, é caro e é em dólar (risos)”.
Sobre o seu adversário, Walker lembrou que já teve o chinês como parceiro de treino e que até quase, literalmente, quebrou o seu pescoço. E o brasileiro vê a experiência como trunfo para vencer o combate.
“Eu o ajudei na luta dele com o Anthony Smith. Fizemos um sparring, jiu-jitsu, ele é bem fortinho, explosivo, resistente. Teve uma vez que eu peguei o pescoço dele, e ele não quis bater. Só deixei quieto, senão ele sairia rodando e eu quebraria o pescoço dele antes da luta, não vou fazer essa maldade, não (risos). Ele é duro, não queria bater mesmo no treino. Ele estava com uma luta próxima, tem que ser cavalheiro, senão iria atrapalhar a luta dele. Agora não tem ninguém para me parar, não. Se ele for resistente e sair girando errado, vai quebrar o pescoço e a culpa não é minha. Eu sei a força dele, ele é bom na curta (distância), é só trabalhar a longa, chutar e socá-lo, usar todas as artes marciais que eu tenho. Tenho certeza que ele nunca pegou um lutador tão completo quanto eu”.
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Johnny Walker revela rotina nos EUA e dispara: ‘Agora vai dar certo’
Johnny Walker concedeu entrevista exclusiva à ESPN
Por último, o veterano ainda falou sobre a importância de Valter Walker, seu irmão caçula, no dia a dia. E elogiou a sua evolução, já que agora também é ranqueado no peso pesado.
“Estou muito orgulhoso dele. Ainda tem muita coisa para aprender, mas está melhorando, virou pai de família, casou, tem uma filha, a responsabilidade está aumentando, está ranqueado no UFC. Está evoluindo bastante, então está me deixando bastante orgulhoso. Todo mundo tem muito a melhorar ainda, mas de onde ele saiu e aonde está hoje, mudou praticamente da água para o vinho. Ele é grato por isso também, ele sabe a vida que ele levava e a vida que está levando hoje”, disse.
“Eu sou orgulhoso por tudo o que ele tem feito, ele é esforçado. Ele gosta de ler, interagir, evoluir. Eu contagiei ele um pouco, eu também gosto de evoluir todo dia, ler um livro, assistir e treinar algo diferente. É isso que ele está fazendo. Ter ele do meu lado é bom demais, é família, sangue do meu sangue, a gente pode confiar 100%. É muito bom ter a energia do seu irmão do seu lado, na mesma profissão que a sua, você pode contar em qualquer tipo de situação. É muito bom ter um irmão leal do seu lado”, finalizou.