As recentes oscilações no preço da ureia evidenciaram, mais uma vez, a vulnerabilidade do setor de fertilizantes conforme a atual configuração geopolítica. Com o conflito entre Israel e Irã, o fertilizante nitrogenado subiu em torno de US$ 75/t em poucos dias, levando as empresas a suspenderem listas de preço. Diante do cessar-fogo, o preço caiu rapidamente, mas se mantendo em um patamar mais elevado.
O Brasil é altamente dependente da importação de fertilizantes, e esse fator estrutural amplia os impactos de qualquer distúrbio externo. O Oriente Médio, por sua vez, tem papel central na produção de gás natural e ureia. Quando há suspensão de produção ou restrição logística na região, os efeitos são imediatos na oferta global, e, por consequência, nos preços.
Não é um fato isolado. Em 2022, a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia levou os preços dos fertilizantes a atingiram níveis recordes. A Rússia, um dos maiores produtores globais, é também o principal fornecedor de fertilizantes para o Brasil. Da mesma forma, em 2021, as sanções impostas à Bielorrússia, um dos maiores produtores de potássio, comprometeram as exportações de KCl e exigiram a reorganização das rotas logísticas, elevando ainda mais os preços internacionais.
Esses exemplos mostram que o agricultor brasileiro está constantemente exposto a fatores que fogem completamente do seu controle, mas que impactam diretamente seus custos e margens. Soma-se a isso a propagação de informações especulativas, que alimentam a insegurança do mercado e contribuem para movimentos de alta nos preços, muitas vezes antecipados ou descolados da realidade física.
Nesse cenário, informação qualificada, planejamento e estratégia se tornam recursos fundamentais. Avaliar o mercado com embasamento técnico é essencial para não tomar decisões precipitadas. Estratégias como compras parceladas, análise de relação de troca e travamento de margem ganham cada vez mais relevância, uma vez que o insumo tem impacto significativo nos custos de produção, correspondendo de 20 a 30%.
No Brasil, o momento atual é marcado pelas aquisições finais e entregas para a safra 2025/26. A divulgação do Plano Safra deve ser decisiva para destravar as compras que ainda estavam pendentes.
No entanto, o cenário de juros elevados ainda representa um gargalo relevante para o crédito rural. Além disso, o produtor precisará lidar com uma adubação mais cara e relações de troca menos favoráveis.
Para a segunda safra, os preparativos já começaram com o desafio das oscilações nos preços dos nitrogenados, atrasos nas importações de ureia e incertezas quanto à dinâmica global.
Em um ano de margens mais apertadas e menor apetite ao risco, o domínio das variáveis macroeconômicas e geopolíticas pode ser a diferença entre a sustentabilidade do negócio e o comprometimento da rentabilidade.

*Maísa Romanello é engenheira agrônoma, especialista em fertilizantes da consultoria Safras & Mercado
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