O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encontrou na decisão do presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, de aumentar para 50% as tarifas sobre todos os produtos exportados pelo Brasil, um caminho para tentar conter a sua queda de popularidade.
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Para o cientista político Elias Tavares, pós-graduado em Comunicação Eleitoral pelo Centro Universitário Internacional (Uninter), o presidente brasileiro “está aproveitando politicamente” as repercussões da crise.


“Há, sim, uma clara intenção eleitoral”, afirma Tavares a Oeste. “Lula está diante de um cenário de estagnação econômica e desgaste político, e vê nesse embate com os EUA uma oportunidade de recuperar capital simbólico junto a setores da população que valorizam uma postura firme e nacionalista.”
Tavares acresenta:
“Ao construir um inimigo externo e se colocar como defensor do Brasil, ele tenta ativar um instinto patriótico no eleitor, mirando 2026. É uma estratégia clássica de mobilização política em tempos de baixa aprovação.”
Ele acredita que esta estratégia até pode funcionar no curto prazo, do ponto de vista político. Para o professor, o discurso nacionalista tende a mobilizar segmentos da sociedade que querem ver um presidente forte, que não se curva a Washington. Mas, ele não acredita que isto deva durar muito tempo.
“Do ponto de vista econômico, no entanto, o risco é alto”, destaca o cientista político. “O Brasil depende de cadeias produtivas e exportações para manter competitividade. Uma escalada protecionista pode isolar o país. Em outras palavras, é uma cartada de alto risco: pode dar um ganho simbólico e momentâneo, mas provocar prejuízos reais à economia, ao comércio e à estabilidade institucional se o impasse persistir.”
Lula, alta das tarifas e STF
Na opinião da cientista política, Juliana Fratini, doutora e mestre em Ciências Políticas, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Lula busca passar uma áurea de dignidade e capacidade de manutenção da soberania brasileira perante críticas de uma liderança mais potente na economia. Isto vale também para o confronto entre as ideias liberais-conservadoras e as de esquerda.
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“Ele confia na percepção e atuação de terceiros como o Itamaraty e mesmo a opinião pública e de países aliados do Brasil para pressionar o presidente Trump a recuar.”
O presidente do Brasil, segundo ela, está consciente de que Trump também utilizou esta alta como uma forma de pressão ligada às últimas atitudes do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Ademais, Lula foi pego de surpresa pela decepção e sabe que não se trata apenas de uma sanção econômica, mas também uma orientação política para que a atuação do STF seja amenizada quanto à posição sobre o uso das redes e a condição de Bolsonaro.”
O vice-governador de São Paulo, Felício Ramuth (PSD-SP), concordou com a tese de que foi o próprio Lula quem provocou esta situação, quando o presidente defendeu a redução na utilização do dólar em negócios internacionais.
Lula deu esta declaração na última reunião do grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics), no Rio de Janeiro. Em entrevista ao Arena Oeste, nesta quinta-feira, 10, Ramuth afirmou:
“Os EUA são o maior parceiro de exportações do Estado de São Paulo”, destacou o vice-governador. “Foi uma reação do presidente Trump às ações do governo Lula, em especial do presidente, não só por aquilo que ele vem fazendo do ponto de vista geopolítico, mas também pela última reunião do Brics.”