Com Flamengo e Palmeiras sobrando financeiramente e sendo protagonistas dos últimos anos do futebol brasileiro e sul-americano, uma pergunta surge: caminhamos para uma espanholização no Brasil à la Real Madrid e Barcelona na Europa?
O ESPN.com.br foi atrás de pessoas que construíram e pavimentaram o caminho para Flamengo e Palmeiras vivenciarem um cenário de “outro patamar” bem antes da final da CONMEBOL Libertadores neste sábado (29). Do lado rubro-negro, Eduardo Bandeira de Mello, presidente do clube carioca de 2013 a 2018. Do outro, Ricardo Galassi e Luciano Paciello, diretor de Arena e CFO, respectivamente, da gestão Paulo Nobre.

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Cabeças pensantes e fundamentais dos processos de reestruturação dos clubes, Bandeira, Galassi e Paciello receberam as mesmas perguntas. Flamengo e Palmeiras podem ser como Real Madrid e Barcelona no futebol brasileiro e sul-americano dos próximos anos?
Veja abaixo a resposta de cada um:
Bandeira de Mello
“Antigamente me perguntavam lá atrás, antes da recuperação do Flamengo, que essa espanholização poderia se dar com Flamengo e Corinthians, as duas maiores torcidas. Respondia com uma brincadeira: pode até acontecer a espanholização, mas seria o primeiro passo para a germanização. Se começa com dois clubes e depois passa a ser um, com o Bayern ganhando 99% das coisas. Mas é uma brincadeira. O futebol brasileiro tem característica que pode trazer um número maior de clubes. São poucos campeonatos no mundo com o nível de competição do Brasileirão”.
“De 2018 pra cá, com Palmeiras campeão e Flamengo vice, a coisa tem centralizado muito em Flamengo e Palmeiras. Mas aparece (time ganhando), coisa que não acontece na Espanha, Alemanha. Se os clubes arrumarem a casa, vamos voltar a ter o Brasileirão que você não sabe quem vai ganhar e quem vai cair”.
Ricardo Galassi
“(Falavam) de Corinthians e Flamengo (nessa espanholização) quando ‘explodiram’ o Clube dos Treze. Mas o Palmeiras apenas estragou tal prazer (de a espanholização ser com Corinthians e Flamengo). Brincadeiras à parte, o futebol brasileiro se mostra historicamente cíclico. Chegar ao topo é muito difícil e manter-se nele é muito mais difícil. Tal situação fica mais complicada ainda, quando a soberba passa a permear o ambiente. Lembro-me perfeitamente quando o Paulo Nobre dizia que o maior receio que ele tinha era que o Palmeiras, como resultado de suas conquistas, viesse a adotar uma postura arrogante em relação aos demais clubes”
“Temos exemplos práticos de clubes que estavam muito bem há cerca de 20 anos e que hoje passam por dificuldades extremas, seja pela adoção de uma postura arrogante em relação aos demais ou, simplesmente, por má administração ou, até mesmo, por gestão fraudulenta. Então, tudo vai depender de como o Palmeiras e o Flamengo forem administrados nos próximos anos e de como se dará a gestão dos demais clubes da elite do futebol brasileiro. Em suma, não acredito em ‘espanholização’ total do futebol no Brasil”.
Luciano Paciello
“Eu acho difícil (a espanholização com Flamengo e Palmeiras à la Real Madrid e Barcelona). Botafogo, Fluminense e Atlético-MG foram campeões recentemente. Acho pouco provável a espanholização entre Flamengo e Palmeiras. Os clubes estão investindo, tentando se estruturar. As novas SAFs… acho pouco provável que isso aconteça. Acredito em outros campeões além de Flamengo e Palmeiras”.
Apesar de não acreditarem nessa espanholização, Bandeira e Galassi alertaram para a gestão dos clubes. Segundo eles, se os rivais de Palmeiras e Flamengo não olharem para a organização como um todo, a distância vai aumentar entre os clubes.
“O futebol brasileiro tem 12 grandes clubes, que se arrumarem (a casa), com ajustes, serão sempre grandes clubes. Têm torcida, história. Não vejo isso na Espanha com Atlético de Madrid, Sevilla, Valencia… na Alemanha é o Bayern, de vez em quando vem o Leverkusen, mas esquece. Na França é o PSG monopolista. Na Inglaterra troca o protagonista e fica no máximo em 3 ou 4. A competição na Inglaterra é maior. No Brasil, se todos forem bem administrados, vamos ter um campeonato mais aberto”, disse Bandeira.
“Obviamente, aqueles clubes que não seguirem a cartilha da boa gestão tenderão ao fracasso esportivo e, consequentemente, ao fracasso econômico. Mas, a minha crença, é que novos benchmarks são estabelecidos a cada período de tempo e, se hoje, o Palmeiras e o Flamengo são considerados clubes exemplares, o futebol brasileiro como um todo tende a melhorar com esses bons exemplos”, completou Galassi.
Penta aponta diferencial de Flamengo e Palmeiras
Quem viveu a rivalidade na Espanha até enxerga semelhanças com o processo vivido no Brasil. Em entrevista exclusiva à ESPN, o pentacampeão mundial Edmilson vê Flamengo e Palmeiras acima dos outros não por tradição, mas sim pela capacidade de organizar a casa e não patinar como os rivais.
“Se os outros não se virarem, vai de vez em quando aparecer um Atlético de Madrid, de vez em quando um Villarreal ou um Athletic Bilbao“, disparou o ex-defensor, que no Brasil defendeu as cores de São Paulo e Palmeiras, mas na Espanha atuou pelo Barcelona.
“Flamengo e Palmeiras estão acima de todos os outros clubes não por causa de tradição ou história, é porque eles se organizaram nos últimos dez anos. Colocaram o caixa em dia, têm dívidas, mas sabem ter receitas, sabem como criar receitas. O dirigente do clube hoje prefere gastar de 300 a 500 mil reais num jogador que não vai jogar do que investir em um departamento de marketing e comercial pra trabalhar com o sócio-torcedor”.
Tendo a espanholização ou não, Palmeiras e Flamengo vão para mais uma final de Libertadores, a segunda entre as últimas cinco. Campeão em 1981, 2019 e 2022, os cariocas tentam o tetra, assim como os alviverdes, campeões em 1999, 2020 e 2021, vão em busca da quarta estrela.
Onde assistir a Palmeiras x Flamengo?
Você acompanha Palmeiras x Flamengo pela final da CONMEBOL Libertadores, neste sábado (29), a partir das 18h (de Brasília), com transmissão do Disney+.


