Depois de críticas direcionadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto à sua atuação internacional e à popularidade no Brasil, a revista britânica The Economist recebeu uma resposta oficial do Itamaraty, nesta terça-feira, 1º. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, assinou a carta, em que contestou argumentos da publicação do domingo 29.
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No artigo, a revista questiona a relevância do Brasil em temas globais e sugere que Lula seria “incoerente no exterior” e “impopular em casa”. O texto também critica a postura do presidente diante dos ataques dos Estados Unidos e Israel ao Irã e lembra que o governo brasileiro, no dia 22 de junho, condenou “veementemente” essas ações e classificou-as como “violação da soberania do país persa e do direito internacional”.
Recomendações e críticas de The Economist a Lula
Entre as observações feitas pela The Economist, está a recomendação para que Lula “pare de fingir que o Brasil é importante em questões de guerra na Europa ou no Oriente Médio e se concentre em questões mais próximas de casa”. A participação do Irã no grupo dos Brics em 2024 também serviu de base para críticas ao alinhamento do Brasil.
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Segundo a revista, a presença do país no bloco, que reúne 11 economias emergentes e realizará sua cúpula de 2025 no Rio de Janeiro, faz o Brasil parecer “cada vez mais hostil ao Ocidente”.
O texto ainda menciona que Lula teria se aproximado de lideranças orientais, mas não buscou fortalecer laços com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Esse fato, conforme o texto, torna o Brasil “a maior economia cujo líder não apertou a mão do presidente norte-americano”.


Em relação aos países vizinhos, a publicação sugere que o presidente “parece não estar disposto ou não é capaz de reunir as nações latino-americanas para apresentar uma frente unida contra as deportações de imigrantes e a guerra tarifária de Trump”.
Itamaraty rebate críticas e defende atuação internacional


Na carta enviada à revista The Economist, Mauro Vieira defendeu que o Brasil não faz “tratamento à la carte do direito internacional” e ressalta a “autoridade moral” de Lula, a qual seria “indiscutível”. O chanceler também destacou a proposta do presidente para taxação de bilionários, que “incomodou muitos oligarcas”.
O ministro reforçou o papel dos Brics, liderados por Lula, “na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico”, e sustentou que a posição brasileira sobre os ataques ao Irã, especialmente às instalações nucleares, está alinhada com esses valores. A carta também ressaltou que Lula não agiu de forma incoerente ao condenar a invasão russa à Ucrânia e defendeu uma solução diplomática para o conflito.
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“Lula não é popular entre os negacionistas climáticos”, escreveu o chanceler. “Em face de uma nova corrida armamentista, ele está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global.”
Leia a carta na íntegra abaixo
“Em relação ao recente artigo publicado na sua página na internet em 29 de junho, gostaria de fazer as seguintes considerações.
Poucos líderes mundiais, como o Presidente Lula, podem dizer que sustentam com a mesma coerência os quatro pilares essenciais à humanidade e ao planeta: democracia, sustentabilidade, paz e multilateralismo. Como Presidente do G20, Lula construiu um difícil consenso entre os membros, no ano passado, e ao longo do processo logrou criar uma ampla aliança global contra a fome e a pobreza. Também apresentou uma ousada proposta de taxação de bilionários que terá incomodado muitos oligarcas.
O Brasil vê o BRICS como ator incontornável na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico. Nossa presidência trabalhará para fortalecer o perfil do grupo como espaço de concertação política em favor da reforma da governança global e como esfera de cooperação em prol do desenvolvimento e da sustentabilidade.
Sob a liderança de Lula, o Brasil tornou-se um raro exemplo de solidez institucional e de defesa da democracia. Mostrou-se um parceiro confiável que respeita as regras multilaterais de comércio e oferece segurança a investidores. Como um país que não tem inimigos, o Brasil é também um coerente defensor do direito internacional e da resolução de disputas por meio da diplomacia. Não fazemos tratamento à la carte do direito internacional nem interpretações elásticas do direito de autodefesa. Lula é um eloquente defensor da Carta das Nações Unidas e das Convenções de Genebra.
A posição do Brasil quanto aos ataques ao Irã e, sobretudo, às instalações nucleares é coerente com esses princípios. Nossa condenação responde ao fato elementar de que essas ações constituem uma flagrante transgressão da Carta da ONU. Ferem, em particular, as normas da Agência Internacional de Energia Atômica, organização responsável por prevenir contaminação radioativa e desastres ambientais de larga escala.
Na gestão do Presidente Lula, o Brasil condenou a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo em que apontou a necessidade de abrir caminhos para uma resolução diplomática do conflito, ainda em 2023.
Lula não é popular entre os negacionistas climáticos. Em face de uma nova corrida armamentista, ele está entre os líderes que denunciam a irracionalidade de investir na destruição, em detrimento da luta contra a fome e do aquecimento global.
Para humanistas de todo o mundo, incluindo políticos, líderes empresariais, acadêmicos e defensores dos direitos humanos, o respeito à autoridade moral do presidente Lula é indiscutível.”