Pecuaristas, a frase “o gado no Brasil passa fome!” pode soar dura, mas é a realidade em muitas fazendas, especialmente no período da seca. Essa falta de alimento de qualidade resulta no indesejado “efeito sanfona”, em que o animal engorda nas águas e emagrece na seca, comprometendo a rentabilidade da atividade. Assista ao vídeo abaixo e confira esta história na íntegra!
Nesta entrevista especial, o zootecnista Tiago Felipini, especialista em nutrição de ruminantes e consultor da Alcance Planejamento Rural, fez um alerta no programa Giro do Boi.
Ele explicou que, apesar de o gado nelore ser robusto e o negócio pecuário ser resiliente, a falta de planejamento nutricional custa muito caro.
O ciclo da fome e a perda de dinheiro


Tiago Felipini é categórico: o boi, a vaca e o bezerro ainda passam fome no Brasil. O pecuarista se dá ao luxo de deixar o gado perder peso, sem perceber que o potencial de ganho é muito maior com um bom manejo.
A genética brasileira, principalmente a nelore, é fantástica e evoluiu muito, mas a alimentação não acompanha.
O resultado da falta de comida é:
- Boi sanfona: Animais que perdem todo o peso ganho na seca, atrasando a idade de abate e o ciclo de produção.
- Prejuízo na reprodução: Vacas que entram na estação de monta muito magras não respondem à inseminação, não seguram a prenhez e perdem dinheiro com a tecnologia.
- Custo elevado: Começar a suplementação no meio ou no final da seca, quando o gado já está perdendo peso, é caro. O pecuarista gasta não para ganhar peso, mas para repor o que já foi perdido, o que poderia ter sido evitado com um planejamento antecipado.
Estratégias para reverter o quadro


Para evitar o prejuízo, o produtor precisa de planejamento. O ideal é iniciar a suplementação proteica no início do período seco (abril), quando o pasto ainda está “verdulento”.
Nessa fase, o animal responde com um ganho de peso extra de 150 a 200 gramas por dia, que se soma ao ganho da pastagem, impulsionando o desempenho do rebanho.
Outras estratégias para garantir a alimentação do gado na seca incluem:
- Sequestro: É a prática de confinar bezerros desmamados ou vacas que vão entrar em reprodução para preservar o pasto. O sequestro é uma das tecnologias que mais funciona para preservar a pastagem de invasoras e garantir o ganho de peso.
- Casquinha de soja na TIP: A casquinha de soja pode substituir até 50% do milho na dieta, com o mesmo resultado e a um custo menor, otimizando o uso de insumos.
- Sal proteinado: Se o pasto tem boa condição, o sal proteinado pode segurar o peso da boiada. É importante começar a usá-lo no início da seca, e não no final, para manter o ganho de peso e o escore corporal do rebanho.
A importância da ração e do manejo


Em relação à dieta, Tiago Felipini alerta para os cuidados ao formular um proteinado para evitar intoxicação. É importante controlar a concentração de ureia (não ultrapassar 10%) e de sal branco para não restringir o consumo e causar estresse nos animais.
Em um confinamento, por exemplo, o zootecnista reforça que o dimensionamento correto da área de cocho é crucial. A falta de espaço faz com que os bois dominados comam menos e estressem, o que impacta o resultado.
A chave para reverter o quadro de gado passando fome é o planejamento antecipado, o uso estratégico de suplementos e a adoção de tecnologias de manejo que garantem o bem-estar e a produtividade do rebanho, como o sequestro e a nutrição de precisão.
O zootecnista reforça que “o gado tolera muito, mas o potencial é muito maior”, e com planejamento, o pecuarista pode ganhar muito mais dinheiro.