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Energia certa, motivo errado – parte 2

Seja em situação de muito calor ou de frio extremo, a Europa cada vez mais sente o peso do custo da energia. A disparidade entre a agenda ambiental-climática e o desenvolvimento industrial, mais o conforto doméstico da praticidade do mundo moderno, estão mostrando que a realidade superou a fantasia. Dessa forma, como apresentado na primeira parte deste artigo, o Banco Mundial (BM), cujos Estados Unidos (EUA) são o principal acionista, acabou por revogar a proibição de financiar projetos de geração de energia elétrica de matriz nuclear.

A inicitiva teve, obviamente, a influência do presidente Donald Trump, por entender que essa matriz tem redução inútil e sem sentido de emissões de CO, tornando esse, um enlace geopolítico de peso.

O grande problema das usinas nucleares é o seu alto custo de instalação e não de geração. As pilhas nucleares, cujo material físsil é utilizado dentro dos reatores, alcançaram preços baixíssimos antes de 2020. Hoje, elas continuam com preços menores, sendo uma boa opção aos países em desenvolvimento, pois o BM tem a expectativa de que a demanda por eletricidade duplique nos próximos dez anos, especialmente nas nações em desenvolvimento. As estimativas de investimento para atender a essa procura de forma rápida, desde a instalação das plantas, aumento das redes de transmissão e redes de distribuição e montagem das estações transformadoras, devem sair dos atuais US$ 280 bilhões anuais para US$ 630 bilhões.

Assim, o BM deixou claro que, nessa escala, o investimento do setor privado passou a ser essencial na complementação dos recursos, por isso que se fez necessário apresentar alguns instrumentos de garantias ao capital investido, pois grandes fundos e parceiros de capitais não entrariam em nenhum empreendimento que, a qualquer momento, passasse a ser barrado por questões ambientais. Temos um exemplo disso aqui no Brasil no que se refere à usina hidrelétrica de Belo Monte.

O horizonte de investimentos do BM deixará de dar exclusividade às “energias renováveis”, mantendo ainda os recursos destinados às fazendas solares e aos parques eólicos, como também às usinas hidrelétricas, geotérmicas e aos geradores que utilizam o gás natural, aquele mesmo que a Petrobras amargou um prejuízo gigante, em 2015, pagando a parte de “gás rico” que vem junto ao gás queimado nas termelétricas brasileiras, no entanto, totalmente inútil para este fim.

A decisão do BM também favorece o cenário mundial para investimentos de amplo espectro no setor que ficou bastante retraído após o incidente ocorrido na usina nuclear de Fukushima, região costeira do Japão, em 2011, amenizando as barreiras que vieram no decorrer da história de acidentes nucleares, como o de Chernobyl, no norte da Ucrânia, ainda no regime soviético, em 1986, quanto o reator número 4 arrebentou e expôs o seu núcleo para a atmosfera, seis anos depois de outro acidente, dessa vez nos EUA, um pouco menos grave, quando o reator da usina de Three Mile Island, em 28 de março de 1979, fundiu-se parcialmente por problema de refrigeração. Curiosamente, o acidente ocorreu oito dias após o lançamento do filme norte-americano Síndrome da China que abordou um incidente análogo, decorrido por um problema no bombeamento de água pressurizada de refrigeração do circuito primário do hipotético reator.

Tecnologia e medidas de contenção são imperativas para as usinas nucleares e elas existem há bastante tempo, como o invólucro de concreto principal para conter um incidente mais grave, até mesmo projetos inusitados de equipamentos de desenvolvimento nacional, altamente seguros, como o reator de ejeção de núcleo, o qual despeja o material físsil em uma piscina de 100 metros de profundidade com água borada e com telas de contenção que permitem resfriar e moderar a reação, evitando um desastre como dos anteriores.

As usinas nucleares são consideradas como geração de energia efetiva (firme), pois fornecem uma base estável de eletricidade, assim como gás, óleo, carvão, geotérmica e hidráulica de montante (com represas em grandes corpos d’água, como Itaipu). São bem diferentes das alternativas, renomeadas erroneamente de renováveis, mascarando seu caráter intermitente de geração. Contudo, para efeito geopolítico, do mais esdrúxulo, diga-se de passagem, as nucleares foram enquadradas como “livre de emissões”, elegendo-as como “amigáveis ao clima”, em vez de promovê-las pela sua justa propriedade de alto desempenho.

Assim, sabendo-se da crescente demanda de energia elétrica e utilizando-se da falsa crise climática, aproveitou-se para se emplacar o negócio da energia nuclear, estabelecendo um novo paradigma, inclusive de monopólio energético que desponta no horizonte. Tudo isso já estava dentro do IPCC (o Painel do Clima da ONU), contudo, não no pessoal do clima propriamente dito, todavia, dentro do Terceiro Grupo de Trabalho, que se encarrega de trazer as “soluções maravilhosas” para o problema inexistente climático. Lá estão as indicações para eólica, solar e também do pessoal da nuclear.

Pouca gente soube que na conferência climática da COP28, realizada em Dubai, em 2023, mais de 30 países assinaram um compromisso em que cooperarão para que a capacidade de geração de energia nuclear global seja triplicada até 2050, de forma a cumprir as metas do fatídico Acordo de Paris, chancelado em 2015. De certa forma, isso forçou os governos a considerarem a aposta nuclear como a mais plausível, pois as opções de outras formas de geração efetiva que cumpram com o acordo são exíguas.

Vai se criando um funil que praticamente conduzirá a apenas uma solução, tendo em vista que as outras irão se limitando por outros fatores, sejam geográficos, naturais e, no caso do Brasil, os legais que há muito tempo apresentam o maior peso, pois são usados pelo Estado para a prática de terrorismo contra o cidadão e as forças produtivas do país, ao mesmo tempo em que a China começa seu projeto de outra usina hidrelétrica gigantesca, sem a Greta Thunberg e Marina Silva protestando. Curioso. Não?

É interessante que um tipo específico de modelo de reator foi bastante citado pelo presidente do BM, Ajay Banga. Trata-se dos pequenos reatores nucleares modulares que, segundo o presidente do BM, passariam a se tornar uma opção mais viável em atender um número maior de países ao longo do tempo. Essa visão também foi corroborada por fabricantes do setor nuclear dos EUA, argumentando que esses pequenos reatores modulares, por serem mais baratos, resolveriam os desafios da tal “transição energética”.

Não podemos esquecer que, nessa mesma tona, a China e a Rússia também despontam como concorrentes na fabricação comercial de reatores modulares, oferecendo opções para tentarem, não somente conseguir países consumidores, como também deterem o monopólio sobre eles. Essa disputa geopolítica entre estes jogadores vai se acirrar em futuro próximo, competindo no controle energético global.

Os financiamentos mais baratos oferecidos pelos governos continuam sendo cruciais para a construção de projetos de grandes usinas nucleares porque essas sempre apresentam atrasos e estouros de orçamento. É o caso do Brasil, por exemplo, onde a montagem de uma indústria pesada nuclear foi preparada, entretanto, pouco vingou em mais de 50 anos de projetos. Toda essa história pode ser lida detalhadamente, bem como os seus entraves e escândalos no próprio sítio da IAEA — Agência Internacional de Energia Atômica (International Atomic Energy Agency), o que é uma grande pena, porque a usina nuclear Angra 2, localizada no município de Angra dos Reis, RJ, Brasil, foi considerada uma das mais produtivas, seguras e confiáveis do mundo, segundo dados da revista Nucleonics Week.

Há alguns anos que venho alertando sobre essa questão em que a falsa crise climática serviria de pretexto para monopolizar ao máximo a geração de energia elétrica mundial, deixando a população e as forças produtivas dos países à mercê do novo foco dos oligopolistas globais. Na ocasião, citei que, muito em breve, estariam disponíveis os reatores de fusão nuclear. Há uma alta probabilidade que pequenos reatores deste tipo entrem em fase comercial em 20 anos e assim, com os “protocolos climáticos de banimento”, todo mundo terá que consumir a energia proveniente destas fontes, pagando altos royalties, é claro.

No momento, enquanto a tecnologia de fusão não chega, vemos essa sinalização, com o BM já apontando que os pequenos reatores nucleares à fissão já seriam uma boa “solução climática”, realizando a falsa transição energética, que no Brasil ainda é adjetivada de “justa” pela turma totalmente despreparada do desgoverno atual. Tudo indica que há uma pressa em se formar esses novos oligopólios energéticos mundiais, especialmente por causa dos movimentos da China e Rússia, portanto, enquanto aguardam a tecnologia de fusão, eles pretendem formalizar este objetivo com a tecnologia disponível despontada pelos reatores modulares. Para quem ainda tem dúvidas, observe atualmente as notícias em formato de promoção comercial. Elas dizem muito sobre o assunto de forma escancarada.

Nesta briga do domínio energético nuclear comercial, surgem os jogadores. De um lado, os países ocidentais que apresentam uma gama de reatores, mas ainda sem uma portabilidade e padronização mais específica entre eles. Do outro, Rússia e China se preparam para abocanhar essa fatia importante do mercado, tendo em vista que os países ocidentais precisam ser estúpidos em cumprir metas de emissões.

Claro que não poderíamos nos esquecer de outra desculpa que envolve sediar os núcleos das “inteligências artificiais”. Para isso, cogita-se cada vez mais que serão necessários enormes centrais de dados (data centers) para acondicionar seus processadores e bancos de memória. Tudo isso requer substancial quantidade de energia elétrica. Aqui, cabe uma discussão moral sobre o tema, pois nesses projetos, desvia-se um recurso caro e necessário da produção e bem-estar da sociedade para gastar em uma tecnologia bastante tortuosa que visa atender a interesses geopolíticos muito questionáveis, cujos objetivos são um tanto obscuros na linha do horizonte. O resumo é esse. Enquanto bancamos turbinas eólicas e painéis solares, o Banco Mundial suspendeu a proibição do financiamento da energia nuclear para impulsionar essa indústria por todo o mundo, reforçando esse setor estratégico e seus operadores. O Brasil já era para ter despontado nessa área há décadas, com toda a riqueza material e com o pessoal altamente qualificado que tivemos. Contudo, a vontade política de fazer do país uma potência, naufragou na baía dos títeres entreguistas que sempre tivemos no comando da nação.

Leia também: “O capitalismo não é a razão da sua infelicidade”, reportagem publicada na Edição 283 da Revista Oeste

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