O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou nesta sexta-feira, 20, a imposição de sanções a um indivíduo, oito empresas e um navio, como parte de uma ação para dificultar o desenvolvimento de armamentos pelo Irã. Segundo o comunicado oficial, os alvos da medida estariam envolvidos na aquisição e envio de “maquinário sensível” à indústria de defesa iraniana.
A embarcação Shun Kai Xing, de bandeira panamenha e operada por empresas sediadas em Hong Kong e Singapura, transportava equipamentos destinados à Rayan Roshd Afzar Company (RRA) e à Towse Sanaye Nim Resanaye Tarashe, duas firmas iranianas ligadas ao setor bélico.
A operação é parte da implementação do Memorando Presidencial de Segurança Nacional nº 2, que determina a contenção das capacidades de mísseis e de armas do Irã e o enfraquecimento do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês).
De acordo com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, “os EUA continuam determinados a interromper qualquer esforço do Irã para obter tecnologia sensível de uso dual, componentes e maquinário que sustentam os programas de mísseis balísticos, veículos aéreos não tripulados e armas assimétricas do regime”.
+ Leia mais notícias do Mundo em Oeste
A ação foi realizada com base na Ordem Executiva 13382, que visa a sancionar proliferadores de armas de destruição em massa e seus meios de entrega. Bessent acrescentou: “Temos sido claros: aqueles que viabilizam esses esquemas serão responsabilizados”.
O governo norte-americano destacou a atuação do conglomerado Rayan Fan Kav Andish, identificado como controlador de diversas empresas de alta tecnologia, como a RRA, que desenvolve componentes técnicos para o programa de drones do IRGC. Entre os executivos citados como responsáveis pelas atividades estão Mohsen Parsajam, Farshad Hakemzadeh e Seyyed Reza Ghasemi.
Além disso, Mohammad Rezai, diretor-adjunto da Organização de Pesquisa e Autossuficiência da Força Aeroespacial da Guarda Revolucionária, também figura entre os alvos, por sua atuação direta em pesquisas e testes de mísseis balísticos.
A RRA, segundo o Tesouro, já havia sido sancionada em 2017 por oferecer “apoio financeiro, material, tecnológico ou outros serviços” ao IRGC. Outras entidades e indivíduos vinculados à organização também já constavam na lista de designações anteriores.
Leia mais:
EUA miram rede logística internacional ligada ao Irã
As sanções também atingem empresas envolvidas na logística e transbordo da carga sensível. O navio Shun Kai Xing, registrado pela Unico Shipping Co Ltd (Hong Kong), foi utilizado no final de 2024 para transportar equipamentos que seriam entregues às empresas iranianas.
O Tesouro afirma que a Unico Shipping tentou “ofuscar os clientes iranianos por meio da falsificação da documentação de embarque”, com a intenção de facilitar o envio ao porto de Bandar Abbas, no Irã.
Segundo o relatório, a carga incluía itens enviados pela Futech Co Limited (China), especializada em máquinas de corte eletrônico e peças de circuito integrado, além da Dongguan Zanyin Machinery and Equipment Co Ltd, que também forneceu componentes à RRA.
O navio era operado pela honconguesa Athena Shipping Co Ltd e teve a coordenação do frete a cargo da singapurense V-Shipping PTE LTD, revelada como ciente das sanções em vigor e dos destinatários envolvidos. A chinesa Shenzhen Xinxin Shipping Co Ltd foi mencionada como participante ativa na tentativa de ocultar a origem e destino reais da carga.


O comandante do navio, o cidadão chinês Zhang Yanbang, teria “removido RRA e Towse Sanaye Nim Resanaye Tarashe como consignatários da carga” em documentos alterados. Também participou da operação a empresa turca Edisa Dis Ticaret Limited Sirketi, envolvida na tentativa de encobrir o destino da remessa.
Com a nova rodada de sanções, todos os bens e interesses das pessoas e empresas designadas que estejam nos EUA ou sob controle de cidadãos norte-americanos estão bloqueados. Além disso, qualquer entidade que tenha 50% ou mais de participação de um ou mais sancionados também será automaticamente incluída.
O Tesouro esclareceu que, salvo autorização específica, cidadãos e empresas norte-americanas estão proibidos de realizar transações com os alvos das sanções. Instituições financeiras estrangeiras que participarem de operações com essas entidades poderão ser submetidas a sanções secundárias, o que pode incluir a proibição de manter contas correspondentes nos EUA.
As medidas fazem parte de um esforço contínuo do governo norte-americano para pressionar economicamente o Irã e seus aliados, e interromper o fluxo de recursos e tecnologia usados no desenvolvimento de armas e drones militares. Conforme explica o texto oficial, “o objetivo final das sanções não é punir, mas provocar uma mudança positiva de comportamento”.
Leia também: “O Brasil não está longe da fronteira da Faixa de Gaza”, artigo de Alexandre Garcia publicado na Edição 186 da Revista Oeste