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Dentista brasileira relata os desafios de atuar nos Estados Unidos

Trabalhar como dentista nos Estados Unidos é um sonho para muitos profissionais brasileiros, atraídos pela valorização da carreira, infraestrutura avançada e potencial de ganhos mais altos. Mas transformar esse sonho em realidade exige enfrentar uma série de exigências que vão desde a revalidação do diploma até a adaptação a um sistema de saúde com regras bastante distintas das do Brasil.

Diferentemente de países como Portugal ou Espanha, os EUA não reconhecem diplomas de odontologia obtidos no exterior. Para atuar como dentista, é obrigatório concluir parte da formação em uma instituição norte-americana. O caminho mais comum para profissionais graduados no Brasil é o chamado Advanced Standing Program, oferecido por algumas universidades locais. O programa permite ingressar nos dois últimos anos de um curso de odontologia, desde que o candidato passe por um processo seletivo rigoroso.

O longo percurso para atuar como dentista

Nos Estados Unidos, a formação em odontologia exige um diploma universitário prévio, equivalente a um bacharelado. A ele é adicionado mais quatro anos em uma escola especializada, a chamada Dental School. Os estrangeiros aceitos nos programas avançados geralmente cursam os dois anos finais. Neste caso, o custo pode superar os US$ 100 mil por ano (em torno de R$ 595 mil, conforme o câmbio). Além disso, tem as despesas com moradia, alimentação e livros.

A fluência do inglês é indispensável para passar nos exames, assim como para desenvolver relacionamentos com pacientes, operar sistemas clínicos e se comunicar com colegas de profissão. Além da fluência, muitos programas exigem aprovação no TOEFL, teste que mede o domínio no idioma.

Consultórios têm cultura de grandes empresas

A maioria dos dentistas nos EUA atua em clínicas privadas, muitas vezes com uma robusta estrutura empresarial. A maior rede norte-americana, a Heartland Dental, por exemplo, comanda mais de 1,7 mil clínicas distribuídas em 38 estados. É comum que essas clínicas tenham foco em produtividade, com metas diárias e especialização de funções. Diferentemente do modelo brasileiro, em que muitos consultórios funcionam de forma autônoma, nos EUA a prática odontológica segue sobretudo uma cultura corporativa, subordinada assim a rígidos princípios de governança.

Segundo a American Dental Association (ADA), cerca de 80% dos dentistas trabalham nesses consultórios privados. Além disso, uma parcela crescente tem se unido a redes e franquias. A média salarial chama a atenção. Conforme o Bureau of Labor Statistics, um dentista nos Estados Unidos ganha por volta de US$ 160 mil por ano. Isso equivale a mais de R$ 900 mil anuais, dependendo da cotação. Ou um salário médio mensal de R$ 75 mil. É cerca de dez vezes mais a remuneração média de um dentista no Brasil.

Clínica em ilha na região de Boston conta com vários profissionais brasileiros: atendimento estratégico para estrangeiros | Foto: DivulgaçãoClínica em ilha na região de Boston conta com vários profissionais brasileiros: atendimento estratégico para estrangeiros | Foto: Divulgação
Clínica em ilha na região de Boston tem vários profissionais brasileiros: atendimento estratégico para estrangeiros | Foto: Divulgação

Em relação à Europa, as principais diferenças estão no sistema de saúde, na abordagem ao paciente, assim como no modelo de negócios. Nos EUA, o acesso a tratamento odontológico depende principalmente de seguros privados. Além disso, os dentistas lidam com uma carga burocrática maior e rotinas de compliance que são fiscalizadas com rigor. Desse modo, torna-se mais fácil compreender porque a remuneração e o acesso à tecnologia tendem a ser superiores.

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Em tese, o cenário europeu pode ser mais amigável aos brasileiros. Em países como Portugal, o reconhecimento de diploma é mais direto, especialmente para formados em universidades brasileiras reconhecidas. O domínio do idioma local ainda é necessário, contudo, os custos e a burocracia tendem a ser menores. Os salários europeus, por sua vez, são geralmente mais baixos que os dos norte-americanos.

Número de dentistas brasileiros nos EUA; confira

Atualmente, os EUA contam com cerca de 200 mil dentistas ativos, segundo a ADA. Estima-se que entre 1.500 e 2.000 dentistas brasileiros atuem legalmente no país. Embora pequeno, o número é crescente em razão da busca por qualidade de vida e oportunidades profissionais. Ao todo, cerca de 11% dos dentistas nos EUA são estrangeiros, de acordo com dados do Health Resources and Services Administration.

Um dos exemplos de estrangeiros que alcançaram sucesso no mercado norte-americano é a dentista brasileira Luciana Pavie. Depois de se formar em 2005 pela Universidade Federal de Minas Gerais, Luciana mudou-se para os Estados Unidos em 2011. Para dar sequência na carreira, repetiu a graduação. Desta vez, porém, o curso foi na New York University. Em 2011, e apenas  quatro meses depois de revalidar a sua qualificação, a brasileira já abria a ACK Dental, sua clínica em Nantucket, uma pequena ilha no estado de Massachusetts, a pouco mais de duas horas de Boston.

Maioria dos pacientes é estrangeira

Segundo a dentista, o que a moveu a empreender nos EUA foi a paixão pela odontologia. “Sabia que precisava começar do zero. Então, fui em frente”. Hoje, sua empresa é referência na região. Com 8 funcionários e uma sólida estrutura tecnológica, a clínica é a maior na ilha que tem população de aproximadamente 14 mil pessoas. Do total de pacientes, 60% são estrangeiros, a maioria brasileiros. “Nossa equipe é multicultural e reflete a diversidade de Nantucket”.

Luciana destaca que parte dos profissionais da clínica é brasileira. “Isso fortalece a nossa conexão com a comunidade imigrante da ilha. Essa mistura de culturas, experiências e origens favorece o nosso atendimento e cria um ambiente acolhedor tanto para os pacientes quanto para quem trabalha aqui”.

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