Desde 2019 no Flamengo, Arrascaeta rapidamente se converteu em um ídolo da torcida. A idolatria não tem ligação apenas com os títulos, mas também por conta da relação cada vez mais estreita que o camisa 10 tem construído com a Nação.
Ex-companheiro e praticamente “irmão” do uruguaio no Cruzeiro, o seu primeiro clube no Brasil, o volante Ariel Cabral citou em entrevista à ESPN os motivos que fazem “Arrasca” seguir vestindo o manto rubro-negro, abrindo mão até mesmo da possibilidade de jogar no exterior.
Aposentado dos gramados desde 2023, Ariel falou da qualidade do camisa 10 rubro-negro em campo e, ao mesmo tempo, como o próprio clube faz o astro querer permanecer cada vez mais tempo por lá. E até brincou sobre uma possível aposentadoria no Flamengo.
“Sou suspeito para falar dele (Arrascaeta) porque sou amigo, praticamente família, as nossas famílias são muito amigas. Sempre gostei dele, o aprecio muito. É muito difícil você ver um jogador que mantenha essa qualidade, essa competitividade todos os anos, se superando, mostrando coisas novas a cada jogo. Tem jogo que você pensa ‘onde ele está? Não aparece’, mas é normal”, disse.
“Para mim ele é um diferencial, eu treinei e joguei com ele, e o mais importante que ele tem é a personalidade. Você vê os gols e o que ele faz, mas se você conhecê-lo, ele nas finais não vai se esconder, vai pedir a bola, vai querer ir para cima dos caras. O caráter dele é o que faz a diferença para os outros jogadores. Para mim ele está em um momento muito bom e agora é onde ele tem que mostrar que ele é o 10 do Flamengo”, prosseguiu.
“Ele poderia tranquilamente jogar na Europa, mas aí você pensa: está em um time gigante, o Flamengo é praticamente um time europeu, vamos falar a verdade. Às vezes é muito melhor do que outros times de lá. ‘Estou bem aqui (no Flamengo), me sinto bem, viu para a seleção’. Claro, em algum momento eu acho que ele pensou em ir jogar lá, tranquilamente poderia e pode jogar ainda, ele se supera ano a ano. O time do Flamengo é europeu, poderia competir em outras ligas fácil porque tem time com nome, tem clube, tem estrutura. Hoje em dia é um time europeu”, disse, falando sobre o futuro do uruguaio no Flamengo.
“Eu acho que ele vai se aposentar lá (no Flamengo). Se eles mandarem embora, ele fica lá (risos). Está muito bem, tem muita coisa para ganhar ainda. Claro que não é fácil jogar no Flamengo, para a torcida não importa se você é o Arrascaeta, Pedro, Gabigol, você tem que mostrar jogo a jogo, final de semana, a cada três dias. É estressante, é um país que tem um campeonato com muitos jogos”.
Ariel ainda lembrou da convivência com Arrascaeta no Cruzeiro e citou a timidez do meia uruguaio, que já vai se soltando aos poucos após após o longo período no Brasil, que teve início em 2015, meses antes de o volante também chegar à Raposa.
“Em 2015 em fui para lá (Cruzeiro) em agosto, e ele já estava no Cruzeiro há seis meses. Me apresentaram ele e eu o via nos treinos, bem tranquilo, fazia as jogadinhas dele e eu falava ‘quem é esse cara, esse craque, uruguaio?’. Depois ficávamos conversando com outros estrangeiros, mas era bem simples, não tinha essa, igual agora, não mudou nada. Mas era bem tímido, ele não queria falar com a imprensa, quando você vem de fora às vezes não se sente cômodo falando portunhol, falando castellano ou outro idioma, você fica um pouco fora dessas conversas”, lembrou.
“Mas ele cresceu muito, todo mundo cresceu junto. Eu acho que eu fiz a minha parte, conversávamos muito, viajámos juntos, tomávamos chimarrão toda hora. Além do futebol, que ele já era diferenciado, jogava muito bem. Ele é uma pessoa muito simples, gente boa, 10/10. Dentro de campo, ele agora sabe correr no campo, um jogador mais experiente, sabe aonde se posicionar. Ele é quase carioca, já não é nem mais mineiro. Antigamente eu falava ‘você é mineiro’. Uruguaio, mineiro e carioca. Mais brasileiro que uruguaio. Eu falo para ele ‘você vai sair daí?’, e ele fala ‘não, estou bem aqui’. Bom demais isso.”
E para o ex-meio-campista, Arrascaeta teria até mesmo uma chance na seleção brasileira, caso tivesse a nacionalidade. Mas isso não é possível por que o meia já defende o Uruguai há muitos anos.
“Ele com certeza teria oportunidade (de jogar na seleção brasileira). Depois você tem que ter uma consistência e uma regularidade, mas a oportunidade ele teria. É um jogador que vocês, culturamente, não têm. E eu não falo de qualidade, a gente sabe que o argentino, o uruguaio e o brasileiro são jogadores técnicos, tem muito jogador. Depois vamos discutir o caráter, o extracampo, a raça, mas tudo isso junto. E raça eu não falo de brigar fora do campo ou dentro, falo e aparecer quando o time precisa, que vai aparecer, vai pedir a bola, não vai se esconder. Mesmo se errar, tanto faz, ele vai pegar a bola e chamar a responsabilidade do jogo. Isso ele tem, sabe lidar muito bem com isso”, finalizou.


