-
Kaique Lopreto, de El Alto (BOL), e Yasmin Torres, de São Paulo (SP)
9 de set, 2025, 02:00
Em seu último compromisso nas eliminatórias para a Copa do Mundo, o Brasil apenas cumpre tabela, mas ainda assim não terá vida fácil contra a Bolívia. Não pelo adversário em si, mas por ter que atuar na altitude do estádio Municipal de El Alto, o segundo mais alto do mundo.
Localizado a 4.090 metros acima do mar, na cidade de El Alto, próxima à capital La Paz, o Municipal de Villa Ingenio, como também é chamado, só perde para o Daniel Alcides Carrión, que fica em Cerro de Pasco, no Peru, a 4.378 metros sobre o nível do mar.
El Alto passou a ganhar os holofotes do futebol sul-americano a partir de 2024, quando foi liberado pela Conmebol para partidas do Always Ready na fase prévia da CONMEBOL Libertadores. Engana-se, porém, quem acha que ficar a mais de 4 mil metros fosse um impeditivo para receber jogos internacionais.
Na época da liberação, o clube lançou uma campanha para que conseguisse a aprovação de seu estádio, que teve que receber melhorias impostas pela entidade, como a troca da grama sintética por natural, além de um novo sistema de iluminação e obras estruturais.
Hoje, a arena conta com capacidade para 25 mil torcedores e tem estampada em sua fachada um lema do futebol boliviano: ‘‘Se juega donde se vive” (“Se joga onde se vive”, em tradução livre).
El Alto já foi palco de tragédia
Inaugurado em 2017 pelo então presidente Evo Morales, o El Alto foi palco de uma tragédia dois anos depois, quando o árbitro Víctor Hugo Hurtado morreu ao apitar uma partida entre o mandante Always Ready contra o Oriente Petrolero, pela primeira divisão do campeonato nacional.
O profissional de 32 anos caiu desacordado no início do segundo tempo e foi levado a um hospital local. O jogo, inclusive, que estava empatado em 0 a 0 na hora do episódio, seguiu até o apito final e acabou com goleada do time da casa por 5 a 0.
De acordo com a autópsia, divulgada pelo jornal ”Opinión”, Hurtado sofreu um infarto agudo do miocárdio, que provocou a falta de oxigenação no cérebro e, consequentemente, um edema. Na época, a tragédia reascendeu a plêmica sobre a disputa de jogos nessas condições. A Federação Boliviana de Futebol garantiu, porém, que a altitude não influenciou na morte do juiz.
A ESPN conversou com o ortopedista Danilo Bordini Camargo para esclarecer o assunto. De acordo com o médico, alguns impactos causados pela altitude no organismo podem, de fato, levar ao óbito.
”Em altitudes elevadas, o indivíduo que não está adaptado pode sentir falta de ar, devido à baixa concentração de oxigênio no ambiente. Este oxigênio mais escasso leva a uma baixa oxigenação do sangue, o que faz com que o coração comece a bater mais rápido e mais forte, aumentando a pressão arterial, podendo gerar também um vasoespasmo (contração temporária das artérias do coração)”, explicou.
”Uma outra alteração encontrada é o aumento da viscosidade sanguínea devido a maior produção de hemoglobinas pelo organismo, na tentativa de compensar os baixos níveis de oxigênio. O aumento da hemoglobina pode tornar o sangue mais viscoso e com isto favorecer a formação de coágulos ou trombos, que podem ocluir uma artéria e ocasionar o infarto, por exemplo. Estes fatores associados, podem levar ao infarto do miocárdio. Contudo, diversos outros fatores estão envolvidos na ocorrência desta fatalidade”, completou o especialista.
O Brasil terá uma missão bem difícil diante da Bolívia por conta da altitude. Além disso, o rival da amarelinha ainda tem chance de garantir vaga na repescagem da Copa do Mundo.
Para isso acontecer, é preciso vencer e torcer para a Venezuela não bater a Colômbia.