A incapacidade do governo brasileiro de avançar de forma consistente nas negociações comerciais com os Estados Unidos expõe um risco crescente de fragilização da marca Brasil no cenário internacional. A decisão norte-americana de reduzir em apenas 10% as tarifas aplicadas a determinados produtos brasileiros, embora anunciada como um gesto de boa vontade diplomática, está longe de representar um ganho real para o setor produtivo nacional. Ao contrário: cria-se uma falsa percepção de que os pleitos brasileiros foram atendidos, enquanto as condições estruturais que travam a competitividade das exportações permanecem intactas.
Essa taxa simbólica de redução tarifária não altera a equação econômica que pesa sobre os exportadores. O produtor brasileiro segue enfrentando custos logísticos elevados, volatilidade cambial e uma carga tributária complexa, competindo em um mercado global agressivo onde cada ponto percentual de tarifa impacta diretamente a margem de lucro. Os Estados Unidos, ao optarem por um gesto mínimo, sinalizam que não estão dispostos a abrir espaço real para produtos brasileiros, e o governo brasileiro, ao aceitar e celebrar essa pequena concessão, transmite uma imagem de fraqueza negociadora. Para parceiros internacionais atentos, isso reduz a percepção de força estratégica do país e compromete a confiança na capacidade de Brasília de defender seus interesses comerciais.
O impacto é ainda mais severo para pequenos e médios produtores rurais, que dependem de previsibilidade e acesso a mercados sólidos para garantir a sustentabilidade de seus negócios. Ao contrário dos grandes grupos exportadores — que contam com reservas financeiras, equipes especializadas e capacidade de desviar cargas para mercados alternativos —, os pequenos produtores operam com margens estreitas e menor tolerância a oscilações. A manutenção de tarifas elevadas nos EUA limita a competitividade de produtos como café, frutas, proteína animal, açúcar, etanol e uma série de itens de alto valor agregado oriundos da agricultura familiar e da agroindústria regional.
Sem uma diplomacia comercial firme, o Brasil se vê pressionado a buscar novos mercados, muitas vezes menos vantajosos, mais instáveis ou distantes, aumentando custos logísticos e reduzindo o retorno econômico ao produtor. Isso leva a um ciclo perverso: baixa competitividade reduz as exportações; exportações menores enfraquecem a capacidade de investimento na produção; produtividade menor compromete a renda no campo e afeta a vitalidade econômica de centenas de municípios onde a agropecuária é a espinha dorsal do desenvolvimento local.
A marca Brasil — historicamente associada à potência agroambiental, à produção sustentável e à segurança alimentar mundial — perde força quando o país se mostra incapaz de assegurar condições comerciais justas e previsíveis para seus produtores. A imagem internacional de um país que produz com excelência, mas não consegue garantir acesso competitivo aos principais mercados, mina a confiança de compradores e investidores. Em um mundo onde reputação é ativo estratégico, essa erosão custa caro.
Portanto, é imperativo que o governo brasileiro abandone o discurso triunfalista e adote uma postura mais técnica, coordenada e assertiva nas negociações com os Estados Unidos e outros parceiros. A redução de 10% nas tarifas é insuficiente, cosmética e perigosa. O Brasil precisa exigir espaços de diálogo real que considerem a relevância do agro para a economia nacional e para a segurança alimentar global. Somente uma diplomacia econômica forte, baseada em dados, planejamento e defesa intransigente dos interesses do produtor rural, poderá evitar que a marca Brasil se desgaste e que pequenos e médios agricultores paguem a conta da inabilidade negociadora.

*Tirso Meirelles é presidente do Sistema Faesp/Senar-SP. Economista e produtor rural, atua há décadas no fortalecimento da produção paulista
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