O Palácio do Planalto elevou a mobilização nas horas que antecedem a instalação da CPI do INSS. O governo considera esse movimento fundamental para reduzir os danos políticos da investigação. Lula enfrenta uma crise de popularidade, pressão da própria base e uma série de notícias negativas.
A estratégia busca formar uma tropa de choque experiente, com foco em transferir a responsabilidade para o governo anterior. O discurso tenta vincular o início das fraudes nos descontos de aposentadorias à gestão de Jair Bolsonaro.
Mesmo com essa articulação, lideranças no Congresso enxergam dificuldades para garantir o controle da situação. O escândalo já derrubou o ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), e o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Embora a Controladoria-Geral da União (CGU) tenha desmantelado parte do esquema durante a atual gestão, foi nesse período que as fraudes explodiram. As investigações miram, inclusive, entidades historicamente ligadas ao PT, como a Contag.
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Coube ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), formalizar o pedido de abertura da comissão na quarta-feira 18. Nos bastidores, ele mantém relação próxima tanto com o Palácio do Planalto quanto com o próprio Lula.


A composição da CPI virou prioridade no núcleo político do governo. Os trabalhos devem começar em agosto, logo depois do recesso parlamentar. Senadores como Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM) e o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) já estão confirmados como parte da linha de frente governista.
O senador Omar Aziz desponta como favorito para presidir a comissão
O senador Omar Aziz desponta como favorito para presidir a comissão. Ele já comandou a CPI da Covid, em 2021, que teve impacto direto sobre o governo Bolsonaro. A relatoria ficará nas mãos da Câmara. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), já descartou qualquer indicação ligada ao PT ou ao PL.
Paulo Pimenta, ex-ministro da Secretaria de Comunicação, segue alinhado com o discurso do Planalto. Afirmou que a CPI precisa identificar quem facilitou as fraudes e quem se beneficiou dos desvios no INSS. Segundo ele, a comissão vai esclarecer a verdade para a população.


No Planalto, a percepção é clara. O governo reconhece o desgaste que a CPI pode gerar. A avaliação interna já dá como certa a convocação de figuras-chave, como o ministro da Previdência, Wolney Queiroz, o ex-ministro Carlos Lupi, o atual presidente do INSS, Gilberto Waller Júnior, e Alessandro Stefanutto.
O PDT também garantiu espaço na comissão, mesmo depois da saída de Lupi
O PDT também garantiu espaço na comissão, mesmo depois da saída de Lupi. O deputado Mário Heringer (MG) assumirá uma das vagas de titular. Apesar do discurso de independência, a sigla mantém proximidade com Wolney nas discussões sobre Previdência.
Na oposição, o clima é de insatisfação. A escolha do relator é vista como ponto central para o futuro da CPI. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), já criticou publicamente o fato de seu partido ter sido excluído da indicação. Para ele, essa decisão favorece quem cometeu as fraudes contra os aposentados.


O governo também tenta associar o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do INSS”, ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Antunes é apontado pela Polícia Federal como um dos principais articuladores do esquema. Durante as eleições de 2022, ele participou de uma campanha promovida por apoiadores de Bolsonaro, que pedia doações simbólicas via pix no valor de um real, como parte de uma tentativa de realizar uma contagem paralela de votos.
Outro ponto que deve ser explorado na CPI envolve Frei Chico, irmão de Lula
Outro ponto que deve ser explorado na CPI envolve Frei Chico, irmão de Lula. O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) lembra que ele ocupa a vice-presidência do Sindicato Nacional dos Aposentados. A entidade teria se beneficiado financeiramente com os descontos aplicados diretamente na folha dos aposentados.
“A oposição, em sua maioria, não quer investigar, ela quer acabar com o Brasil”, disse Kajuru ao O Globo. “E o presidente Lula, se tiver um irmão envolvido, eu tenho certeza que ele vai mandar prender o irmão e nem na cadeia ele vai. A CPI vai revelar os problemas no governo Lula, quem roubou e também vai lá atrás… A corrupção começou no governo Bolsonaro.”


Em defesa, o sindicato divulgou nota afirmando ter sido o responsável por denunciar as fraudes e declarou apoio às investigações.
O ministro Wolney também reforçou essa narrativa no Senado. Disse que a fraude não começou na atual gestão, mas que terminou no governo Lula. Segundo ele, foi o próprio presidente quem acionou a Polícia Federal, que desmontou o esquema e interrompeu os prejuízos aos aposentados.
O requerimento que criou a comissão contou com a assinatura de 81 deputados de partidos como União Brasil, PP, MDB, PSD e Republicanos — todos ocupam ministérios na atual gestão.