Israel concluiu que parte do estoque subterrâneo de urânio enriquecido a 60% do Irã sobreviveu aos ataques realizados pelos Estados Unidos no final de junho deste ano. A informação foi divulgada por um alto funcionário israelense ao jornal norte-americano New York Times nesta quinta-feira, 10, em anonimato.
O material remanescente, segundo essa avaliação, ainda pode estar acessível a engenheiros nucleares iranianos. De acordo com o funcionário, o movimento em direção a uma ofensiva militar contra o Irã começou no fim do ano passado, quando serviços de inteligência israelenses detectaram atividades nucleares no país persa.
Segundo ele, essa atividade foi observada logo depois que a Força Aérea de Israel matou Hassan Nasrallah, líder do grupo Hezbollah, apoiado pelo Irã e sediado no Líbano. Diante do cenário, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, teria decidido preparar uma ofensiva, com ou sem apoio dos EUA.
Durante os ataques, os EUA utilizaram bombas com capacidade de perfurar bunkers contra dois dos principais locais de enriquecimento iranianos, e lançaram mísseis Tomahawk a partir de submarinos contra um terceiro local. As forças conjuntas tinham como objetivo atingir áreas onde o urânio enriquecido poderia ser convertido em material utilizável em armas.
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No ataque contra a instalação de Isfahan, uma das mais protegidas do Irã, os EUA fecharam diversas entradas e destruíram laboratórios responsáveis por converter o urânio em forma metálica, necessária para ser usado em ogivas.
No entanto, o estoque principal armazenado em tambores subterrâneos resistiu. “O local de armazenamento em Isfahan era muito profundo até mesmo para as armas norte-americanas mais potentes destruírem”, afirmou o funcionário israelense.
Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou acreditar que “grande parte do estoque armazenado no laboratório nuclear em Isfahan foi transferido antes que as armas israelenses e norte-americanas atingissem o local”.
Em declarações públicas, o governo norte-americano manteve a narrativa de destruição total da infraestrutura nuclear iraniana. “Como o presidente Trump disse muitas vezes, a Operação Martelo da Meia-Noite obliterou totalmente as instalações nucleares do Irã”, afirmou a porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly.
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Depois dos bombardeios, o Irã expulsou os inspetores da AIEA que estavam em Teerã e desligou parte das câmeras e dispositivos de monitoramento da agência. Com isso, a principal fonte de informações sobre as atividades nucleares iranianas foi interrompida. “O país está ficando às escuras”, disse Ray Takeyh, especialista do Conselho de Relações Exteriores.
Takeyh argumentou ainda que o Irã pode passar a dispersar suas operações nucleares em pequenos centros espalhados pelo território. “O que os iranianos aprenderam é que mesmo algo enterrado numa montanha pode ser bombardeado.”
A destruição das cerca de 18 mil centrífugas operacionais nos locais de Natanz e Fordo foi reconhecida por fontes israelenses, norte-americanas e por especialistas independentes. “Combustível e equipamentos no local mais protegido, Fordo, estão soterrados sob uma montanha, devastados e obliterados”, afirmou o secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth.


No entanto, a incógnita permanece sobre quanto tempo o Irã levaria para restabelecer a capacidade perdida e se conseguiria fazê-lo de forma oculta. Antes dos ataques, o país construía duas novas instalações subterrâneas nas imediações de Isfahan e Natanz.
Para Israel e Estados Unidos, a principal preocupação agora é se o Irã tentará resgatar o urânio enriquecido armazenado, tarefa que, segundo autoridades israelenses, seria difícil de ocultar e daria tempo para uma nova ofensiva.
O combustível de 60% de pureza está a poucos passos do grau armamentista, geralmente em torno de 90%. A maior parte do esforço técnico para alcançar esse nível ocorre nas primeiras etapas iniciais de enriquecimento — motivo pelo qual o material remanescente continua um foco de vigilância.
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