Ao final de julho, o governo dos Estados Unidos anunciou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre o café brasileiro. A decisão gerou reação imediata do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), que alertou para os riscos da medida tanto para a economia brasileira quanto para a norte-americana.
Em carta enviada ao Escritório do Representante de Comércio dos EUA nesta segunda-feira, 18, o Cecafé informa que o Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo e o segundo maior consumidor. Em 2024, o país exportou cerca de 50 milhões de sacas para mais de 120 países, o que representou mais de US$ 10 bilhões em receitas de exportação.
+ Leia mais notícias do Agronegócio em Oeste
O setor reúne mais de 250 mil cafeicultores, dos quais cerca de 70% têm propriedades com menos de 20 hectares. Além disso, quase 80% têm acesso a crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
O café brasileiro representa mais de 30% do mercado norte-americano e os EUA são o principal destino do produto, com cerca de 15% das exportações. De acordo com o Cecafé, marcas tradicionais do setor nos EUA poderiam ser diretamente impactadas, já que “suas qualidades naturais — aroma, sabor, corpo, acidez e doçura — são distintivas e insubstituíveis”.
Leia mais:
Impacto econômico nos Estados Unidos
Estudo econômico encomendado pela Associação Nacional do Café dos EUA (NCA) revela que o setor de café movimenta mais de US$ 300 bilhões por ano no país. São mais de 2 milhões de empregos e cerca de US$ 100 bilhões em salários, com arrecadação de quase US$ 40 bilhões em impostos federais, estaduais e locais.
Outro dado destacado no material entregue às autoridades norte-americanas mostra que cada US$ 1 gasto na importação de café gera mais de US$ 40 adicionais na economia interna. Ao todo, mais de 200 milhões de norte-americanos consomem café diariamente, um hábito que movimenta aproximadamente US$ 300 milhões por dia.


A NCA também chamou atenção para o risco de aumento inflacionário. Em cinco anos, o preço médio da libra de café subiu quase 75%, e só no último ano houve alta estimada de mais de 10% por xícara.
O documento observa que mais de 200 milhões de consumidores norte-americanos e mais de 2 milhões de empregos dependem “de um suprimento seguro de café, que não está disponível nos EUA e não tem substituto”.
Defesa do setor brasileiro de café
Os exportadores brasileiros ressaltaram ainda o papel socioambiental da produção. O Cecafé informa que as lavouras estão distribuídas em quase 40 regiões agrícolas e que áreas de reserva legal e florestas preservadas somam mais de 50 mil km², o equivalente ao território da Suíça.
O setor emprega milhões de trabalhadores e tem impacto positivo sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos municípios produtores. Além disso, o Brasil desenvolveu a Plataforma de Monitoramento Socioambiental dos Cafés, em parceria com a Serasa Experian, para atender às exigências da União Europeia contra o desmatamento.
O sistema cruza dados de registros ambientais com imagens de satélite e embargos de órgãos oficiais, o que permite verificar se o café foi cultivado em áreas legalmente autorizadas e sem desmatamento a partir do ano de 2021.
Apelos por revisão sobre o café
Na carta enviada ao governo norte-americano, o Cecafé pediu que o café seja incluído na lista de exceções à tarifa de 50%. A entidade afirmou que continuará sua atuação junto à NCA para buscar a exclusão do produto.
Segundo o comunicado, “tal medida resultaria em aumentos significativos de preços e inflação, já que os custos adicionais serão inevitavelmente repassados aos consumidores”. O setor cafeeiro brasileiro reforça que, além de estratégico para o Brasil, o café é fundamental para a economia, a cultura e o cotidiano dos EUA.
Leia também: “Agro sem burocracia”, artigo de Artur Piva publicado na Edição 250 da Revista Oeste