As investigações sobre a queda do avião da Voepass ainda estão no início. A aeronave de modelo ATR-72 caiu na sexta-feira 9, na cidade de Vinhedo (SP). As autoridades que apuram o acidente ainda não conseguem detalhar precisamente o que causou o desastre aéreo, que matou 62 pessoas.
+ Leia mais notícias de Tecnologia em Oeste
Nenhuma hipótese pode ser descartada. No entanto, alguns especialistas destacam que imagens de testemunhas e condições climáticas locais demonstram que o congelamento das asas pode ter contribuído para o acidente. Pilotos que sobrevoaram a mesma rota confirmaram a presença de gelo.
Aviões comerciais, como o ATR-72, possuem sistemas antigelo. Eles inflam e quebram placas de água no estado sólido, acumulada nas asas. Contudo, dependendo do modelo e das condições climáticas, esses sistemas podem ser insuficientes.
A formação de gelo sobre o bordo de ataque da asa pode deformar o perfil aerodinâmico, causando a perda de sustentação e o stall.
O ATR-72 possui um sistema no bordo de ataque das asas chamado “de-icing boots”, que é uma espécie de borracha que ao inflar quebra o gelo.
Se não… pic.twitter.com/7Wn5RzHzvm
— Nihonzera (@nihonzera) August 10, 2024
Devido às características das asas do ATR-72 e à altitude mais baixa em que voa, ele está mais suscetível a formações de gelo. O manual do fabricante alerta que, em situações de gelo severo, o sistema de proteção pode falhar, e classifica essas condições como “de emergência”.
Manual de segurança e procedimentos
Segundo o manual, o gelo severo pode fazer o avião perder sustentação e girar, e a tripulação deve sair dessa condição imediatamente. Sinais sonoros e luminosos alertam a tripulação quando o desempenho do voo é afetado pelo gelo.
+ Conheça passageiros que não embarcaram no avião
Em nota, a Voepass afirmou que a aeronave estava com “todos os sistemas aptos” para voar.
“A aeronave PS-VPB, ATR-72, do voo 2283, decolou de CAC sem nenhuma restrição operacional”, informou a companhia, em nota. “Ela estava com todos os seus sistemas aptos para a realização do voo.”
Explicações de especialistas
O professor da Universidade de São Paulo (USP) James Waterhouse, do departamento de engenharia aeronáutica, explicou de que forma o gelo pode afetar o funcionamento do sistema.
+ Avião passou por várias manutenções antes do acidente
“O que acontece é que existem duas formas de gelo”, começa a explicar o professor, em entrevista à TV Globo. “Uma das formas, a gotícula de água, está super resfriada e, quando ela bate no bordo de ataque, ela imediatamente congela. E outras gotas que estão à frente vão fazendo a mesma coisa. Então a formação de gelo é muito rápida e cria-se uma crosta de gelo, uma camada que acaba com o fluxo aerodinâmico da asa.”
Condições climáticas e o acidente
O avião da Voepass sobrevoava Vinhedo a uma altitude de 5,1 mil metros, onde havia relatos de gelo severo. Meteorologistas estimaram uma chance de 35% de haver gelo na região. O acidente resultou na morte de 58 passageiros e quatro tripulantes.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica, iniciou uma investigação e deve divulgar um relatório preliminar em 30 dias. No domingo 11, o órgão informou que conseguiu extrair o conteúdo das duas caixas-pretas.
Leia também: “A verdade sobreviveu”, artigo de Augusto Nunes publicado na Edição 228 da Revista Oeste