Por Laila Bassam e Tom Perry
BEIRUTE (Reuters) – A ofensiva israelense contra o Hezbollah no Líbano renovou a tentativa de alguns importantes políticos libaneses de preencher o vácuo presidencial de dois anos, um esforço para reviver o Estado paralisado que lida com um crescente conflito.
O Líbano não tem presidente ou um gabinete totalmente habilitado desde outubro de 2022 devido a uma luta pelo poder na qual o Hezbollah desempenhou um papel importante. Junto com aliados, o grupo muçulmano xiita fortemente armado insistiu que o cargo, reservado para um cristão maronita, seja ocupado por seu aliado cristão Suleiman Frangieh.
Com o Hezbollah enfraquecido pela morte de seu líder Sayyed Hassan Nasrallah, a presidência voltou ao foco nesta semana, quando o presidente xiita do Parlamento, Nabih Berri, um importante aliado do Hezbollah, indicou flexibilidade em relação ao tema, dizendo ao primeiro-ministro Najib Mikati que apoiava a eleição de um presidente que não represente ‘um desafio’ para ninguém.
Uma autoridade do Hezbollah disse à Reuters que o grupo delegou Berri para negociar em seu nome sobre a presidência.
A presidência é decidida por votação no Parlamento de 128 cadeiras do Líbano. Nenhuma aliança política possui cadeiras suficientes para impor a sua escolha, o que significa que um entendimento entre blocos rivais é necessário para garantir a eleição de um candidato.
Após uma reunião nesta quarta-feira com Berri e o líder druso Walid Jumblatt, Mikati — um muçulmano sunita — leu uma declaração conjunta pedindo a eleição de um ‘presidente de consenso que tranquilize a todos e dissipe as preocupações’.
Nenhum candidato foi nomeado.
Israel executa uma grande ofensiva contra o Hezbollah que deixou mais de mil mortos no Líbano desde 16 de setembro e forçou o deslocamento de 1 milhão de pessoas.
Wael Abu Faour, um importante parlamentar da facção de Jumblatt, disse à Reuters que a eleição de um presidente de consenso enviaria ‘uma mensagem ao mundo exterior de que há um governo forte no país pronto para negociar’ um cessar-fogo.
Segundo ele, a reunião dos três líderes não representou a formação de uma nova aliança e facções, incluindo partidos cristãos, estavam envolvidas em discussões sobre a presidência.
O partido Força Libanesa, uma importante facção cristã e feroz oponente do Hezbollah, pediu na segunda-feira a eleição de um presidente, dizendo que esta era a única maneira para ‘o Estado assumir suas responsabilidades por conta própria’, uma crítica implícita ao Hezbollah por sua posse de um enorme arsenal de armas.
O último presidente do Líbano, Michel Aoun, era um ex-comandante do Exército e aliado político do Hezbollah.
Um diplomata ocidental sênior que não quis ser identificado disse que nações ocidentais e árabes têm instado políticos do Líbano a eleger um presidente, acrescentando que também é do interesse do Hezbollah que o impasse político seja resolvido para que o Estado possa assumir mais do ‘peso’ da crise com Israel.
Abu Faour disse que os três líderes também discutiram como lidar com a tensão interna no Líbano como resultado do deslocamento de centenas de milhares de pessoas de áreas controladas pelo Hezbollah para outras partes do país.
(Reportagem de Laila Bassam, Timour Azhari e Tom Perry)