A maior agricultura do mundo, com o maior nível de suporte e subsídios, a norte-americana, está pedindo “Help” ao presidente dos Estados Unidos. Uma carta formal da American Soybean Association (ASA), maior concorrente do Brasil, tem em parte do seu texto um tom de súplica: “Senhor presidente, o senhor tem apoiado fortemente os agricultores e os agricultores tem apoiado fortemente o senhor. Precisamos da sua ajuda.”
Nesse pedido, a ASA afirma: “os produtores de soja estão sob extrema pressão financeira. Os preços continuam caindo e, ao mesmo tempo, nossos agricultores estão pagando significativamente mais por insumos e equipamentos”.
O presidente da entidade norte-americana, Caleb Ragland, continua: “os produtores de soja dos EUA não podem sobreviver a uma disputa comercial prolongada com nosso maior cliente”, se referindo à China. Os norte-americanos falam de um “precipício comercial e financeiro”.
E aí chegamos no Brasil. O USDA projeta que o Brasil produziu 42% mais soja que os Estados Unidos em 2024/25. E que atendemos hoje perfeitamente toda a demanda chinesa. As análises das entidades norte-americanas informam que Pequim já contratou recordes de volume do Brasil para os próximos meses.
E acrescentam que hoje o quadro para os Estados Unidos pode ser ainda pior do que aquele de 2018/19, na primeira guerra comercial de Trump, onde os Estados Unidos perderam cerca de US$ 9,4 bilhões por ano de exportações, e afirmam nesse documento distribuído a todas autoridades públicas: “agora o quadro pode ser ainda pior, pois a China demonstra disposição de manter a dependência do fornecedor brasileiro”.
A entidade agrícola norte-americana cobra que o presidente Trump, em Washington, consiga um acordo que reabra o mercado chinês, seja pela eliminação de tarifas retaliatórias ou obtendo cotas pontuais específicas de importação da China. Trump, dias atrás, vociferou nas redes: “China, comprem 4 vezes mais da nossa soja americana”. Agricultores aplaudiram, porém a ASA enfatizou que até neste instante não há nenhum contrato firmado com o país asiático.
Portanto, leitoras, leitores, vejam que situação: o maior agribusiness planetário, os Estados Unidos, onde somente o valor bruto da produção total agrícola desse país somada é 10 vezes maior do que a nossa; onde o tamanho do PIB norte-americano é cerca de 15 vezes maior do que o nosso, agora pedem ao seu presidente Trump, o “imperador das guerras comerciais”, que os salvem de um concorrente aqui da faixa tropical do planeta, o Brasil, onde o crescimento e a competitividade de vários produtos agropecuários, dentre eles a soja, não contou com nenhum programa maravilhoso de Estado, com suporte extraordinário de capital favorecido e com uma proteção espetacular como a rede que cuida, envolve, e protege agricultores dos Estados Unidos, com suas estruturas de logística, armazenagem, infraestrutura, seguro e agroindustrialização com diplomacia mundial impecáveis.
Porém, há um pecado no comércio de alimentos que jamais pode ser cometido e quando o cometer, dificilmente haverá perdão: “confiança”.
O poeta português Camões escrevia: “quem faz o comércio não faz a guerra”. O Brasil cresceu seu agronegócio com sangue, suor e lágrimas, e inteligência de tropicalização tecnológica e humana, com cooperativismo, empreendedorismo com heroínas e heróis que desbravaram terras inóspitas e fracas. E aqui construímos o que hoje assusta nosso maior concorrente, na expressão eterna de Alysson Paolinelli: “o que trouxe o mundo até agora foi a agricultura de clima temperado, daqui para frente será a tropical”.
Não sei se Trump conseguirá ter credibilidade e confiança por parte do governo chinês, que tem na sua história recente o preço da fome e faz da sua segurança alimentar e energética um princípio inegociável. Alimentos não estão na mesma cesta de barganhas da outra guerra de big techs, chips, e dos “ali babás” da vida.
Missão brasileira, diplomacia brasileira, fundamental continuar a ser o que sempre fomos, um fornecedor parceiro e confiável do mundo, independente das preferências ideológicas de presidentes das suas repúblicas que passam com o tempo, mas que suas nações permanecem. E o Brasil é a nação de todas as nações, com o maior “melting pot” (caldeirão cultural) humano da terra.
Os Estados Unidos também precisam do Brasil, assim como nós precisamos deles. A palavra doravante não é mais “multilateralismo”, é agroconsciente, agrocidadania.
Senhoras e senhores agricultores dos Estados Unidos, admiramos vocês, somos amigos, jamais inimigos. O mundo precisa de todos nós para enfrentarmos juntos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS). Help 4 all Mr. Trump, stop commercial war (Ajude a todos, Sr. Trump, a parar a guerra comercial).

*José Luiz Tejon é jornalista e publicitário, doutor em Educação pela Universidad de La Empresa/Uruguai e mestre em Educação Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie.
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