
Após o encerramento da COP30, realizada em Belém, especialistas se reuniram em São Paulo para analisar o papel do Brasil na agenda climática global e os caminhos da nova pauta agroambiental até 2026.
O debate destacou que o agro voltou ao centro das discussões internacionais e que a agricultura tropical passou a ser reconhecida como parte da solução climática,e não apenas como fonte de emissões.
De acordo com o head de sustentabilidade do Itaú BBA, João Adrien, embora a COP nem sempre entregue avanços concretos nas negociações formais, o evento vem ganhando força.
“Se pensarmos somente na parte da negociação, ela acaba frustrando, mas a COP, vista sobre a perspectiva de relacionamento, novos negócios sendo gerados, fundos sendo apresentados, e assim por diante. Isso tem trazido para discussão uma grande esperança e também grandes oportunidades”, afirma.
Segundo Leonardo Munhoz, as regras obrigatórias estão cedendo espaço para declarações políticas, o que amplia o papel do soft power (capacidade de influenciar por meio de diálogo e parcerias). “Grandes decisões e tratados ambientais vieram de soft power. A declaração de 92 era isso, o Acordo de Paris e Protocolo de Kyoto. Então está acontecendo uma transformação do direito internacional para algo novo e o agro aqui ganha protagonismo”, conta.
Outro tema central foi a transição energética, o texto final da COP30 não mencionou a redução do uso de combustíveis fósseis, o que gerou críticas. Para o diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Eduardo Bastos, a transformação do setor é lenta e complexa, e não pode ser tratada como uma mudança imediata.
“Biocombustível é super importante, mas biocombustível hoje 3% da matriz global de combustível. Então, assim, achar que 3% vai virar 100 em um ano, não vai. Em lugar nenhum do mundo viraria”, afirma.
Ele lembrou que biocombustíveis representam apenas 3% da matriz global de energia e que não existe um “plano B” escalável para substituir petróleo, diesel, gasolina e derivados no curto prazo.
“Se a partir de amanhã não houver mais petróleo, gasolina, diesel e plástico, o que nós vamos fazer? A COP é construção de consenso. E construção de consenso dá trabalho”, conclui.
Com o Brasil em posição estratégica nas negociações climáticas e no fornecimento de alimentos ao mundo, o encontro reforçou que o país terá papel decisivo na construção da agenda agroambiental dos próximos anos, combinando produção, sustentabilidade e protagonismo diplomático.


