Mesmo depois de o presidente Donald Trump declarar que os bombardeios dos Estados Unidos (EUA) “aniquilaram” a capacidade nuclear do Irã, autoridades norte-americanas e internacionais alertam: ainda é cedo para determinar o real impacto da operação sobre o programa atômico iraniano.
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Especialistas afirmam que, mesmo com os ataques a instalações críticas, o Irã ainda pode produzir uma bomba nuclear, relata o The Times of Israel. A preocupação gira principalmente em torno do estoque de urânio enriquecido a 60% um passo antes da pureza de 90% exigida para armamento nuclear.
Em Israel, também há a convicção de que o programa nucelar iraniano, se não foi zerado, retrocedeu muitos anos. O ministro das Finanças israelense, Bezalel Smotrich, afirmou ao The Jerusalem Post, na manhã desta terça-feira, 23, que o Irã “recomeça do zero” tanto no seu programa nuclear quanto nas capacidades de mísseis balísticos.
Smotrich destacou que “a guerra representou uma vitória significativa”. Ele acrescentou que acredita que o Irã não vai reiniciar esses programas, já que isso significaria enfrentar os EUA diretamente.
A agência estatal Mehr New tem outra versão. Informou que o chefe do programa nuclear do Irã, Mohammad Eslami, disse que o objetivo no país é garantir que a produção e os serviços nucleares não sofram interrupções. Ele ressaltou que Teerã estava preparado para enfrentar danos em suas instalações.
A verdade é que o bombardeio, conduzido por bombardeiros furtivos B-2, foi forte e atingiu três centros nucleares iranianos: Isfahan, Natanz e Fordow, este último, uma instalação subterrânea de alto nível de segurança. No entanto, o destino do estoque altamente sensível de urânio permanece um mistério.
De acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã possuía cerca de 408,6 kg de urânio enriquecido a 60%, quantidade suficiente, se for ainda mais refinada, para fabricar mais de nove bombas nucleares. Essa estimativa baseia-se em inspeções realizadas pela agência em 10 de junho.
Rafael Grossi, diretor-geral da AIEA, exigiu acesso imediato às instalações nucleares iranianas. Segundo ele, é crucial “dar conta” do estoque e manter a supervisão sobre o programa nuclear do país. “Danos muito significativos” teriam ocorrido em Fordow, destacou Grossi, mencionando a sensibilidade extrema das centrífugas à vibração e à explosão.
A possibilidade de rastrear o urânio remanescente é extremamente difícil, segundo especialistas. “Será difícil, senão impossível, localizar todo o urânio enriquecido a 60% do Irã, armazenado em pequenos recipientes facilmente transportáveis de carro”, alertou Kelsey Davenport, da Arms Control Association.
Em 13 de junho, quando Israel iniciou sua ofensiva contra o Irã, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, notificou a AIEA sobre a adoção de “medidas especiais para proteger os equipamentos e materiais nucleares”. Dias antes do ataque americano, imagens de satélite já mostravam movimentação de veículos na entrada de Fordow.
Mesmo depois de as ofensivas, há incerteza sobre a quantidade exata de centrífugas ainda em operação no Irã. Antes dos ataques, estima-se que havia cerca de 22 mil centrífugas. Muitas delas foram danificadas, especialmente em Natanz, segundo a AIEA. No entanto, algumas podem estar armazenadas em locais desconhecidos.
Ataques de Israel a usinas no Irã
Informações da Reuters, porém, dão conta de que a planta subterrânea de Fordow, protegida dentro de uma montanha, sofreu bombardeios dos EUA que causaram danos importantes, mas a extensão exata ainda é pouco clara.
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Em Natanz, os ataques destruíram a infraestrutura elétrica e a planta piloto, embora a principal instalação subterrânea tenha resistido.
Já em Isfahan, a unidade de conversão de urânio foi danificada, o que afeta a capacidade de produzir urânio enriquecido para fins militares, mas ainda há chance de recuperação, caso o Irã consiga reparar ou substituir os equipamentos danificados.
Na segunda-feira, 23, Israel confirmou ter realizado bombardeios para impedir o acesso à instalação de Fordow. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o país obteve “informações de inteligência interessantes”, sem entrar em detalhes.