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Embrapa prepara soja brasileira sob medida para a alimentação de sul-coreanos

Representantes de São Paulo da Korea Agro-Fisheries & Food and Trade Corporation (aT), empresa pública importadora de alimentos para a Coreia do Sul, visitaram ensaios de Valor de Cultivo e Uso (VCU) de materiais de soja convencional da Embrapa na Fazenda Dourados, do Grupo Recanto, em Paracatu, Minas Gerais, na última quinta-feira (28).

Atualmente, a Coreia do Sul consome cerca de 360 mil toneladas de soja por ano para uso alimentar.

Em 2024, a aT assinou um memorando de entendimento para o estabelecimento de uma parceria com a Embrapa Cerrados e a Fundação Cerrados para o desenvolvimento de cultivares de soja não-transgênica de alto rendimento que sirvam de base na fabricação de produtos alimentícios, principalmente tofu, pasta de soja fermentada (doenjang) e leite de soja.

Diversificação de fornecedores

A empresa coreana tem importado os grãos dos Estados Unidos e agora quer diversificar os fornecedores. Assim, a aT enviou, inicialmente, grãos de cinco linhagens para testes laboratoriais no país asiático.

“Produzimos tofu a partir das cinco amostras de soja brasileiras e avaliamos aspectos como rendimento, capacidade de coagulação e sabor. A partir dessa análise, foram selecionadas duas variedades que se aproximaram bastante do tofu que já é consumido no mercado coreano e que mostraram maior potencial de substituição da soja”, conta a diretora da empresa em São Paulo, Yousun Jung.

De acordo com o cronograma, serão enviados 700 kg de grãos desses materiais para testes industriais nas próximas semanas.

Soja conforme a demanda do cliente

O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, ressaltou que a parceria é importante por permitir que a pesquisa em melhoramento genético de soja convencional realizada pela unidade tenha a participação da indústria alimentícia coreana, que indicará as características mais demandadas.

“Com isso, estamos fazendo um melhoramento participativo, em que a seleção genética pelos caracteres agronômicos e de qualidade possam ser balizados por parâmetros industriais trazidos diretamente do cliente”, diz.

O chefe-geral lembra que é a primeira vez que a Embrapa Cerrados realiza esse tipo de trabalho. “Com a avaliação das linhagens pela indústria, estamos selecionando materiais que servirão diretamente a esse propósito especial que é a produção de alimentos para consumo humano.”

Cultivares selecionados pelos coreanos

Com 800 hectares de área irrigada, a Fazenda Dourados foi adquirida há pouco mais de dois anos pelo Grupo Recanto. Além da soja, devem ser cultivados feijão, milho, sorgo e algodão.

O ensaio de VCU na propriedade envolve 132 linhagens do programa de melhoramento genético de soja da Embrapa em fase de competição final entre elas.

Uma das cultivares já selecionadas pelos coreanos foi plantada em 0,9 hectare. Além disso, outras sete estão em fase de registro em uma área de 6 hectares sob pivô de irrigação, semeados em 3 de junho e com colheita prevista para o início de outubro.

Além de avaliar o desempenho agronômico, a ideia é enviar para teste grãos dos materiais que possam atender às exigências nutricionais do mercado coreano de alimentos, sobretudo quanto ao teor de proteína (que deve ser acima de 36%) e de ácidos graxos poli-insaturados linoléico (Ômega-6) e linolênico (Ômega-3).

Um dos sócios do Grupo Recanto, Frederico Elias vislumbra duas possibilidades com o ensaio: a multiplicação de soja convencional para consumo humano; e o potencial da soja plantada nesta época para a multiplicação de sementes, o que, conforme ele, geralmente não é feito.

Desenvolvimento da soja no inverno

O consultor Elmiro Queiroz explica que o manejo nutricional diferenciado, com adubação rica em silício, cálcio e boro, tem contribuído para o bom desenvolvimento das plantas mesmo no inverno, quando o fotoperíodo (período de incidência de luz ao longo do dia) é menor e, normalmente, a soja não cresce.

Segundo ele, as plantas agora estão na fase de enchimento de grãos, com um porte expressivo. “Os resultados preliminares mostram que é possível produzir uma soja altamente produtiva, que nos permite multiplicar os materiais mais rapidamente”, diz.

Ele acrescenta que o manejo nutricional utilizado, além de promover o crescimento celular das plantas, conferiu maior rigidez às folhas, o que favoreceu o controle de lagartas como a falsa-medideira e amenizou a pressão da mosca-branca. “Até agora, não fizemos pulverizações para lagartas nem para percevejos”, completa.

Para a diretora Yousun Jung, foi muito importante poder ver no campo as diferentes variedades e linhagens de soja desenvolvidas pela Embrapa. “Tinha curiosidade de entender como a instituição faz a gestão das sementes para pesquisa e me surpreendi ao saber que hoje existem mais de 130 em fase experimental. Foi uma experiência muito enriquecedora perceber como o trabalho da Embrapa é bem conduzido e feito em parceria com os produtores”, afirma.

Prazo para atendimento da demanda

O presidente do Instituto Soja Livre e da Fundação Cerrados, Luiz Fiorese, prevê que até meados do ano que vem será possível obter um volume de sementes suficiente para iniciar, na safra 2026/27, a produção grãos de dois a três materiais para atender à demanda coreana.

“É mais um mercado que estamos abrindo, ampliando o leque da soja convencional, que não se limita ao mercado europeu. Temos que aproveitar essa oportunidade”, destaca, lembrando que diversos países têm sido sobretaxados pelos Estados Unidos e estão buscando diversificar as importações.

Ele acrescenta que os materiais que obtiverem boa resposta produtiva na região de Paracatu, no noroeste mineiro, e atendam às exigências dos coreanos deverão ser adaptados para produção em outras regiões sojícolas brasileiras.

“Agora é obtermos as variedades para produzir e atender a um mercado que não é só a Coreia do Sul. Outros países asiáticos como o Japão também demandam esse tipo de soja”, observa.

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