Durante a entrevista exclusiva concedida a Oeste, Eduardo Tagliaferro, perito em crimes cibernéticos e ex-servidor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revelou que o Superior Tribunal Federal (STF) solicitou o levantamento de dados dos manifestantes do 8 de janeiro. De acordo com Tagliaferro, cerca de 1,5 mil pessoas estavam na lista.
“Houve um pedido do STF para a realização de um levantamento de dados dos manifestantes”, relatou a Oeste. “Ficha civil, vamos dizer assim. A equipe de investigação produziu esses documentos. Foram semanas de trabalho. Cerca de 1,5 mil pessoas estavam na lista. Eram as pessoas que foram presas.”
O levantamento foi ordenado a partir da instauração do inquérito Nº 4.879/DF, por parte do ministro Alexandre de Moraes. O documento determinava que o TSE, sob a coordenação de Tagliaferro, deveria “utilizar a consulta e acesso aos dados de identiicação civil mantidos na Corte, bem como de outros dados biográficos necessários à identiicação e localização de pessoas envolvidas nos atos terroristas do dia 8 de janeiro”.
Uma lista de presos foi entregue para a confecção dos relatórios. que foram feitos um a um. Publicações em redes sociais também foram consultadas. O método utilizado para investigar os manifestantes é similar ao que foi usado para produzir relatórios sobre cidadãos que fizeram críticas a ministros do STF em Nova York.
Conforme uma das reportagens publicadas pela Folha de S. Paulo, Moraes acionou o juiz Marco Antônio Vargas, então no gabinete da presidência do TSE, para monitorar e produzir relatórios sobre os manifestantes. Eduardo Tagliaferro foi responsável por compilar as informações.
Nos relatórios produzidos pelo ex-assessor, é relatado que as publicações críticas aos ministros continham “ameaças” à segurança destes. Airton Vieira, juiz instrutor de Moraes, chegou a solicitar que Tagliaferro realizasse um relatório simples para “fins de bloqueio” no STF.
Como funcionava a produção de relatórios
Na entrevista a Oeste, Tagliaferro relatou que as ordens para a produção do material vinham do juiz auxiliar de Moraes no STF, Airton Vieira. “Eu só recebia ordens”, disse, ao ser interpelado sobre suas atribuições no TSE. “A interpretação dos relatórios, se havia crime ou não, quem decidia era o ministro. Eu não tinha poder de decisão nenhum.”
As ordens vinham apenas do juiz auxiliar de Moraes porque, segundo Tagliaferro, o ministro do Supremo é blindado. “Se falou comigo três, quatro vezes, foi muito”, revelou. “Então, as coisas vinham, não eram para mim. A assessoria monitorava, de fato, o que era o objetivo dela. Via tudo que estava acontecendo: movimentação em rede social, os principais alvos… Quando cheguei, os alvos já existiam e eram monitorados. Apenas dei continuidade.”
Quem é Eduardo Tagliaferro
Perito em crimes cibernéticos e ex-servidor do TSE, Eduardo Tagliaferro está no centro do escândalo que envolve o vazamento de mensagens de integrantes da Corte, divulgados pela Folha de S.Paulo. Segundo o jornal, Tagliaferro era responsável pela apuração, investigação e elaboração de relatórios encomendados pelo então presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes.
Citado em dez das 11 reportagens publicadas pela Folha, o ex-chefe da AEED passou de homem de confiança de Moraes a traidor do ministro, acusado de ser o responsável pelo vazamento das mensagens. Na quinta-feira 22, Tagliaferro depôs à Polícia Federal em São Paulo, em uma investigação aberta por ordem de Moraes.
Em entrevista exclusiva a Oeste, Tagliaferro nega veementemente as acusações de que teria vazado os dados de seu celular. Ele acredita que as informações podem ter sido coletadas quando o aparelho foi apreendido pela Polícia Civil de São Paulo, em 2023, ocasião em que foi preso por violência doméstica. Tagliaferro nega ter cometido o crime.
O leitor pode acompanhar a entrevista completa com Eduardo Tagliaferro ao clicar neste link.