A cúpula virtual dos líderes do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) reforçou o desejo de maior integração comercial e financeira como resposta ao avanço do protecionismo internacional. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou o encontro para criticar o que chamou de “chantagem tarifária” e a “conduta belicosa” dos Estados Unidos sob a gestão de Donald Trump, destacando que tais práticas enfraquecem o sistema multilateral de comércio.
Segundo Lula, o Brics tem legitimidade para propor um modelo alternativo, mais justo e inclusivo, voltado às necessidades do Sul Global. A ideia é estimular o uso de moedas nacionais nas transações, fortalecer acordos bilaterais e ampliar mecanismos próprios de cooperação, reduzindo a dependência de instituições dominadas pelo Ocidente.
Para o Brasil, o debate tem impacto direto na agropecuária, setor já responsável por alimentar cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo. Com a integração do bloco, o país pode ampliar exportações de soja, milho, carnes e café para mercados estratégicos como Índia, China e África do Sul.
Entre os benefícios projetados estão a diversificação de destinos, a redução da exposição cambial e a construção de cadeias produtivas mais estáveis. A crescente demanda por alimentos na Ásia e na África torna o Brasil um parceiro-chave para o abastecimento global.
Apesar do tom positivo, analistas destacam que a reconfiguração do comércio global pode gerar resistências. Estados Unidos e União Europeia, pressionados por seus setores agrícolas, podem impor novas barreiras tarifárias, ambientais ou fitossanitárias. Nesse cenário, o protagonismo brasileiro pode transformar-se também em alvo de retaliações.
O desafio, portanto, será avançar em duas frentes: aproveitar a integração comercial do BRICS para ampliar mercados e, ao mesmo tempo, reforçar a diplomacia e a inovação tecnológica como escudo contra pressões externas.
A reunião virtual do Brics mostrou que, mesmo em meio às tensões globais, existe espaço para ampliar o comércio e fortalecer a cooperação. Para o agro brasileiro, o momento é de reafirmar sua imagem como fornecedor confiável, sustentável e estratégico. O equilíbrio entre a crítica ao protecionismo e a construção de novas parcerias será decisivo para transformar riscos em oportunidades concretas.


*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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