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Israel ataca a Síria ao mesmo tempo em que espera diálogo

Explosões, sequestros e execuções voltaram a atingir a comunidade drusa no sul da Síria nesta quarta-feira, 16. Os ataques expõem o fracasso do novo governo em conter grupos jihadistas e levantam o alerta sobre uma nova guerra civil.

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Israel iniciou, com isso, uma nova frente em suas guerras, ao mesmo tempo em que estuda a possibilidade de um acordo de paz com o governo sírio, comandado pelo ex-terrorista Amed al-Sharaa. De um lado pensa em diálogo, de outro, utiliza o poderio militar.

Com o argumento de proteger os drusos atacados por motivos religiosos, Israel lançou dois ataques de drones que atingiram o edifício do Ministério da Defesa sírio.

Neste momento, Israel atua na Síria com o mesmo lema do ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt e sua Big Stick Diplomacy (diplomacia do grande porrete). “Fale suavemente e carregue um porrete grande; você irá longe.”

Vários são os motivos que levam as Forças de Defesa de Israel a protegerem os drusos dentro da Síria. O primeiro deles é o de pressionar, neste estilo Big Stick, o governo de Sharaa a aceitar um acordo de paz consistente e duradouro, que neutralize qualquer ameaça a Israel.

Mas o pretexto de ajudar os drusos não é puramente diplomático. Israel tem laços com a comunidade drusa, minoria leal dentro do país, com cerca de 150 mil pessoas. Eles servem no exército, têm cargos públicos e participam ativamente da sociedade.

Muitos têm familiares do outro lado da fronteira, especialmente na região drusa síria de Sweida e Hader (nas Colinas de Golã).

Quando os drusos sírios são ameaçados (por jihadistas ou por qualquer outra força), os drusos israelenses pressionam o governo de Israel a ajudar ou intervir de alguma forma, mesmo que seja só para evitar massacres.

Pesam também interesses estratégicos e de segurança. As regiões drusas na Síria ficam próximas da fronteira com Israel, especialmente nas Colinas de Golã. Israel não quer grupos jihadistas, como o Estado Islâmico ou a al-Qaeda, a operar ali perto.

Proteger os drusos, ou pelo menos garantir que eles não sejam massacrados, evita que esses territórios virem bases inimigas.

Israel busca estabilidade na Síria

A estabilidade regional também é uma preocupação. Israel vê a proteção dos drusos como parte de uma política de contenção: evitar que o caos sírio se aproxime demais.

Os drusos da Síria, mais moderados, não são hostis a Israel. Manter essa comunidade estável é útil para evitar que o sul da Síria entre em colapso completo ou vire zona de guerra contínua.

Israel usa o argumento humanitário e comunitário para justificar movimentos diplomáticos ou mesmo táticos na região, como reforço de presença militar ou apoio indireto.

Isso ficou claro quando jihadistas mataram mais de 250 drusos em Sweida em 2018. Houve comoção internacional e protestos em Israel. A liderança drusa israelense exigiu que o governo se posicionasse.

A situação voltou a se complicar nesta semana. E Israel novamente agiu. Na província de Suwayda, onde vivem cerca de 700 mil drusos, combatentes do Estado Islâmico e da Frente al-Nusra retomaram ações violentas. Essas facções radicais consideram os drusos hereges e buscam eliminar minorias religiosas das áreas que ocupam.

Leia mais: “Israel intensifica bombardeios contra Damasco, e abre nova frente de conflito no Oriente Médio”

Os ataques não são novidade. Desde o início da guerra, em 2011, os drusos convivem com ameaças constantes. Entre 2013 e 2018, jihadistas avançaram no sul sírio. Chegaram a operar perto da fronteira com Israel e das principais aldeias drusas.

Em 2015, o vilarejo de Hader, nas Colinas de Golã, quase foi tomado pela Frente al-Nusra, afiliada da al-Qaeda na Síria e comandada pelo atual presidente sírio.

Moradores armados, com apoio de milícias pró-regime, impediram a ocupação. Dois anos depois, em 2017, um carro-bomba matou nove civis drusos. O caso gerou protestos em Israel. O Exército israelense divulgou nota garantindo proteção à população de Hader.

Mas o pior veio naquele mês de julho de 2018. O Estado Islâmico atacou vilas em Suwayda e matou mais de 250 pessoas. A maioria era civil. Mulheres e crianças foram sequestradas.

O líder espiritual druso em Israel, Mowafaq Tarif, classificou, segundo o Israel Hayom, o massacre como “um massacre étnico brutal”.

Ahmed al-Sharaa, tenta demonstrar estabilidade. Mas os fatos mostram o contrário. Milícias armadas circulam livremente. O governo perdeu o controle. Os ataques se espalham sem resposta das autoridades.

Assim como os drusos, os alauítas e os cristãos também foram vítimas de atentados recentes. Em março, jihadistas ligados ao regime mataram dezenas de alauítas. Em junho, um homem-bomba tirou a vida de 20 cristãos na igreja Mar Elias, em Damasco.

Al-Sharaa não comanda o país de fato. A Síria mergulha de novo no caos. Grupos extremistas locais ganham força. Potências regionais como Turquia, Qatar e Arábia Saudita se envolvem cada vez mais. O risco de uma nova guerra civil, desta vez sem uma figura central como o ex-presidente Bashar al-Assad, é mesmo real.

Para Israel, a preocupação vai além das fronteiras. Ataques esporádicos podem aumentar. A crise exige resposta estratégica. Qualquer ação exige cautela, principalmente com a Turquia, aliada de al-Sharaa. Uma nova postura internacional será necessária.

O apoio dos Estados Unidos, que recentemente reconheceu o novo governo sírio, será decisivo. Inclusive para um diálogo que ajude a fortalecer o atual governo.


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