Durante as eleições de 2024, Lula prometeu picanha barata para o povo. Mas faltou combinar com os criadores, os frigoríficos e os açougues e, claro, os consumidores. Ou seja, com o mercado. Resultado: a promessa ficou na campanha. Agora, a tarifa extra imposta por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, sobre a carne bovina do Brasil pode derrubar o preço — mas de um jeito que tende a prejudicar tanto quem vende quanto quem compra.
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Em julho, Trump anunciou a possível taxação de 50% para tudo o que for importado do Brasil. Na quarta-feira, 30, perto do fim do mês, o presidente dos EUA assinou um decreto para isentar alguns produtos. O governo Lula correu para informar sobre a mudança — mas a picanha, assim como toda a carne bovina, não fez parte da isenção.
O Brasil é um gigante nesse mercado. A demanda externa deu mais impulso à produção dentro do país. Embora a China seja o maior comprador internacional, os EUA também são importantes clientes dos frigoríficos brasileiros. Mantendo relações com as duas nações mais ricas do planeta, o agronegócio nacional vendeu mais proteína animal, o que aumentou a produção e também a oferta interna. Tanto os estrangeiros quanto os brasileiros passaram a comer mais picanha, enquanto a produção local crescia. Não foi mágica. É mercado.
Se o preço melhora, mais gente quer produzir. Mais produtores significam aumento dos investimentos. O aumento dos investimentos faz crescer o número de empregos. O crescimento do emprego gera salários melhores — e, quando o salário sobe, sobra mais dinheiro para comprar carne. Todo mundo ganha, simples assim.
Foi exatamente assim no Brasil: à medida que a produção e as exportações cresceram, também aumentou o consumo interno. Aliás, o maior cliente dos frigoríficos do país é a população brasileira, responsável pelo consumo de 70% da produção nacional.
O problema é quando a queda dos valores acontece por outro caminho: o da redução da demanda. Isso pode acontecer com a tarifa extra anunciada por Trump. Aí, todo mundo — ao menos no Brasil — pode perder muito. Queda de preço pela redução da demanda diminui o apetite dos produtores, que passam a investir menos e podem até demitir. E, para quem perde o emprego, a tendência é não ter dinheiro para comprar muita coisa. Não há Bolsa Família que resolva.
Lula e a picanha sem preço
Em 2024, o Brasil vendeu 2,5 milhões de toneladas de carne bovina. O peso revela um aumento de 25% sobre o ano anterior. Parte desse crescimento se deu em razão do mercado norte-americano: eles ocupam a segunda posição no ranking de exportações da carne brasileira e dobraram as compras de um ano para o outro.
O primeiro lugar é da China, responsável por quase metade das compras. Por sua vez, os EUA compraram quase 200 mil toneladas. Somando a picanha e todos os outros cortes, o país de Trump gastou quase US$ 1 bilhão com a carne bovina do Brasil em 2024 — é um mercado que Lula não pode desprezar. Pelo menos, não deveria.