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Ex-ministro da Agricultura critica Lula: ‘Estamos ficando isolados’

O ex-ministro da Agricultura Antônio Cabrera, que ocupou o cargo no governo Collor, criticou a condução do governo brasileiro frente ao aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos a produtos do Brasil, em especial o suco de laranja.

Em entrevista ao Oeste sem Filtro desta terça-feira, 29, Cabrera alertou para os impactos econômicos da medida e responsabilizou o governo Lula pela ausência de canais diplomáticos para negociação. Segundo Cabrera, o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros atinge em cheio a economia nacional.

“Exportamos para eles US$ 41 bilhões, ou seja, um pouco mais de 1%”, afirmou. “Então, para os EUA, de uma maneira geral, não somos tão importantes, mas para a nossa economia alguém precisa parar e fazer essa conta”. Ele destacou que os EUA são o maior importador do mundo e o segundo maior importador do mercado de agricultura.

O ex-ministro chamou atenção para o caso da laranja brasileira. “Quase metade do nosso suco é exportado para os EUA, um negócio acima de R$ 8 bilhões”, explicou. Segundo ele, o impacto pode ser severo, com a possibilidade de frutas apodrecerem no pé, já que “44% é a colheita dessa laranja e o transporte”, o que torna inviável até mesmo a doação do produto.

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Cabrera também criticou a diferença de tributação entre Brasil e EUA: “Se comprar essa laranja aqui em um supermercado brasileiro, aqui no Brasil, vou pagar 31,5% de impostos”, calculou. “Mas se eu comprar uma laranja lá nos EUA, você sabe quanto eu vou pagar de imposto? 1%.”

Perguntado sobre a condução do governo Lula, o ex-ministro destacou a necessidade de abrir um canal de negociação, “coisa que infelizmente o nosso presidente não fez”, ao associar o isolamento atual do Brasil à postura do petista.

“O nosso presidente declarou inclusive que ele só está conseguindo governar com o STF”, disse. “Essa é a razão do Brasil talvez ter sido um país que esttá ficando isolado nesses processos de negociações.”

Ao comparar o desempenho diplomático do Brasil com o de países vizinhos, Cabrera mencionou que “a Argentina conseguiu uma negociação onde 80% dos seus produtos vão entrar no mercado norte-americano sem nenhum tipo de tarifa”, enquanto o Brasil tornou-se o “alvo principal”.

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Sobre as consequências específicas para o setor de suco de laranja, Cabrera alertou que o produto é perecível e que “não tem como direcionar” para outros mercados com a mesma facilidade. “Estamos em plena colheita desse produto”, lembrou.

Ele classificou a ausência de diplomacia como fator agravante: “Essa conversa de várzea pelo lado do governo brasileiro vai custar principalmente para os trabalhadores, para famílias que poderão ficar desempregadas”.

Cabrera mencionou que o Brasil sempre foi um exportador relevante mesmo sem acordos comerciais formais. No entanto, enquanto os concorrentes avançam com tratados bilaterais, o Brasil teria ficado para trás.

“A agricultura norte-americana vai ter acesso ao nosso mercado de carne, ao nosso mercado de suco de laranja da Europa em condições muito mais favoráveis do que a nossa”, disse, em referência a um novo acordo entre EUA e Japão.

Perguntado sobre o prazo para evitar maiores perdas, especialmente com a colheita da laranja, Cabrera foi categórico: “Se a data de 1º de agosto for cumprida, no máximo de duas semanas”. Ele relatou a falta de estrutura para armazenamento do suco no Brasil e classificou a situação como um “desastre muito grande se alguma solução no curto prazo não for tomada”.

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Em outro momento da entrevista, o ex-ministro condenou a politização da crise. “O governo brasileiro, o presidente Lula, de uma maneira muito clara, não está discutindo a mensagem, está discutindo o mensageiro”.

Ele comparou a atitude do Brasil com a do México, que mesmo com governo de esquerda, firmou acordos comerciais com os EUA e “está literalmente tomando o mercado do suco de laranja brasileiro”.

Cabrera também criticou a escolha do vice-presidente Geraldo Alckmin para liderar negociações com os EUA e lembrou que ele representou o Brasil na posse do presidente do Irã. “Aí vamos nomear essa pessoa pra negociar com os EUA, há um simbolismo errado nisso”.

Por fim, o ex-ministro fez um apelo para que o governo reavalie sua política tributária interna. “Estamos pagando 31 vezes mais impostos sobre a comida aqui no Brasil do que se paga nos EUA”, afirmou, ao classificar essa tributação como uma “tremenda injustiça social”. Ele espera que a crise seja usada como oportunidade para “resolver algumas coisas” internas.

Cabrera encerrou com a defesa de que apenas o presidente Lula pode abrir um canal de diálogo eficaz com os EUA. “É ele que tem que fazer esse gesto, é ele que tem que abrir essas portas, porque isso vai ser um problema seríssimo para o Brasil.”

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