Com o Brasil prestes a sediar a COP30, em 2025, cresce a expectativa sobre quais iniciativas o país apresentará ao mundo como vitrine de sua capacidade de liderar a transição verde. Em meio a esse cenário, podemos sugerir de criação da Poupança Verde — um novo fundo de financiamento para o agronegócio sustentável que poderia ser levado à conferência como uma bandeira inovadora do setor.
A proposta pode ser adotada como pauta pela Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), aliando-se ao espírito de protagonismo ambiental que o evento exige. O modelo prevê captação livre de recursos com isenção fiscal ao investidor, voltado exclusivamente para financiar práticas agrícolas sustentáveis no Brasil.
O fundo Verde funcionaria como uma espécie de “LCA ambiental”, permitindo que bancos, cooperativas, seguradoras e plataformas digitais mobilizem capital — inclusive estrangeiro — para irrigar o campo com crédito de longo prazo, juros acessíveis e foco ambiental.
Um fundo verde com DNA agro
A sugestão contempla:
- Captação aberta de pessoas físicas e jurídicas, inclusive internacionais;
- Remuneração com isenção de IR, como ocorre com LCAs e debêntures incentivadas;
- Aplicação dos recursos em projetos certificados de:
- recuperação de pastagens degradadas,
- energia limpa na propriedade,
- irrigação eficiente,
- bioinsumos e compostagem,
- plantio direto e rotação de culturas,
- agricultura de baixo carbono (ABC+).
Uma inovação adicional é a possibilidade de que os produtores que gerarem créditos de carbono verificados possam utilizá-los como:
- Garantia parcial das operações de crédito;
- Critério de bonificação na taxa de juros, estimulando a adoção de práticas que removem carbono da atmosfera ou evitam emissões.
O fundo seria viabilizado por lei complementar, podendo inclusive receber aportes vinculados a percentuais de tributos já existentes, como o IOF rural ou a Cide combustíveis, sem criação de novos impostos.
A proposta tem alto potencial de atrair fundos internacionais de impacto, green bonds e investidores ESG, que buscam ativos com lastro ambiental e segurança institucional.
“O mundo busca ativos verdes com credibilidade. O agro brasileiro, quando bem organizado e transparente, é o maior ativo verde do planeta”, defende o autor da sugestão.
Ao ser encampada pela FPA ou por lideranças do agro no Congresso, a Poupança Verde pode se transformar em um marco inovador do setor rural, ao mesmo tempo em que serve como resposta estratégica às pressões internacionais por sustentabilidade.
Lançar essa proposta durante a COP30, em Belém, daria ao Brasil a oportunidade de apresentar uma medida concreta, de origem nacional, que une sustentabilidade com produção e mercado de capitais.
Seria também uma alternativa estruturante ao modelo de crédito rural tradicional, ainda dependente de recursos orçamentários e políticas sazonais. Com a Poupança Verde, a transição ecológica do agro ganharia uma fonte contínua de financiamento, de mercado, com sinal claro de política de Estado.
A Poupança Verde é uma proposta original que pode colocar o agro brasileiro no centro das soluções globais para o clima. Se adotada por lideranças políticas e setoriais, ela tem potencial de mobilizar bilhões em investimentos, gerar renda no campo e fortalecer a imagem do Brasil como líder mundial da produção sustentável.
A ideia pode sair do papel e se tornar uma das grandes entregas brasileiras na COP30.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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