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Hélio dos Anjos diz que sofre etarismo no futebol: ‘Não devo nada a nenhum jovem’

Treinador mais velho entre as três principais divisões do Campeonato Brasileiro, Hélio dos Anjos está há 10 anos sem trabalhar na Série A – a última vez foi em 2015, no Goiás. Para ele, a ausência na elite não é por falta de resultados, mas sim por causa da sua idade.

Um dos maiores campeões estaduais da história do futebol brasileiro, Hélio dos Anjos tem 67 anos e atualmente dirige o Náutico na Série C. Hoje, o Timbu detém a quarta maior invencibilidade entre as quatro divisões do Brasileirão (9 jogos) e está brigando pelo acesso.

Em entrevista ao ESPN.com.br, Hélio dos Anjos desabafou sobre o etarismo no futebol brasileiro. De acordo com o treinador, existe um preconceito com profissionais mais velhos e “culpou” os dirigentes.

“Está na cara que existe etarismo no futebol brasileiro. Temos poucos treinadores acima dos 60 anos dirigindo equipes. Pessoas experientes, com 30, 40 anos de futebol, são colocadas de lado. As condições de modernidade são para todos, todos os profissionais, independentemente da idade”, disse o treinador.

“A diferença que eu vejo é que os profissionais mais experientes sempre tiveram capacidade de decidir, de chamar o comando para ele. Muitas vezes o treinador mais experiente é visto como mandão, radical. Em termos de escalação, todos têm que ser radicais, você tem que chamar para si a decisão”, destacou.

“Eu vou ser sincero, os dirigentes mais jovens, que são importantes dentro do contexto atual, não gostam disso. Não gostam de treinadores que chamam a decisão para si, que comandam ou ajudam a comandar naturalmente o departamento. Esses profissionais querem muitas vezes comandar um departamento com treinadores menos experientes, que podem ser influenciados”, disparou.

Hélio dos Anjos citou Vanderlei Luxemburgo como exemplo de um profissional vencedor que acabou sendo deixado de lado por causa da sua idade. O último trabalho realizado por Luxa foi em 2013, quando ficou cinco meses no comando do Corinthians.

“O Vanderlei Luxemburgo é um exemplo. Toda essa modernidade que tem hoje e eu uso, meus companheiros usam, ele começou a usar há 30 anos. O que se fala de fisiologia, de nutrição, de trabalho mental, o Vanderlei usava. O Vanderlei podia ser hoje um treinador de grandes equipes. Ele trabalhou no Real Madrid e muitas vezes isso serviu de chacota ao invés de ser uma referência. Por quê? Porque o Vanderlei é combativo, porque tem opinião própria, tem personalidade para enfrentamento. E muitas vezes o enfrentamento é colocado como arrogância”, pontuou.

Apesar das críticas aos dirigentes, Hélio dos Anjos vê um pouco de culpa dos treinadores na falta de opções no mercado. Rogério Ceni (Bahia), Roger Machado (Internacional) e Fernando Diniz (Vasco) foram apontados como os nomes da “nova geração”.

“O Brasil uma hora teve uma leva de treinadores, o Tite, o Luxemburgo, o Muricy Ramalho, Nelsinho Baptista. Aí logo em seguida vieram Cuca, Mano Menezes… Não não temos mais essa leva. Hoje temos três treinadores com uma certa bagagem. O Rogério Ceni já passou por maturação, hoje é um cara totalmente equilibrado, o Roger Machado que está aí há 10 anos e o Fernando Diniz”, comentou.

“Na minha visão, inclusive, o Rogério Ceni poderia ter sido escolhido para treinar a seleção brasileira. Está muito bem entregue (com Carlo Ancelotti), mas na minha visão podia ser o Rogério. Ele passou por processos muito bem feitos na carreira”, destacou.

Mas tem um profissional da “nova geração” que vem chamando a atenção de Hélio dos Anjos: Filipe Luís. Aposentado em novembro de 2023, o ex-lateral-esquerdo trabalhou na base do Flamengo antes de ser efetivado como treinador do time principal em outubro de 2024.

“O Filipe está me surpreendendo muito positivamente. O equilíbrio. Nada está tirando ele da linha de trabalho, da postura, das decisões. Aquela decisão com o Pedro foi questionada, mas achei exata para quem comanda. Ele é jovem, está num clube de massa, sabe que qualquer resultado vai sobrar para ele. Se ele está no Flamengo, fez por merecer. O Filipe Luís está dando uma demonstração de muita frieza para enfrentamento e isso é muito legal. Mas “n” treinadores se queimaram por não ter aquela caminhada, aquele caminho, carregar um pouco de pedra nas costas para chegar na condição que chegou”, alertou.

Apesar de estar longe da elite há 10 anos, Hélio dos Anjos garante estar preparado se aparecer uma nova oportunidade:

“Eu, na minha humildade, não devo nada a nenhum treinador mais jovem”.

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