Corte cascão e camisa amarela com o número 9. Isso poderia se referir a Ronaldo, mas na verdade diz respeito a Yago Dora, que acabou de ser campeão mundial de surfe. O brasileiro, que disputou as WSL Finals como número 1 do mundo (herdando a lycra amarela que indica o líder do ranking), é fã de carteirinha do Fenômeno – e deve conhecê-lo em breve.
Yago é filho do também surfista Leandro ‘Grilo’ Dora, mas apesar da influência do pai, gostava mesmo era de futebol na infância. O garoto, natural de Curitiba, cresceu torcedor do Athletico-PR. O ídolo era o ex-atacante da seleção brasileira, que ajudou indiretamente na conquista do surfe.
“Há dois anos, eu mudei meu número para o 9 para fazer uma homenagem ao Ronaldo e ter essa mentalidade de ser o cara que define o jogo, que ganha título. É isso que eu tenho buscado nos últimos anos e agora tudo se encaixou”, contou o surfista em coletiva.
Após a conquista, Yago e Ronaldo Fenômeno começaram a se seguir nas redes sociais, e o craque o felicitou pela conquista. Agora, a equipe de R9 tenta marcar um encontro entre os campeões mundiais para que finalmente possam se conhecer. O corte cascão, inclusive, foi uma promessa de Yago para caso conquistasse o troféu.
Porém, essa não foi a única abordagem do surfista para levar o título. Teve muita manifestação e visualização. Em 30/01/2025, escreveu uma carta para si mesmo prometendo que seria campeão mundial: “esse é meu ano”. A técnica é utilizada por Yago desde 2017, quando conquistou vaga para a WSL da temporada seguinte, mas “foi a primeira vez que deu certo”, brincou.
Além disso, o atleta decorou cada detalhe do troféu e se imaginou repetidas vezes sendo coroado campeão em Fiji, como de fato aconteceu no último dia 1º de setembro. “O peso é bem maior do que pensava, achei que eu fosse levantar com uma mão e ficar bonitão na foto”, disse aos risos. “Visualizava bastante eu saindo do canal, comemorando com a equipe, pegando a bandeira… Isso tudo aconteceu e foi melhor do que eu imaginava”.
Outra estratégia buscando o título foi o fim da parceria com o pai Leandro. Eles trabalharam juntos na WSL de 2018 a 2024 e seguiram caminhos opostos para 2025. O filho avaliou que a separação trouxe a independência que há anos sentia que precisava e foi “essencial” para a virada de chave. O treinador continuou próximo, cuidando do australiano Jack Robinson, e chegou a romper a parceria no período de WSL Finals para torcer por Yago, já que ambos estavam classificados à fase decisiva.
“Foi muito legal a atitude dos dois de verem que era um momento delicado. Eu sou muito grato aos dois por terem tomado essa decisão”, falou o campeão em entrevista exclusiva à ESPN após a coletiva.
Planos para o futuro
A temporada de 2026 da WSL ainda não está fechada, mas já se sabe que haverá mudanças no regulamento, com um campeão por pontos corridos, agora sem a disputa das finals. Independente de como for, uma coisa é certa: Yago Dora vai voltar para defender o título.
Outro evento que já está marcado no calendário do campeão é as Olimpíadas de Los Angeles 2028. Yago admitiu que a classificação “está nos planos”, e o fato da disputa ser em Trestles, onde ele inclusive ganhou a etapa em 2025, é um incentivo. “Eu estou bem animado para pegar essa vaga”.
Contudo, Yago não pensa só nos resultados esportivos. O surfista reconheceu a responsabilidade que ser o melhor do mundo traz, uma vez que vira “um exemplo, um mentor”. Ele quer continuar mostrando uma imagem de “surfe, paz, amor, compartilhar os momentos bons com pessoas que a gente ama”.
Nascido em Curitiba, mas radicado em Florianópolis, ele foi recebido com festa na capital catarinense em seu retorno após a conquista da WSL. Yago é o primeiro campeão do sul do Brasil e celebrou o fato de poder “puxar a nova geração” de surfistas da região”. “Eu cresci me inspirando em pessoas de fora, então, ter alguém de casa para trilhar esse caminho para eles seguirem é muito legal”, admitiu à reportagem.
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O campeão voltou! Yago Dora é recebido com muita festa no aeroporto de Florianópolis após título da WSL
Surfista retornou ao Brasil após consagrar-se campeão em Fiji
A nova geração é o segredo para a continuidade da Brazilian Storm – apelido que representa a dominação brasileira, com 8 títulos nos últimos 11 anos – , segundo o presidente da WSL na América Latina, Ivan Martinho. “Tão importante quanto apoiar os atletas para que eles continuem brilhando é se preocupar com o futuro.
Quando um campeão ganha, tem crianças assistindo. Um menino e uma menina que viram o Yago podem se inspirar e quererem treinar”, disse à ESPN. Ele mencionou o Circuito Banco do Brasil como um dos torneios usados para impulsionar os talentos do futuro.
Antes, porém, da nova geração, ainda tem muito o que aproveitar dos brasileiros atuais. A tempestade “ainda está longe” de virar chuvisco na visão de Yago Dora.