Há 50 anos, exatamente em 15 de junho de 1975, Pelé começava sua trajetória no Cosmos, o time de Nova York que fez o “soccer” ser relevante de verdade pela primeira vez nos Estados Unidos, hoje palco do Mundial de Clubes.
Sobram histórias de glamour de Pelé na metrópole americana, com suas festas em boates de Manhattan e casa cheia no estádio gigante no mesmo lugar que é hoje o MetLife Stadium, o principal palco do torneio da Fifa.
Mas a largada do maior jogador na história nos EUA começou em um estádio que, dependendo do interlocutor, era uma “Capela Sistina” do futebol ou um campo em “ruínas, uma masmorra de Roma no ano 100”.
O campo em que Pelé estreou no Cosmos fica na Ilha de Randall, localizada no East River, bem próximo de três das cinco grandes regiões de Nova York: Manhattan (na empobrecida área do Harlem), no Bronx (sua parte sul) e Queens.
Faz parte de um enorme parque, que tem também campo de golfe e inúmeras áreas de lazer.
O estádio, então com o nome de Triborough Stadium, foi inaugurado em 1936. E, antes de Pelé, teve outra lenda do esporte trabalhando nele. Jesse Owens, a maior estrela da história do atletismo, competiu ali em 1936, antes da Olimpíada de Berlim, quando calou os nazistas com quatro medalhas de ouro.
Também abrigou jogos de futebol americano.
Depois, com o nome de Downing Stadium, virou a casa do futebol, ou soccer, em Nova York. Em 1975, quando o Cosmos começou a contratar grandes estrelas do futebol, era a principal opção do time para mandar seus jogos, antes da mudança para o estádio onde é hoje o MetLife.
Para Clive Toye, diretor-geral do Cosmos e um dos principais responsáveis por tirar Pelé do Santos, o camisa 10 faria sua estreia em uma arena de primeira. “Michelangelo teve sua Capela Sistina. Pelé tem a Randall’s Island”, disse.
Mas quem conhecia de perto sabia que o estádio não era nada de maravilhoso, como relatou o “The New York Times” em matéria publicada em 2023. O jornal diz que Pelé até ameaçou não jogar.
Isso por que ao pisar antes do jogo descalço no gramado, viu seus pés ficaram verdes. O Rei se assustou e achou que aquilo poderia ter sido causado por fungos. “Este será meu último jogo pelo Cosmos”, ameaçou Pelé.
Mas o verde nos pés tinha outro motivo. O gramado do Downing Stadium era um verdadeiro pasto. Para atenuar o vexame, e melhorar a imagem do campo para as câmeras, funcionários do Cosmos passaram os dias antes dos jogos em busca de uma tinta verde que deixasse o gramado com aparência melhor.
Segundo o Times, o Downing Stadium era uma “atrocidade, uma relíquia da era da Grande Depressão Americana”. E o jornal relatou que Charlie Martinelli, o funcionário do Cosmos responsável pela logística do time, chamava o estádio de “uma masmorra, em Roma, no ano 100”.
No dia da estreia de Pelé, mais de 300 jornalistas de todo o mundo foram ao estádio. Nas arquibancadas, mais de 20 mil pagantes. O Rei, no empate de 2 a 2 contra o Dallas Tornado, fez um gol e deu assistência para outro.
Com o passar do tempo, o estádio foi ficando abandonado, até que foi demolido, em 2002. No seu lugar, foi erguido uma arena moderna, mas com capacidade para apenas 5 mil torcedores, focada mais em competições de atletismo.
Só que a memória de Pelé e do Cosmos não foram esquecidas.
“Temos várias fotos de Pelé espalhadas pelos escritórios do Estádio Icahn e até algumas bolas de futebol autografadas de quando Pelé visitou o estádio em meados dos anos 2000. Também temos uma placa do NY Cosmos muito grande no escritório. Embora não haja planos atuais para homenagear Pelé, reconhecemos seu impacto no futebol e temos a sorte de ter a oportunidade de prestar homenagem à lenda do esporte”, explica Lou Vazquez, diretor do Estádio Icahn.
O futebol voltou a entrar na pauta do campo da estreia de Pelé no ano passado, quando o Grupo City, dono do New York City, doou US$ 3 milhões para reformas no estádio. E passou a mandar jogos do seu time B no campo que lançou Pelé – serão quatro na temporada de 2025.
“A doação foi destinada à reconstrução do campo central do Icahn para acomodar um campo do padrão MLS/FIFA. Toda a superfície de grama do campo original do Icahn foi removida e cerca de 8.200 metros quadrados de grama Kentucky Bluegrass foram instalados, os quais agora são mantidos em padrões profissionais, entre outras comodidades”, diz Peter Hunter, chefe de operações do Randall’s Island Park Alliance, que administra o estádio.
E eles têm planos para 2026, quando a Copa do Mundo de seleções será disputada também nos Estados Unidos.
“A Aliança está entusiasmada em receber outros times ou clubes para jogar no Estádio Icahn em 2025 e diante. Prevemos usar o campo com mais frequência em 2026, quando a Copa do Mundo está programada para acontecer em Nova York. Agradecemos todas as oportunidades de expandir a experiência de futebol de alta qualidade que existe no Estádio Icahn e que era um elemento essencial do estádio na época em que Pelé jogava no Downing Stadium”, diz Hunter, esperando que o campo possa ser centro de treinamento de alguma seleção no Mundial.