Ex-zagueiro do Corinthians, Vilson foi um dos convidados especiais do programa MunDu Meneses desta semana. E lembrou de uma ingrata missão que recebeu durante o período em que foi gerente de futebol do Timão, cargo que ocupou por quase dois anos, até o fim de 2020.
Na volta aos trabalhos em 2020, quando Tiago Nunes assumiu o comando do Corinthians, Vilson foi o encarregado, à época pelo presidente Duilio Monteiro Alves, de anunciar que o meia Jadson e o volante Ralf estavam fora dos planos do treinador para a temporada.
O ex-dirigente afirmou que, entretanto, pensava que a dupla de veteranos – e que eram seus amigos – já sabia da decisão. Algo que ele só descobriu após fazer as ligações para cada um deles.
“Esse momento foi um dos mais delicados como gerente de futebol. Eu era o elo do dia a dia para linkar os departamentos, a linguagem dos atletas. Eu era um representante no dia a dia dos caras, muitos olhavam para mim e falavam, ‘Vilson, você consegue ver com o treinador se a gente consegue voltar após o jogo’. Eu era o chefe de delegação, na viagem os próprios seguranças falavam, ‘um jogador pediu para cortar o cabelo, vai vir um cabeleireiro aí, você libera?’, coisas mais tranquilas e assuntos pessoais dos atletas. Apagar os pequenos incêndios, probleminhas que tinham no departamento físico, da rouparia. Eu, com a linguagem dos caras, eles me respeitavam muito”, começou por dizer.
“Foi desenhada toda uma situação envolvendo os dois atletas, em termos de elenco, que eu não fiquei sabendo, eu não participei de algumas reuniões aonde já envolviam parte da diretoria, com o novo treinador, o que ia acontecer ou não. Eu simplesmente fui para as férias, eu não fazia parte de contratação, não era a minha função, a minha função era fazer um ambiente vencedor e que as coisas continuassem, motivando todo mundo no dia a dia. Faltando um dia para apresentar, o Duilio me liga e falou, ‘Vilsão, não estou conseguindo falar com os empresários dos atletas e nem com os atletas, eu preciso comunicar ao Ralf e o Jadson que não é para eles se apresentarem’. Eu falei, ‘como assim?’. ‘O treinador não quer’. ‘Mas nem apresentar? A gente não pode fazer isso’. ‘O treinador não quer, eles vão apresentar depois porque vamos ver o que vai acontecer, o treinador não quer de jeito nenhum'”, prosseguiu.
“Recebi ordem, dei a minha opinião, mas está acatado, veio do treinador. Eu não tinha intimidade com o Tiago Nunes ainda, só tinha encontrado ele uma vez só, no final do Brasileiro, em jogo contra o Fluminense ele foi na semana lá, o (Dyego) Coelho era o interino, eu bati um papo, depois ele entrou na sala com o Duilio e eu não vi o planejamento do ano, não participei”, disse Vilson, que contou os bastidores das ligações.
“Ligo para o Jadson primeiro. Só que o Duilo tinha falado para mim que os empresários já sabiam. ‘Jadinho, tudo bem, como você está?’. ‘Estou bem, e você?’. ‘Estou bem, irmão, estou para te dar uma notícia que não é muito legal, mas imagino que você já sabe’. E ele, ‘não, não estou sabendo’. ‘O treinador, nesse momento, ele não conta com você dentro do elenco. O seu empresário não falou nada? O Duilio me falou que o seu empresário já estava sabendo que vocês não iriam continuar na temporada, na característica de jogo do Tiago Nunes’. Ele falou ‘não estou sabendo, senão iria atrás de clube’. Aí caiu a minha ficha, quando você está sabendo já se movimenta. Ele falou ‘confesso que fui pego de surpresa, mas tudo bem’. Aí depois foi para as conversas grandes”, disse.
“Até hoje temos contato, claro, não ficou mágoa nenhuma, ele sabia que não fui eu, eu era o porta-voz em algumas situações. Foi a mesma coisa com o Ralf, desliguei o telefone, aquele sentimento difícil. Se fosse comigo, eu iria estar arrasado, e estamos falando de Jadson, ídolo na história do clube, ninguém vai apagar isso. E depois liguei para o Ralf, não estava sabendo. O Ralf nem voltou mais, o Jadson ainda ficou treinando em separado, ele acabou indo para o Athletico-PR, mas foi algo que me pegou bem de surpresa e que com certeza pegou eles de surpresa, foi algo bem delicado como gerente. Além de serem dois grandes amigos, são dois ídolos do clube. Já que não iria utilizar, tinha que ter tomado essa decisão antes, para eles se organizarem. O que foi passado é que não queriam nem no grupo.”
Enquanto Jadson foi logo em seguida para o Athletico-PR e se aposentou pelo Vitória, em 2022. Já Ralf, com 40 anos, ainda segue atuando e é titular absoluto do Vila Nova-GO, na Série B, depois de passar por Avaí e Cianorte.
