O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender que o comércio internacional deixe de ser dependente do dólar. A fala, recorrente em seus discursos, ganha peso especial nesta semana: no domingo, dia 26, Lula se encontrará com Donald Trump, e o tema deve estar no centro da conversa.
Por trás do discurso está uma provocação geoeconômica. O dólar reina desde Bretton Woods (1944) como moeda global, garantindo aos Estados Unidos um privilégio único: financiar déficits a juros baixos, ditar políticas monetárias que afetam o mundo e usar o sistema financeiro como instrumento de poder.
Mas, como lembrou Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, “o predomínio do dólar está ameaçado”. Países de economias emergentes vêm buscando alternativas, da China aos Brics, para escapar da dependência de Washington.
Ao insistir na “desdolarização” do comércio, Lula envia um recado direto a Trump: se os EUA continuarem tarifando o mundo e usando o dólar como arma, o mundo encontrará caminhos para negociar em outras moedas, enfraquecendo a hegemonia americana.
Trump, por sua vez, tem razões para irritar-se. Sua política de tarifas e sanções pode, ironicamente, acelerar a perda do poder do dólar, empurrando parceiros comerciais a buscar novos sistemas de pagamento e reservas internacionais.
Para o Brasil, e especialmente para o agronegócio, o tema é estratégico. Reduzir a dependência do dólar significa menos vulnerabilidade cambial, mais autonomia nas exportações e novos espaços de negociação com seus compradores.
No encontro do dia 26, Lula deve explorar justamente esse argumento: o protecionismo americano pode sair caro aos próprios Estados Unidos. Ao usar o dólar como arma, Trump pode acabar minando o maior ativo da América, sua moeda.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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