Malas feitas há dias em Manchester. Família à espera em Sevilha. Entre avanços e retrocessos em uma das negociações mais midiáticas (e complicadas) do último mercado de verão na Europa, Antony sempre acreditou que, no fundo, acabaria por deixar de vez o Manchester United para voltar a vestir a camisa do Betis.
Mais do que acreditar, o atacante brasileiro estava mesmo decidido: assinar em definitivo com o clube espanhol, onde havia jogado por empréstimo na temporada passada (2024/25), a ponto de recusar outros interessados de peso, entre eles o Bayern de Munique.
Atingir o objetivo, no entanto, não foi nada fácil. Foi preciso lidar com “falta de respeito” e “falta de educação”, treinar separado do grupo principal do time inglês e, sobretudo, uma (decisiva) madrugada em claro. Tudo isso sem esquecer das próprias responsabilidades. Acima de tudo, dos próprios erros.
Mais maduro aos 25 anos, o jogador revelado pelo São Paulo reconhece que o “extracampo” o prejudicou na Inglaterra. O peso de ter custado cerca de 100 milhões de euros também. Águas passadas que, agora, servem como aprendizado.
“Dormindo e acordando feliz”, Antony quer retribuir o carinho e a confiança que recebeu do Betis, que investiu forte ao comprá-lo por 25 milhões de euros (R$ 159 milhões, na cotação atual). Quer fazer história no futebol espanhol. Quer jogar uma segunda Copa do Mundo. Não menos importante, que ser o herói dos dois filhos pequenos.
Veja abaixo a entrevista completa:
Existe frequentemente a ideia “do céu ao inferno”, mas, para você, acabou por ser o contrário. Foi praticamente “do inferno ao céu”. O que é o “inferno” para você? Vai ficar ou sair do Manchester United? Vai voltar ou não para o Betis? Oferta recusada, nova oferta, avanços, retrocessos, tudo isso no último dia do mercado…
“Foi um período um pouco difícil, né? Me apresentei dia 14 (de julho) e treinei separado durante mais de um mês. Foi mesmo um período bem complicado. É claro que dá um pouco de medo, de as coisas não saírem, inclusive (a negociação) saiu no último dia da janela de transferências. Mais de 40 dias em hotéis, eu e meu pai, meu pai ali no hotel, eu treinando às cinco da tarde, enquanto o grupo treinava pela manhã. Foi um momento de me testar ali em relação à paciência, a acreditar. Tenho a minha conexão com Deus, que é muito forte em relação a isso. Sabia que em algum momento ia acontecer (a transferência). Por maior dúvida ou medo que passasse na minha cabeça, sabia que alguma coisa boa aconteceria. Eu não digo “inferno”, porque acho que tudo é um preparo, tudo é um processo. Sou hoje o homem e o pai que sou, então sou grato pelas coisas difíceis que passei, inclusive na Inglaterra. Me sinto uma pessoa bem melhor. É o processo da vida, estou muito feliz por estar aqui, hoje como jogador mesmo do Betis, não mais por empréstimo. Me sinto muito feliz por ter passado por esse processo, porque sei que me amadureceu. Deus me dá as armas certas para lutar”.
A noite anterior ao último dia da janela, quando ainda existia a dúvida sobre o retorno para o Betis, foi a mais difícil da sua vida? Ou pelo menos da sua carreira?
“Foi muito difícil, porque a gente ali, no fecha ou não fecha, inclusive acho que, se não me engano, fechou às três horas da manhã. Já era de madrugada na Inglaterra. Todo mundo, eu, meu irmão, meus agentes, meu pai ali, todo mundo pilhado, todo mundo esperando. Na noite anterior, inclusive, o Bayern de Munique também tinha me chamado, mas eu tinha praticamente tudo fechado com o Betis, e bom, estou feliz de estar aqui, num lugar onde tenho muito carinho das pessoas. É um clube que gosto muito”.
Balançou com a oferta do Bayern?
“Balançou, sim. Falar que “não” é mentira, porque é um grande clube. Entramos em contato ali, mas, como eu disse, já estava 95% fechado com o Betis, então o caminho estava bem andado”.
Você não quis entrar muito na expressão “inferno”, mas, em todo caso, te pergunto então sobre o “céu”. Como foi ter atingido o “céu”? Ou seja, a concretização do acerto com o Betis…
“É a resiliência, você persistir, acreditar naquilo que está trazendo coisas boas para você, para a sua família, para o seu irmão. Estou sempre em contato com ele (irmão), a gente está sempre conversando. Ele sempre me fez olhar o lado bom das coisas. Sabíamos que seria uma negociação muito difícil, desde quando estávamos de férias no Brasil. É a vida, a vida é assim. Passei momentos ali (no Manchester United) que me senti até por algumas pessoas um pouco desrespeitado, mas faz parte da vida. Hoje estou aqui, há situações que têm que estar no passado”.
Você chegou a mencionar o Bayern de Munique, mas sei também de outros interessados e até outras propostas. O que abriu mão para fechar com o Betis?
“Eu tive alguns clubes, sim, interessados, mas muitos deles não foram para frente, muitos clubes não passaram da conversa. A parte financeira é importante, mas a minha felicidade… eu sei o tanto que o meu filho, a minha filha e a minha esposa são felizes aqui. Inclusive, antes de fechar com o Betis, a minha esposa e os meus filhos já estavam aqui, porque a gente tem casa em Sevilha, as coisas e tudo. Quando a gente estava ainda no Brasil, de férias, o meu filho sempre perguntava quando a gente voltaria para a Espanha. Tomei a decisão com base na minha felicidade, e essa felicidade envolve a felicidade da minha família, dos meus filhos. Foi a decisão certa”.
A maior novidade aqui, então, é que a sua família já estava em Sevilha, todos à espera do acerto. Houve muita confiança no acerto, muita esperança…
“Sim, porque surge o interesse… é uma decisão que temos que tomar em conjunto também, porque isso envolve o dia a dia, isso envolve como eles vão estar, se eles vão estar felizes ou não, e aqui é um lugar onde a gente se adaptou muito rápido. A gente gosta muito desse lugar”.
Você recentemente publicou um vídeo brincando com os seus filhos, e ali tive a imagem de um Antony muito mais maduro. Um Antony diferente, talvez. O Antony pai tem impacto no Antony jogador?
“Com certeza. Aquele vídeo, ele resume muito a minha vida. Quando estou em casa, são os meus filhos, eles são tudo para mim. Acabei de falar sobre decisões, e quando envolve filhos, eles são a minha prioridade. Me sinto hoje um pai muito melhor. Há processos na vida, momentos que passei, e quando está muito, muito, muito difícil, sempre olho para eles, é neles que busco forças. Primeiramente em Deus e depois neles também, porque tudo que eu faço, tudo que vou fazer daqui para frente, vai ser por eles”.
Se considera um exemplo para os seus filhos?
“Com certeza, com certeza. Eu quero ser o herói dos meus filhos, quero que eles me vejam como um exemplo. Por mais erros que já tenha cometido, isso faz parte da vida também. Os erros que cometi, eles me ajudaram a ser um pai melhor, a ser um homem melhor, então estou sempre querendo ser o maior exemplo para eles”.
Você, no começo da entrevista, falou que foi desrespeitado no Manchester United. Quem te desrespeitou? Por quê?
“Olha, não sou um cara de me envolver em polêmicas, de citar nomes, inclusive não vou falar nomes de ninguém aqui. Mas acho que ali houve um pouco de falta de respeito, um pouco até de falta de educação também, de ninguém te dar um um bom dia, um boa tarde. Nem isso teve. Mas, enfim, isso está no passado, não vou dar muita corda para essas coisas. Agora estou aqui, no Betis, estou vivendo aqui, isso para mim é o mais importante”.
Por que as coisas não funcionaram bem no Manchester United?
“Eu sou homem de assumir as minhas responsabilidades. Acho que o extracampo me afetou muito, no meu rendimento. Sei do meu potencial, sei das minhas qualidades, não joguei uma Copa do Mundo à toa, não voltei para a seleção à toa. Assumo as responsabilidades também de não ter dado certo, não ter rendido como queria. Mas sempre tento enxergar o lado bom das coisas, ter passado por todo esse processo, esse tempo no United, foi necessário passar por isso para me enxergar. Talvez, se chegasse já explodindo, poderia me perder um pouco mais lá na frente. Sou muito grato a Deus por me fazer voltar à realidade, de ver de onde saí, das coisas que abri mão e das coisas que perdi. Um exemplo: perdi os primeiros passos do meu filho, porque estava longe”.
Esse Antony com tamanha autocrítica surgiu agora ou sempre foi assim?
“Sempre existiu. Sempre me cobrei muito. Inclusive, sou muito grato a Deus pela minha família. A minha família sempre me puxou: é aqui, olha de onde a gente saiu, olha o que a gente passou para estar aqui vivendo tudo isso. Quando estava muito bem ou quando estava nos momentos mais difíceis, a minha família sempre me fez enxergar isso: está difícil, mas estava mais difícil na favela, quando você dormia no sofá, as coisas que você passava, então vamos começar a enxergar o lado bom, olhar para a vida que você está dando para a sua família. E eu começava a enxergar isso…”
Costuma colocar para os seus filhos as suas dificuldades na infância? Como aprendizagem…
“Coloco muito, porque, graças a Deus, hoje o meu filho e a minha filha têm uma condição totalmente diferente da minha. São pequenos ainda, meu filho vai fazer seis anos em novembro, a minha filha tem um aninho e três meses. Quando estiverem maiores, vou mostrar mais para eles: hoje vocês têm essa oportunidade, porque eu passei tudo aquilo, tive que abrir mão de muita coisa para estar dando um futuro melhor para vocês. Vou sempre carregar o meu passado comigo, que é a favela, onde aprendi muito. Quando eles estiverem maiorzinhos, vou mostrar o que eu passei lá atrás”.
Pensa sempre na quantidade de pessoas que ajudou a transformar a vida?
“Com certeza, penso nisso. Sei como é morar na favela, sei como que é sofrer um pouco ali, as coisas que eu via no dia a dia. Não é fácil para ninguém, e eu me sinto muito feliz de poder, através de mim, através da minha vida, através da minha história, ajudar muitas pessoas. Ver que é possível, sim, os sonhos se realizarem. Falo por mim, sei o quanto é difícil ter uma oportunidade, sobretudo quando você vive lá, e hoje tendo essa oportunidade de estar aqui, de estar feliz, de estar jogando uma Copa do Mundo, de estar na seleção, de ser espelho para muitas crianças que vivem lá. Para mim, é muito gratificante”.
Não vou perguntar propriamente de “arrependimentos”, mas mudaria algo na passagem pelo Manchester United?
“Olha, acho que não, porque, como eu disse, tudo tem um porquê. Se eu fui para lá (Manchester United), foi porque Deus quis que eu estivesse lá, e aprendesse lá, as coisas que passei lá. Hoje me sinto um homem muito melhor, me sinto um pai muito melhor também. Antes de fechar com o United, sim, estive quase perto de fechar com o Liverpool. Tudo tem um porquê, os caminhos foram para lá, as coisas aconteceram lá. Não olho só o lado negativo do que vivi lá, porque lá conquistei títulos também, lá tive grandes experiências. Então, não me arrependo”.
Pesou muito a “mochila” nas costas de ser um jogador de 100 milhões de euros?
“Eu sabia da responsabilidade que teria por causa desse valor, só que sabia também que havia feito por onde para merecer isso. Procurava não olhar para isso, procurava não focar nisso. Como disse antes, acho que muitas coisas extracampo me prejudicaram bastante, e acabei não rendendo aquilo que poderia render”.
Teve uma saída conturbada do Ajax e agora também no Manchester United. Não acha que essa “imagem” pode te prejudicar?
“Não, acho que não. Estava conversando até com meu irmão, esses tempos atrás, acho que quando a gente estava na própria Inglaterra. Na minha vida, sempre foi assim, foi sempre de última hora, sempre foi muito difícil. Acho que desde as categorias de base, quando estava na lista de dispensa do São Paulo, e ali acabei não saindo, depois subia para o profissional, descia de novo. Então, na minha vida, sempre foi assim, sempre foi muito difícil, mas Deus sempre me guiou para o caminho certo”.
Como explicar essa atmosfera tão positiva no Betis? O que o clube já significa para você?
“Sempre resumo o Betis em um sentimento de muita paixão, desde quando cheguei aqui, todo o carinho que recebi, e, claro, fiz por onde também. Desde o meu primeiro dia, trabalhando muito pra poder me encontrar de novo, e me encontrei aqui. É onde sou muito feliz, onde fiz um resto de temporada passada muito bom. O carinho que tenho por esse clube, o carinho que eles têm por mim também. O dia a dia aqui é incrível, somos uma família. O clima é muito leve, de muita resenha, e é em poucos lugares que encontramos isso. O carinho é mesmo enorme”.
Você, que crê muito em Deus, acredita que nasceu para jogar e fazer história no Betis? Estava escrito?
“Creio que foi permissão de Deus, sim, porque ele sabe da felicidade que encontrei aqui. Por mais difícil que tenha sido a negociação, travada e tal, e eu estar aqui de novo, sempre bato na tecla de que tem um porquê de estar aqui. Hoje olho para o meu filho, vejo o meu filho muito mais feliz do que ele era antes, está sempre brincando. O tempo aqui ajuda, a comida ajuda, ele está sempre na piscina me chamando pra ir e tal. A minha família está feliz aqui”.
Como é acordar todos os dias como jogador do Betis? De pensar em todo o sacrifício que fizeram para tê-lo aqui, consequentemente a responsabilidade que carrega…
“Sou muito grato, primeiramente grato a todos aqui, em especial ao Álvaro, ao Mano e ao Ramon, e claro ao presidente também. Mas esses três nomes (da diretoria) que eu citei primeiro, que foram à Inglaterra, estiveram lá comigo, a dar o máximo esforço… é mesmo gratificante. Sempre que entro em campo, eu lembro dessas pessoas todas, que fizeram esse esforço enorme por mim. Durmo e acordo sorrindo. Todos os dias levo o meu filho à escola. Ele está sempre bem, sempre feliz, e isso pra mim é um momento muito especial, por mais simples que seja. Ele me dar um beijo antes de entrar na sala de aula, é um momento muito especial”.
Dá para comparar o beijo de um filho a um gol ou uma assistência?
“O gol e a assistência, é claro, são importantes, mas quando você tem o amor e o carinho de um filho, e ele te ver ali como um exemplo, um herói, isso não tem preço. É a coisa mais importante, mais valiosa da vida. É o combustível. Quando vejo que está difícil, olho para os meus dois filhos e falo: é por vocês. Tenho então que seguir em frente”.
Você, quando criança, tinha essa mesma relação com os seus pais?
“Ah, meus pais, meu pai e minha mãe sempre tiveram uma boa relação comigo. Passei por um momento difícil, quando tinha nove, dez anos, quando eles se separaram. Foi um dos momentos mais difíceis. Mas a minha relação com os meus pais sempre foi incrível. Sou muito grato pela educação, pelo exemplo que eles foram pra mim. Ali, no meio da favela, eles livraram o filho de muita coisa, então tem que dar os parabéns. Sei do esforço que eles fizeram, de saírem pela manhã e voltarem só à noite. Isso reflete, sim, na minha relação com os meus filhos, porque, quando você tem bons exemplos assim, quer fazer o mesmo como pai”.
Sobre histórias de vida: quero aprofundar um pouco mais a questão do acerto com o Betis. Quando o acordo foi fechado, às 3h da madrugada, estava acordado? Te acordaram?
“Nada. Estava todo mundo acordado, todos à espera da notícia, todo mundo ali ansioso também, de malas prontas. Na verdade, as malas estavam prontas já há dois dias. Foi uma negociação muito conturbada. Felizmente, deu certo. No final, deu tudo certo”.
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E você praticamente chegou ao Betis, voltou a Sevilha, nos braços do povo…
“Esse dia vai ficar marcado para o resto da minha vida, né? Eu não podia descer do carro para receber todos ali, porque eram muitas pessoas. Precisava ir ao CT, também precisava ao clube. Chegar ali, ver todas aquelas pessoas gritando o meu nome, é um momento que vai ficar marcado para o resto da minha vida. Sou muito grato pelo carinho de todos. Sempre quando entre campo, tento representar todos eles”.
Qual é a sua melhor versão? E o que significa a “sua melhor versão”?
“Olha, não vou dizer que é a minha melhor versão, porque, como tenho dito, sou um cara que me cobro bastante. Me cobro muito, e sei o quanto posso render mais para atingir o mais alto nível. Não vou dizer a minha melhor versão, mas, sim, que é uma das melhores. Porque tive momentos bons ali no Ajax também, tive um começo bom no Manchester United. No São Paulo, também tive momentos legais e bons. Aqui, no Betis, estou construindo essa melhor versão. Passo a passo. Estive muito bem na temporada passada, os números foram muito bons. Posso alcançar ainda mais objetivos”.
Acredita que hoje, com o investimento feito em você, entre outros aspectos, o Betis vai brigar mais lá em cima? Disputar títulos?
“A gente tem muitos bons jogadores aqui. Inclusive, na temporada passada, a gente ganhou do Real Madrid. Foi um jogo muito difícil, e a gente sabe da grandeza do Real Madrid. Empatamos com o Barcelona, que estava vivendo uma fase muito boa. Chegamos também à final da Liga Conferência. Então, isso mostra que, ano a ano, com mais jogadores, estamos criando um casco. É muito cedo para falar em títulos. Há grandes clubes do outro lado, mas nada é impossível. Creio que a gente está criando mesmo um bom casco, temos grandes jogadores aqui. Eu e o Isco, por exemplo, estamos sempre juntos, e isso é importante para crescermos”.
Confia que, no futuro próximo, quando olharem para esse Betis de 2025, 2026, 2027, o primeiro nome a saltar à mente do torcedor vai ser o seu? Uma espécie de símbolo do novo Betis…
“Isso, eu não sei, isso é uma questão mais do torcedor do Betis. Como disse acima, há jogadores aqui que têm uma história muito grande. Tem o próprio Bartra também, que é um jogador que atuou em grandes clubes, tem o Isco, dono de toda uma história, tem o Lo Celso também, entre outros jogadores. Eu vim para ajudar, voltei para fazer história também. Claro que sonho em conquistar um título aqui, sonho em entrar para a história do clube, porque isso é importante para o clube, primeiramente, e para mim também”.
Como vê a Copa do Mundo de 2026? Qual é a sua expectativa? Está perto ou está longe?
“É um sonho. Já disputei uma Copa do Mundo. Isso é a grandeza, representar o país, representar a nossa seleção, que é a maior do mundo. Disputar de novo seria um sonho. Estou aqui no Betis para jogar, para me destacar e para, se Deus quiser, disputar uma segunda Copa do Mundo”.
Você, que conhece muito bem o Neymar, acredita mesmo nele para a Copa?
“Cara, a gente torce para que ele se recupere. Ele se lesionou agora recentemente, então espero que tenha uma boa recuperação. A gente sabe da importância e da grandeza do Neymar, não só eu, mas todos os jogadores e as pessoas na seleção. Sabemos da falta que ele faz, então, creio que sim, que a gente vai estar lá. Que ele se recupere rápido e que esteja bem, porque vai nos ajudar muito”.
Você é daqueles que acredita que o Neymar ainda consegue jogar em alto nível na Europa?
“É que são tempos diferentes também, mas o Neymar foi o jogador mais talentoso que eu já vi, que eu joguei ao lado. Faz coisas com muita facilidade, é um grande jogador. É uma referência para mim. É um craque. Se der tudo certo, se estiver bem na Copa do Mundo, vai agregar demais”.
Por que, quando um jogador europeu dribla, quase sempre é lindo e maravilhoso, mas o mesmo não acontece quando é um brasileiro? Muitas vezes enxergam como desrespeitoso, desnecessário…
“São coisas que não concordo. Inclusive, quando eu dei aquele meu giro no Manchester United, saíram várias notícias e tal, e o próprio Neymar me escreveu, pediu para mandar o vídeo do lance para ele publicar e falou para que eu seguisse assim. É da nossa característica, como o Vinicius Junior também faz. Não posso deixar de dar um drible. Não vou parar de fazer o que eu sei, porque foram as coisas que eu fiz que me trouxeram até aqui”.
Mas em algum momento chegou a pensar em parar com isso? As críticas chegaram a te afetar?
“Depende também da situação. Não quero faltar com respeito a ninguém, mas, se uma jogada me pede aquilo, eu vou fazer, porque isso é meu, é a minha característica, é o drible. Sim, é verdade, tem coisas que podem passar um pouco do limite ali, mas eu sou um cara que sempre enxerga o talento, acima de tudo. Nada te proíbe de dar uma caneta, dar uma carretilha, dar um chapéu, alguma coisa assim. Temos que ser livres”.
Como vê a união da cultura brasileira com a cultura do futebol europeu do Ancelotti na seleção brasileira? É o mix perfeito?
“Tive a honra de estar na primeira convocação com o Ancelotti, foi incrível lá, a comissão técnica dele, a grandeza que eles têm também, a vontade que eles estão de ganhar uma Copa do Mundo. Isso tudo é muito nítido, então vejo que a gente tem grandes chances (na Copa do Mundo), e a gente vai estar brigando por isso. Esse mix aí vai ser muito importante para a gente ir em busca desse triunfo”.