Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Lula cresce com os pobres e reage a Trump para unir o país

O Brasil caminha para integrar a metade mais pobre do mundo em renda per capita, uma estatística que, em tese, deveria gerar indignação nacional. No entanto, em um ambiente de alta polarização, esse dado ganha contornos estratégicos para o governo Lula, que tem nas camadas mais pobres da população seu principal reduto eleitoral. O que é ruim para a nação pode ser funcional para o projeto de poder.

Segundo estimativas recentes, a renda per capita brasileira está estagnada e o país perde posições no ranking global, apesar de ainda figurar entre as maiores economias em termos absolutos de PIB. Na prática, isso significa que o brasileiro médio está mais pobre que a média mundial, mesmo em um país com potencial agrícola, industrial e energético expressivo. Essa distorção é o reflexo de uma economia desequilibrada, concentrada e dependente de políticas de transferência.

É nesse cenário que Lula prepara seu discurso de reeleição: o de protetor dos pobres frente a uma elite vista como insensível e contrária às conquistas sociais. Programas como o Bolsa Família, que hoje atende mais de 21 milhões de famílias com benefícios de no mínimo R$ 600 mensais, serão o eixo central da narrativa governista. O recado é direto: “se Lula cair, os benefícios caem juntos”.

Essa estratégia tem precedente. Em 2006, 2010 e 2014, o PT conseguiu ampliar sua base política nas regiões mais pobres do país, associando sua permanência no poder à continuidade dos programas sociais. Agora, com a volta de Lula, esse modelo ganha nova roupagem, mais agressiva: com um discurso polarizado que confronta diretamente “ricos contra pobres” e responsabiliza a oposição por tentar impedir que o governo “cuidasse dos mais necessitados”.

A retórica é simples, porém potente: “eles querem cortar, nós queremos cuidar”. E ganha força em um contexto de impasse fiscal, onde qualquer proposta de contenção de gastos é facilmente interpretada como ataque aos mais vulneráveis.

Contudo, a oposição também contribui, mesmo que involuntariamente, para esse quadro. Sem apresentar um projeto claro de superação da pobreza, desenvolvimento produtivo e mobilidade social, seus parlamentares — muitas vezes divididos — acabam cedendo à pressão popular e votando a favor da ampliação de benefícios sociais, com receio do custo político de se opor. O resultado é um ciclo em que, na prática, a oposição alimenta o mesmo cenário que fortalece eleitoralmente Lula no Congresso Nacional.

Além disso, Lula encontrou uma nova oportunidade de agregar o povo em torno de si diante das críticas recentes de Donald Trump ao Brasil e aos Brics, uma postura que desperta o sentimento de união patriótica e reforça sua liderança diante de ataques externos.

Enquanto isso, o Brasil empobrece. A dívida pública se aproxima de 80% do PIB, os juros continuam altos para conter a inflação alimentada pelo gasto público, e a produtividade segue em baixa. Benefícios como o Bolsa Família aliviam a miséria, mas não resolvem suas causas. Pior: sua expansão contínua sem contrapartida produtiva gera dependência estrutural.

A verdade incômoda é que o país está diante de um dilema: transformar a proteção social em ponte para a autonomia produtiva ou manter-se preso ao ciclo da pobreza financiada pelo Estado. Lula escolheu a segunda via, ao menos enquanto durar sua aposta eleitoral.

Se vencer, terá capital político para seguir nesse modelo. Mas, se perder, deixará ao próximo governo uma bomba fiscal e social de efeitos imprevisíveis, e uma população ainda mais cética em relação a qualquer promessa de futuro que não passe pela dependência do Estado.

Miguel DaoudMiguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

Compartilhe:

Veja também: