O deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) protocolou nesta terça-feira, 8, um requerimento em que solicita a convocação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, para prestar esclarecimentos sobre a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Favela do Moinho, em São Paulo.
A agenda teria sido articulada por meio da Associação da Comunidade do Moinho, entidade acusada de possuir ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com reportagem do portal Metrópoles, a sede da associação foi utilizada como depósito de entorpecentes e seria comandada por um integrante da facção criminosa.
Alessandra Moja Cunha, presidente da entidade, é irmã de Leonardo Monteiro Moja, conhecido como “Léo do Moinho”, acusado de ser o antigo chefe do tráfico local, preso em agosto de 2023. O Ministério Público de São Paulo afirma que a favela está sob controle da organização criminosa.
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Na justificativa do requerimento, Kataguiri argumenta que “não se trata de um simples erro de agenda, mas de uma grave articulação institucional entre a Presidência da República e uma entidade sob sérias suspeitas”. Para o parlamentar, a visita “levanta dúvidas sobre o comprometimento do governo no enfrentamento ao crime organizado”.
A agenda oficial na comunidade foi precedida por encontros entre representantes da Secretaria-Geral e membros da associação. Dois dias antes da visita de Lula, o próprio Macêdo esteve no local para tratar dos detalhes do evento.
Segundo a reportagem, entre novembro de 2024 e junho de 2025, ocorreram pelo menos cinco reuniões entre a entidade e integrantes do governo federal, inclusive com secretários-executivos de pastas como Justiça, Direitos Humanos e Gestão.
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Kataguiri questiona critérios e cobra esclarecimentos
Durante a passagem pela favela, Lula anunciou o compromisso de realocar cerca de 900 famílias que vivem na região. O terreno, pertencente à União, deverá ser transformado em parque. Segundo as informações divulgadas, cada núcleo familiar receberá até R$ 250 mil — R$ 180 mil provenientes do governo federal e R$ 70 mil do governo estadual.
De acordo com relatórios da Receita Federal, a associação está registrada no mesmo endereço onde, em agosto de 2023, a Polícia Civil encontrou cocaína, crack e maconha durante uma operação. Ainda segundo o Ministério Público, a ausência de presença efetiva do Estado na área teria favorecido o domínio da família Moja como base de distribuição de drogas.
A filha de Alessandra, Yasmin Moja, também participou das tratativas com o governo. Em uma das ocasiões, representou a associação em reuniões com autoridades. Em outro momento, Alessandra apareceu em vídeo divulgado nas redes sociais ao lado da secretária-executiva Kelli Mafort e outros representantes do governo, enquanto moradores manifestavam apoio à permanência na área.
Em resposta às críticas, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou nota oficial em que afirma que a agenda de Lula na favela “teve caráter institucional e público, voltado à escuta da comunidade e ao anúncio de políticas públicas”.


O texto também sustenta que “a interlocução com representantes comunitários é uma prática essencial de qualquer governo que atue com políticas públicas voltadas à inclusão, à moradia e à promoção da dignidade”.
A Secom esclarece ainda que “a interlocução com o presidente se deu por meio de Flavia Maria da Silva, liderança designada pela comunidade como porta-voz, com trajetória reconhecida e idônea”. Conforme a nota, a programação incluiu um ato na quadra poliesportiva da comunidade, visita a uma escola e uma visita de cortesia à residência da líder comunitária.
A segurança da comitiva presidencial, segundo a mesma nota, “foi conduzida de forma rigorosa pelos órgãos competentes […] não tendo sido identificado qualquer risco à integridade das autoridades presentes”.
O requerimento de Kataguiri ainda será analisado pela Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. Caso aprovado, Macêdo poderá ser convocado a prestar esclarecimentos formais sobre os critérios de articulação da visita presidencial e os contatos institucionais com a associação.
Leia também: “A volta dos Irmãos Petralha”, reportagem de Augusto Nunes e Eugenio Goussinsky publicada na Edição 239 da Revista Oeste