O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, classificou a advertência de penalidades feita pela Otan a países que negociam com a Rússia como “totalmente descabida” e ressaltou que o governo Lula não pretende negociar com a entidade nesse contexto.
Na terça-feira 15, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou que Brasil, China e Índia poderiam sofrer sanções secundárias caso continuem mantendo relações comerciais com a Rússia. Os três países, junto com a própria Rússia, integram o grupo Brics.
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“Dialogar com a Otan? Não”, disse Vieira em entrevista à Globonews, nesta quinta-feira, 17. “Nós não fazemos parte. A Otan, é preciso que fique claro: é uma organização militar, Organização do Tratado do Atlântico Norte. O Brasil não é parte nem os outros dois países que o secretário-geral mencionou.”
Segundo Vieira, a declaração de Mark Rutte é “totalmente descabida, fora de propósito e fora da área de competência dele”.
As declarações de Rutte coincidem com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros vendidos no mercado norte-americano a partir de agosto.
Questionado sobre possível influência dos EUA na posição da Otan, Mauro Vieira minimizou a hipótese e atribuiu a fala a uma decisão pessoal de Rutte.
“As questões comerciais, cada país – e o Brasil faz assim – trata bilateralmente ou na OMC”, afirmou. “Depois, esse tipo de ameaça, não acho que corresponda a uma ameaça comercial dentro de uma organização militar.”
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Sanções secundárias
A Otan reúne 31 países da América do Norte e Europa, com objetivo voltado à segurança coletiva dos membros.
Sanções secundárias consistem em penalizar países ou empresas que negociam com países já sancionados, como a Rússia.
Vieira ironizou a ameaça e sugeriu que o chefe da aliança pode desconhecer o caráter estritamente militar da organização:
“Talvez ele esteja mal-informado, não saiba que é uma organização militar, não tem alcance comercial”, disse. “Sobretudo porque, se for assim, países membros da Otan que são membros da União Europeia – e que comerciam com a Rússia e compram grandes quantidades de petróleo e de gás – teriam que ser também sancionados.”

