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Dona do Ozempic recorre ao STJ para tentar manter patente

O laboratório Novo Nordisk, fabricante do Ozempic e Wegovy, buscou o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para tentar prorrogar a patente da semaglutida — princípio ativo das duas substâncias — além de 2026. O pedido já havia sido negado em instâncias inferiores e, desde abril, aguarda decisão da ministra Maria Isabel Gallotti.

O registro da patente da farmacêutica dinamarquesa expira em 20 de março de 2026. Desde 2021, a companhia tenta ampliar esse prazo. O principal argumento é o longo tempo de análise: o pedido foi apresentado em 2006 e só aprovado em 2019, o que teria garantido à empresa apenas sete anos de uso exclusivo, ou 35% do tempo previsto em lei.

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O Supremo Tribunal Federal (STF), na ADI 5529, definiu em 2021 que patentes no Brasil não podem ultrapassar vinte anos, o que anula a possibilidade de extensão automática que existia no artigo 40 da Lei de Propriedade Intelectual. A Corte considerou que essa prática favorecia monopólios e dificultava o acesso da população a medicamentos essenciais, como os que combatem o diabetes.

A Novo Nordisk defende que seu recurso não fere a decisão do STF, pois solicita “um ajuste pontual, não automático e proporcional do prazo de vigência de sua patente, justamente para que a empresa possa exercer seu direito constitucional de proteção”.

Fernando Canutto, advogado especializado, afirmou ao portal Uol que, embora o argumento seja tecnicamente possível, a consequência prática seria a manutenção do monopólio rejeitado pelo Supremo.

Além disso, a empresa propõe que o Judiciário avalie a adoção do chamado Patent Term Adjustment (PTA), mecanismo internacional para compensar atrasos na análise de patentes. Para Canutto, essa proposta esbarra em limites legais.

Novo medicamento WegovyNovo medicamento Wegovy
Wegovy começou a ser comercializado no Brasil em 18 de julho | Foto: Reprodução/Nova Nordisk

“O laboratório está querendo ajustar a estrutura da lei, mudar a estrutura da propriedade intelectual brasileira para compensar os atrasos do Inpi, o que o STF já rejeitou”, disse o advogado. “Depois da decisão 5529, não há uma base jurídica sólida para a criação desse mecanismo sem que haja uma alteração legislativa.”

Decisão sobre Ozempic terá impacto no SUS

De acordo com a Novo Nordisk, o PTA alinharia o Brasil a práticas adotadas em outros países. No entanto, Canutto ressalta que legislações estrangeiras possuem regras diferentes e que a adoção do PTA no Brasil exigiria ampla reforma legal. Ele aponta que a farmacêutica poderia buscar acordos administrativos com o Inpi ao invés de recorrer ao Judiciário.

O STF também levou em conta o impacto financeiro no SUS ao limitar a duração das patentes, já que a ausência de concorrência poderia elevar custos públicos. A Novo Nordisk rebate com a alegação de que “no Brasil, os preços de medicamentos são regulados rigorosamente pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, que estabelece limites para o preço de fábrica e o preço máximo ao consumidor”.

Canutto avalia que a exclusividade pode elevar custos ao eliminar a competição. Ele explica que as decisões judiciais tendem a priorizar o acesso da sociedade a medicamentos. O STJ, com histórico de julgar questões sociais, pode até analisar o caso, mas a tendência é seguir o precedente do STF e negar a extensão da patente.

Se o pedido for rejeitado no STJ, a Novo Nordisk ainda pode recorrer ao STF e alegar violação constitucional. No entanto, a reversão é pouco provável, pois exigiria mudança de entendimento do próprio Supremo.

No Brasil, o laboratório EMS já se prepara para lançar sua própria versão da semaglutida assim que a patente expirar, com expectativa de chegada ao mercado no segundo semestre de 2026. Paralelamente, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro reuniu um grupo para planejar o uso do medicamento na rede pública.


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