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Léo Scienza: conheça o brasileiro que fez ‘modo carreira’

Toda regra tem uma exceção. Para muitos, a frase pode ser apenas um clichê; para Léo Scienza, foi o caminho de sua carreira.

Em um futebol com processos e formação cada vez mais estabelecidos e profissionalizados, é inimaginável pensar em um jogador sem ter feito adequadamente a base alcançando o mais alto nível do esporte. Porém, para o brasileiro, não. Isso não é apenas imaginável, como foi alcançado com uma trajetória bastante inusitada.

“Parece que estou jogando modo carreira no Fifa”, disse em entrevista à ESPN o meia-atacante do Heidenheim, time que disputa sua primeira competição internacional na história nesta temporada. A estreia da equipe alemã nos playoffs da Conference League é contra o Häcken, na Suécia, às 14h (de Brasília).

Após ter alcançado a Bundesliga de forma inédita em 2023, o modesto time alemão de uma cidade de cerca de 50 mil habitantes estreou na elite com um surpreendente oitavo lugar. Agora, vê o seu próprio conto de fadas se misturar com o de seu mais novo reforço, e a estreia já deixou boa impressão. Léo foi titular e deu uma assistência na vitória por 4 a 0 sobre o Villingen na primeira fase da Copa da Alemanha.

O gaúcho de Venâncio Aires começou no futsal no Assoeva, chegou a passar pela Chapecoense, alternou campo e salão, mas nunca de uma forma definitiva. A saudade de casa o fez tentar iniciar a carreira na Lajeadense, mas não se firmou profissionalmente.

Aos 20 anos, tentou a sorte em uma oportunidade que começaria bem diferente do esperado.

“Um brasileiro que morava lá conhecia algumas pessoas, que estavam tentando trazer alguns jogadores do Brasil para lá, para tentar fazer testes. Me falaram que eu faria teste na 1ª e na 2ª divisão. Chegando lá, me falaram: ‘Temos um clube na 5ª divisão para você fazer teste'”.

E não para por aí.

“Foi me prometido um salário de 500 euros no mês, comida, tudo normal. Fiquei um ano e meio lá e nunca vi um euro. Nunca ganhei salário, ganhava comida, morava no sótão do dono do clube.”

Com visto apenas de turista, Léo Scienza até pensou em conciliar a carreira atuando no Fanna BK com outra profissão, até pelo fato de os treinos serem somente duas vezes por semana, mas legalmente não era uma possibilidade. Posteriormente, ele até conseguiu recuperar a cidadania luxemburguesa por conta dos seus ancestrais, algo que, no entanto, só o liberaria a jogar pela seleção caso more por cinco anos no país.

O sonho falava mais alto, e, para ele, o fato de estar na Europa parecia algo mais estratégico quanto ao surgimento de uma oportunidade. Foi exatamente o que ocorreu, graças a um amigo sul-americano que mora na Suécia desde pequeno.

“O melhor amigo dele é um empresário que mora em Hamburgo, e que inclusive virou o meu empresário. O Carlos (amigo) ligou para o empresário, viram os meus vídeos e resolveram em levar para o Schalke 04. (…) Já estava com quase 22 anos. Não tinha outra possibilidade, porque nunca tive a chance de jogar sub-15, sub-17 em grandes clubes, e vem a chance de fazer teste no sub-23 do Schalke.”

O teste foi bem-sucedido e representou uma virada de chave na vida do brasileiro, que passou a atuar na quarta divisão pelo Schalke II. “. Foi a primeira vez que assinei um contrato, primeira vez que treinei todo dia”.

Após duas temporadas em Gelsenkirchen, veio a mudança para o Magdeburg, onde viveu a experiência de encarar o autor de um gol de título de Copa do Mundo, uma vez que chegou a ser adversário do Eintracht Frankfurt de Mario Götze na primeira fase da Copa da Alemanha de 2022-23.

“Conversei em português com o Kevin Trapp (ele forma um casal com a modelo brasileira Izabel Goulart). O Tuta fez um pênalti em mim naquele jogo, conversamos um pouco também. Trocamos camisas, troquei com mais de um neste jogo”, relembrou com um riso no rosto.

“O Götze é um cara mundialmente famoso, mas é uma pessoa normal, conversa contigo normal. Trocou a camisa, conversou, ele não só pegou a camisa e saiu simplesmente. E eu falei para ele que não gosto dele, mas, por ele ter me dado a camisa, eu o perdoo”, brincou.

Apesar desse momento inesquecível, o mesmo pode não se dizer da sequência de sua carreira no Magdeburg, tendo até parado no segundo time, com o qual se destacou na modesta sexta divisão.

“Decidi que não queria mais ficar lá, porque achei que não estava tendo a oportunidade que eu achava que merecia. Pedi para cancelarem meu contrato, e daí veio a melhor decisão da minha vida até o momento.”

Ir para o Ulm no meio de 2023, de fato, transformou a carreira de Léo Scienza. Com 12 gols e 17 assistências, o ponta foi eleito o melhor jogador da 3ª divisão, competição em que seu time foi campeão, e chamou muita atenção.

“Teve proposta do Hamburgo, de diversos times da segunda divisão, o Darmstadt, que tinha acabado de cair. Veio o Heidenheim. Hoffenheim e Stuttgart também vieram.”

A escolha pelo Heidenheim, por sinal, foi estratégica e com pé no chão.

“Acho que tomei a decisão certeza, porque aqui você não tem pressão para jogar lá em cima na Bundesliga, ganhar a Bundesliga, se classificar à Champions League. Para um jogador da terceira liga, que está agora com 25 anos, mas que não teve até agora muitas experiências, é a melhor escolha que eu possa ter feito.”

É igualmente ponderada e irônica a cautela de não queimar etapas para alguém que superou tantos obstáculos nos últimos cinco anos, inclusive queimando etapas.

Para conseguir chegar ao mais alto nível do futebol alemão, o brasileiro precisou, mais do que uma chance, compensar o atraso no aprendizado tático, em questões coordenativas e, principalmente, no aspecto físico. “Para eu vir parar onde eu estou, todas as etapas foram muito rápidas.”

“Com toda humildade do mundo, eu tenho muito orgulho de mim, por como eu consegui aprender, não falar muito e escutar mais, observar o que o treinador, seus colegas de time têm para te ajudar.”

Com apenas 25 anos, Léo Scienza sorri para o futuro com todo o aprendizado e superação que o passado lhe trouxe. Motivos não faltam para sentir orgulho.

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