Em meio à disputa pelo comando da Bolívia, Jorge “Tuto” Quiroga, candidato da direita, enfrenta o segundo turno contra Rodrigo Paz em 19 de outubro, depois de ambos encerrarem a hegemonia do MAS, partido de Evo Morales e Luis Arce, nas urnas do domingo, 17.
Quiroga, que liderou o país entre 2001 e 2002 depois de suceder Hugo Banzer, aposta na recuperação econômica por meio de reformas liberais e na ampliação da cooperação internacional.
Ele ressaltou, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, a necessidade de acordos de livre comércio, dizendo ser fundamental repetir estratégias antigas para atrair investimentos e combater a inflação. O candidato à Presidência também alertou para o avanço do narcotráfico.
“Estamos exportando mais cocaína pelo Brasil do que gás”, disse Quiroga. “Aqui na Bolívia atuam o PCC e o Comando Vermelho. Eu quero fazer o primeiro acordo com a Polícia Federal brasileira para que tenhamos escritórios seus aqui na Bolívia, para cooperar com informação e logística.”
Críticas ao legado do MAS e propostas econômicas para a Bolívia


Sobre integração, vê vantagens no Mercosul em viagens e diplomas, mas classifica a Tarifa Externa Comum como “prisão comercial”.
O ex-presidente afirmou ter eliminado dívidas externas, priorizado investimentos sociais em municípios indígenas e ampliado mercados, como o da castanha amazônica na Europa. Criticou Morales por não investir em infraestrutura de gás, apesar do boom das commodities, o que teria levado à atual crise financeira.
Quiroga também defende acordos diretos com Ásia e Europa e aposta na exportação de lítio, quinoa, azeite de soja e carne, rejeitando protecionismo.
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Ele disse valorizar a democracia nas Américas e defendeu eleições livres na Bolívia, Venezuela, Cuba e Nicarágua. Reconhece o Brasil como líder regional e pretende participar da COP30 com propostas contra o desmatamento e de uso sustentável da Amazônia e do lítio.
Quiroga disse respeitar a democracia brasileira e prometeu trabalhar com qualquer governo eleito. Inspirou-se em Fernando Henrique Cardoso, a quem chamou de “maior sul-americano da história democrática da região”, afirmando que se alcançar parte do que o ex-presidente fez no Brasil já se dará por satisfeito.
Planos para industrialização e integração logística
Como metas imediatas, planeja criar zonas francas no altiplano boliviano para a produção de baterias, dispositivos eletrônicos e veículos, conectando-se às cadeias produtivas do setor automotivo brasileiro. Ele também citou o interesse em expandir a exportação de carne, buscando repetir o sucesso paraguaio.
Por fim, Quiroga projeta transformar a Bolívia em elo logístico regional, integrando o país aos oceanos por meio de tratados com vizinhos, tornando-se alternativa ao Canal do Panamá para o escoamento de mercadorias.
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Com 65 anos, Quiroga é engenheiro formado nos Estados Unidos e ex-funcionário da IBM. Conhecido como “Tuto”, ele já concorreu à presidência em cinco ocasiões e nunca esteve tão próximo de retornar ao cargo, depois de ter sido vice e sucessor do ex-ditador Hugo Banzer.