A emissora BBC transmitiu, ao vivo, a apresentação da dupla de rap Bob Vylan, no festival de Glastonsbury, no Reino Unido, neste sábado, 28. Na apresentação, o cantor Bobby Vylan puxou gritos de “Palestina livre”, “do rio ao mar” e “morte às IDF (Forças de Defesa de Israel)”.
Organizadores do Festival de Glastonbury disseram que as declarações “ultrapassaram claramente os limites”, enquanto organizações de combate ao antissemitismo informaram que apresentarão uma queixa formal à BBC pela “decisão ultrajante” de transmitir o show ao vivo.
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Um porta-voz da BBC disse anteriormente que alguns comentários foram “profundamente ofensivos” e que havia sido exibido um aviso na tela sobre “linguagem extremamente forte e discriminatória”.
Bob Vylan é uma dupla punk inglesa de Londres. Bobby Vylan é cantor e guitarrista, enquanto Bobbie Vylan é baterista. Ambos usam nomes artísticos para preservar a privacidade e se referem a si mesmos como “os Bobs”.
Em uma postagem conjunta no Instagram, publicada neste domingo, 29, pelo Festival de Glastonbury e pela organizadora Emily Eavis, o evento afirmou ser “contra todas as formas de guerra e terrorismo” e que, com quase 4 mil apresentações no local, “inevitavelmente haverá artistas e oradores com visões que não compartilhamos”.
No entanto, a organização também afirmou estar “horrorizada” com os comentários da dupla. “Seus gritos ultrapassaram claramente os limites, e estamos lembrando com urgência a todos os envolvidos na produção do festival que não há espaço em Glastonbury para antissemitismo, discurso de ódio ou incitação à violência.”


Banda irlandesa investigada pela polícia faz manifestação pró-Palestina
Depois do show de Bob Vylan, o trio de rap irlandês Kneecap se apresentou em Glastonsbury, vestindo keffiyehs, lenço de resistência Palestina associado a grupos terroristas. A apresentação foi assistida por milhares de pessoas e incluiu xingamentos contra o primeiro-ministro Keir Starmer, que anteriormente classificou a presença da banda no festival como “inadequada”.
Separadamente, neste domingo, a polícia metropolitana disse que não levará adiante uma acusação criminal por causa de vídeos divulgados em abril que mostraram o Kneecap supostamente conclamando a morte de parlamentares britânicos.
“Uma variedade de crimes foi considerada durante a investigação”, informou a corporação. “No entanto, devido ao tempo decorrido entre os eventos registrados no vídeo e o momento em que ele chegou ao conhecimento da polícia, qualquer possível infração de menor gravidade já está fora do prazo legal para processo.”
Aner Shapira was a serving IDF soldier, & a rapper. He was on leave at the Nova festival when Hamas attacked.
Hamas threw grenades where he & others were sheltered. Aner threw *seven* grenades back out. He died, but saved many lives.
Honour his memory.
“Bob Vylan”, go to hell. pic.twitter.com/50AK8LT7Ou
— Daniel Sugarman (@Daniel_Sugarman) June 28, 2025
O Kneecap ficou sob os holofotes nos últimos meses depois que o rapper Liam Óg Ó hAnnaidh, que se apresenta no trio com o nome Mo Chara, foi acusado de um crime relacionado ao terrorismo. Ele é acusado de exibir a bandeira da organização terrorista Hezbollah durante um show no ano passado, mas nega a acusação.
Ó hAnnaidh segue em liberdade sob fiança e deve comparecer ao tribunal na próxima audiência, marcada para 20 de agosto. Outro integrante do Kneecap sugeriu, durante o festival, que os fãs “começassem um motim” do lado de fora da próxima audiência judicial do colega. Ele então esclareceu: “Sem motins, apenas amor e apoio — e apoio à Palestina.”
Depois das apresentações de Bob Vylan e Kneecap no Festival de Glastonsbury, a polícia local informou que analisará os vídeos dos comentários. A corporação disse que o material “será avaliado por agentes para determinar se houve algum crime que justifique investigação criminal”.
Bob Vylan (legal name Pascal Robinson-Foster) called for the death of the IDF yesterday at @glastonbury
He’s coming to the U.S. this fall as part of the Inertia Tour.
This antisemite must have his visa denied/rescinded – his hate is not welcome here @SecRubio @TheLeoTerrell pic.twitter.com/UPf0y18qEb
— StopAntisemitism (@StopAntisemites) June 29, 2025
Depois da apresentação de Bob Vylan, um porta-voz do governo disse que a ministra da Cultura, Lisa Nandy, conversou com o diretor-geral da BBC, Tim Davie, para buscar uma “explicação urgente sobre a diligência prévia” feita pela emissora antes de exibir o show.
Autoridades reagem a declarações antissemitas em festival
A embaixada de israelense disse que os comentários levantam “preocupações sobre a glorificação da violência”. Leia a nota completa:
“A Embaixada de Israel no Reino Unido está profundamente perturbada com a retórica inflamatória e odiosa expressa no palco do Festival de Glastonbury.
A liberdade de expressão é um pilar da democracia. Mas quando o discurso ultrapassa os limites e se transforma em incitação, ódio e apologia à limpeza étnica, ele deve ser denunciado — especialmente quando é amplificado por figuras públicas em plataformas de destaque.
Lucy Connelly and Wayne O’Rourke are in prison for spicy tweets.
Yet Bob Vylan remains free after demanding death to IDF soldiers at Glastonbury – watched by millions.
This is England in 2025 🏴 pic.twitter.com/hAmy1p7sKw
— Peter Lloyd (@Suffragent_) June 29, 2025
Gritos como “Morte ao IDF” e “Do rio ao mar” são slogans que defendem o desmantelamento do Estado de Israel e, implicitamente, clamam pela eliminação da autodeterminação do povo judeu. Quando essas mensagens são transmitidas diante de dezenas de milhares de frequentadores de um festival e recebem aplausos, isso levanta sérias preocupações sobre a normalização de uma linguagem extremista e a glorificação da violência.
Conclamamos os organizadores do Festival de Glastonbury, artistas e líderes públicos do Reino Unido a denunciar essa retórica e rejeitar todas as formas de ódio.”
Em entrevista à BBC, o secretário de Saúde do Reino Unido, Wes Streeting, classificou os comentários da dupla Bob Vylan como repulsivos. “Se penso na guerra na Ucrânia, sem dúvida quero que a Ucrânia vença, mas isso não significa que vou comemorar a morte de russos”, afirmou. “Não acho que alguém ganhe com isso.”
The Embassy of Israel in the United Kingdom is deeply disturbed by the inflammatory and hateful rhetoric expressed on stage at the Glastonbury Festival.
Freedom of expression is a cornerstone of democracy. But when speech crosses into incitement, hatred, and advocacy of ethnic…
— Israel in the UK 🇮🇱🤝🇬🇧 (@IsraelinUK) June 28, 2025
Streeting também apontou a ironia de o festival de música servir de palco para esse discurso ao lembrar que “israelenses foram sequestrados de um festival de música, mortos, estuprados e, em alguns casos, ainda estão sendo mantidos reféns”.
Quando questionado sobre o pronunciamento da Embaixada de Israel, Streeting afirmou considerar as falas como “uma preocupação legítima”. Entretanto, acrescentou que a embaixada deveria “colocar sua própria casa em ordem”, em referência a relatos de palestinos mortos na Cisjordânia ocupada depois de ataques de colonos israelenses a uma vila palestina.
O grupo Campanha Contra o Antissemitismo disse que apresentará uma queixa formal à BBC por ter transmitido a apresentação de Bob Vylan, assim como a do Kneecap, que já descreveu as ações militares de Israel em Gaza como genocídio.