Há um instante em que o homem do campo, cansado, encosta o olhar no horizonte e escuta o rumor do próprio silêncio.
Ali, entre o pó e o céu, mora a essência do agricultor brasileiro — esse ser que aprendeu com a terra a arte de recomeçar.
Porque o tempo, para ele, não é linha, é ciclo.
Um dia o sol queima, no outro o granizo fere. A seca castiga, a enchente leva.
Mas, mesmo quando o chão parece negá-lo, ele insiste — e planta.
Planta fé, planta força, planta o amanhã de um país inteiro.
Enquanto o mundo fala em sustentabilidade, ele a pratica sem discurso:
guarda rios, protege nascentes, cuida da mata que respira dentro da fazenda.
Defende, com o próprio suor, o equilíbrio que os outros só mencionam em relatórios.
E, no entanto, é vigiado, cobrado, julgado — quando merecia ser celebrado.
Sem seguro, sem crédito, sem guarida,
enfrenta o risco e o clima como quem enfrenta o destino: com dignidade e resiliência.
O governo promete, a chuva atrasa, o preço cai — e ele segue.
Segue porque entende que parar seria trair a própria natureza.
O agricultor é o verdadeiro estoico da terra:
sabe que não controla o céu, mas controla a si mesmo.
Sabe que a colheita é incerta, mas a esperança é perene.
E nessa fé silenciosa constrói o milagre cotidiano de alimentar o mundo.
Ele é o guardião invisível do Brasil real —
aquele que não vive de aparências, mas de propósito.
Que mede o tempo não pelo relógio, mas pelo nascer do sol e o brotar da semente.
E se o país um dia compreender sua grandeza,
talvez entenda que o verdadeiro progresso nasce do barro,
e que o homem que planta, em silêncio, é quem sustenta o futuro.


*Pedro Loyola é coordenador executivo do Observatório do Seguro Rural da FGV Agro.
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