Estados Unidos (EUA) e Israel suspenderam, nesta quinta-feira, 24, no Catar, as negociações para um cessar-fogo em Gaza, depois de classificar a última proposta do Hamas como “egoísta” e sem boa fé.
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Fontes israelenses afirmam que a retirada foi uma manobra estratégica para pressionar o grupo terrorista a aceitar um acordo já negociado, aprovado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu sob forte incentivo do presidente Donald Trump.


Um elemento crucial foi a permanência em cena da recém-criada Fundação Humanitária de Gaza (GHF). Apoiada pelos EUA e Israel para assumir a distribuição de ajuda, a GHF opera desde maio na região, independentemente da Organização das Nações Unidas (ONU).
Considerada pelo Hamas uma entidade parcial, ela opera o sistema tradicional no território. Essa transferência de controle contraria os interesses do grupo extremista, que dependia da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina e Oriente Próximo (UNRWA) como intermediária.
Apesar de garantir que não se trata de um colapso nas negociações, um oficial israelense, segundo a mídia local, afirmou que o governo só retornará às negociações quando um acordo for viável.
Para que isso ocorra, são necessários acertos em pontos básicos de discórdia. O primeiro é negociar a neutralização total da GHF ou abrir espaço para a ONU ou organizações não governamentais (ONGs) participarem de modo independente.
Feito isso, se abrirá caminho para garantir liberação total da ajuda, sem restrições táticas ou condicionais. Depois será necessário alinhar cronogramas e localizações de distribuição com mediadores reconhecidos e institucionais.
A questão estratégica também é fundamental. Neste item, está inserido o grau de desocupação das Forças de Defesa de Israel na Faixa de Gaza, além de prazos para o cessar-fogo e da quantidade de reféns a serem trocados por prisioneiros palestinos.
Pretexto do Hamas
A GHF implementou quatro grandes centros de distribuição no sul e centro de Gaza, com pontos “seguros” protegidos por militares americanos e monitorados por tropas israelenses, conforme informou o Financial Times.
A ONU e diversas ONGs, como Médicos sem Fronteiras e Oxfam, acusaram a fundação de violar os princípios de neutralidade e por transformar ajuda em instrumento militarizado.
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Durante a distribuição, ocorreram centenas de mortes e milhares de feridos próximo aos locais da GHF, devido a disparos atribuídos a israelenses ou a tumultos, ressalta o The Guardian.
Para o Hamas, a presença da GHF o faz perder o controle sobre a população, pelo fato de a entidade realizar uma distribuição condicionada e fora do alcance de seus canais tradicionais.
Além disso, o uso da GHF reforça a imagem do Hamas como antagonista que prejudica o povo ao se opor ao novo modelo. E se torna uma ferramenta que pode comprovar que o grupo usa a própria população como escudo humano.
Para Israel e os EUA a rejeição do Hamas à GHF é um pretexto para os terroristas prolongarem a guerra mesmo diante de uma solução viável.
Nesta negociação, o controle da ajuda reforça o discurso israelense de que o Hamas é o responsável pela crise de fome, enquanto o Hamas, grupo terrorista que deu início ao conflito, por realizar os ataques brutais de 7 de outubro, acusa Israel de usar o desespero como arma para forçar rendição.