Ex-funcionários da Voepass relatam um ambiente de insegurança e pressão dentro da companhia aérea. Segundo depoimentos à revista IstoÉ, gestores da empresa ignoravam falhas técnicas das aeronaves e puniam os tripulantes que se recusavam a decolar com aviões em condições inadequadas.
Um dos casos mais graves envolve a aeronave ATR 72-500, de matrícula PS-VPB, que caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo, em 9 de agosto de 2024. As testemunhas afirmam que o sistema de degelo falhou durante um voo anterior ao acidente, mas a pena foi omitida no diário de bordo.
+ Leia mais notícias de Brasil em Oeste
Como resultado, a omissão impediu a abertura de um processo de investigação e permitiu que o avião voltasse a voar no mesmo dia. De acordo as informações, a aeronave pousou em Ribeirão Preto por volta da 1 hora da madrugada do dia 9, quando o piloto relatou verbalmente o defeito no sistema de degelo.
O avião passou por uma manutenção superficial no hangar até as 5h30, sem que a falha fosse formalmente registrada. Às 11h58, a mesma aeronave partiu de Cascavel, no Paraná, em direção ao Aeroporto de Guarulhos.
Durante o trajeto, enfrentou forte formação de gelo, perdeu estabilidade e caiu às 13h22 sobre o Condomínio Recanto Florido, matando os 62 ocupantes a bordo.


O relatório inicial do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, publicado em setembro, mostrou que a tripulação acionou o sistema de degelo várias vezes ao longo do voo.
Portanto, o equipamento deveria ter garantido a integridade da aeronave diante das condições climáticas. No entanto, a negligência não era um episódio isolado.
Luiz Almeida, que atuou como copiloto da Voepass de 2019 a 2025, afirmou que sofreu represálias por denunciar situações semelhantes. Ele contou que se recusou a voar com aeronaves que apresentavam falhas, como indicações de “itens no-go”, que tecnicamente impedem a decolagem.
+ Leia também: “Turbulência em voo nos EUA deixa 25 feridos e obriga pouso forçado”
Em resposta, a empresa o penalizava com escalas piores e longos períodos em stand-by. Além disso, um ex-mecânico da companhia, que preferiu não se identificar, afirmou que muitos funcionários realizavam a manutenção “na base da gambiarra”.
Segundo ele, o setor técnico operava com ferramentas precárias e, ao denunciar a falta de condições mínimas de segurança, os profissionais recebiam ameaças de demissão. A Voepass ainda não se manifestou sobre as denúncias.