O governo federal deve anunciar nesta terça-feira (1), com transmissão ao vivo pelo Canal Rual a partir das 11 horas, o Plano Safra da Agricultura Empresarial 2025/26, que contará com R$ 515 bilhões em financiamentos para médios e grandes produtores rurais.
Embora o número impressione, o crescimento em relação ao ciclo anterior é de apenas 1,5%, o que representa uma queda real, já que a inflação acumulada dos últimos 12 meses supera os 5%.
A grande novidade — e também alerta — é o avanço das Cédulas de Produto Rural (CPRs) lastreadas em Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Estima-se que até R$ 212 bilhões do total virão dessa fonte, ou seja, menos recursos com juros subsidiados e mais dependência do mercado financeiro.
Na prática, o crédito rural com taxas controladas e apoio do Tesouro está encolhendo. Em 2024/25, esse montante foi de R$ 400,5 bilhões, enquanto nesta nova safra a participação das linhas tradicionais será menor, compensada pela expansão das CPRs.
Além disso, os juros mais altos tornam o cenário ainda mais desafiador. O Banco Central manteve a Selic elevada ao longo do ano, pressionando o custo do crédito no campo. Muitos financiamentos com taxas livres chegam a ultrapassar 13% ao ano, inviabilizando investimentos em um momento de margens apertadas e aumento dos custos de produção.
O governo promete melhorar a transparência na divulgação da origem dos recursos — uma crítica constante do setor produtivo — detalhando o que é efetivamente dinheiro público, o que é exigência legal e o que é capital próprio dos bancos com juros livres. A medida busca reverter a percepção de que os planos anteriores inflaram números com pouca efetividade no campo.
Outro ponto sensível é que, a partir de 2026, o governo pretende taxar em 5% os rendimentos das LCAs, hoje isentos de Imposto de Renda. Isso pode tornar os títulos menos atraentes para investidores e encarecer ainda mais o crédito rural no futuro, elevando os riscos financeiros para quem produz.
O crescimento simbólico do volume anunciado e a redução dos recursos subsidiados mostram que o governo está transferindo para o mercado financeiro a responsabilidade de sustentar a produção rural. Em um país com desigualdades regionais, riscos climáticos e uma taxa de juros elevada, essa mudança pode acentuar o endividamento e a exclusão produtiva dos agricultores que mais precisam de apoio.
Assim, o Plano Safra, que deveria ser ferramenta estratégica de desenvolvimento, vem se tornando apenas uma conta contábil empurrada para o mercado.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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