Em 2016, bem antes do seu tremendo sucesso no Mundial de Clubes, Renato Gaúcho disse a frase que muitos consideram a essência do seu pensamento como treinador de futebol.

“Quem precisa aprender, estuda, vai pra Europa… Quem não precisa vai para praia. Eu falo isso, e muitos criticaram. Disseram: estão trazendo um treinador que estava jogando futevôlei. Eu pergunto, e agora? E ai? Futebol é como andar de bicicleta. Quem sabe, sabe. Quem não sabe, vai estudar”, disse o atual treinador do Fluminense logo após conquistar, com o Grêmio, a Copa do Brasil de 2016.

Nesta terça-feira, quando comanda o tricolor carioca em busca de uma vaga histórica na final do Mundial, contra o Chelsea, Renato terá pela frente um treinador que estudou, e muito, para ser treinador.

Enzo Maresca, de 45 anos, não foi um jogador brilhante como Renato Gaúcho. Mas teve uma carreira sólida como atleta, atuando em clubes como Juventus, Sevilla e Sampdoria.

Quando parou, e resolveu seguir a carreira de técnico, foi para Coverciano, a escola de treinadores da Federação italiana de Futebol, que fica em uma colina nos arredores de Florença, na Toscana.

Lá, se formou e ganhou a licença de treinador profissional da Uefa. Teve que fazer uma tese para a conclusão do curso, e resolveu fazer um paralelo entre futebol e outra de suas paixões: o xadrez.

Para Maresca, o tabuleiro serve de exemplo para o futebol tanto na parte tática quando mental, como afirmou em longa entrevista para o site “The Athletic”.

“O tabuleiro de xadrez é como um campo de futebol que pode ser dividido em três canais: um central e dois externos”, frisou. “No futebol, assim como no xadrez, um jogo interno pode ser mais interessante porque é o mais rápido e direto para o gol ou para o rei”, teorizou Maresca, que foi assistente de Guardiola no Manchester City antes de comandar o Leicester, fazer bom trabalho e ser contratado pelo Chelsea.

Mas é na força mental que Maresca mais vê como o xadrez pode ser inspiração para o futebol.

“O xadrez ensina você a controlar a excitação inicial quando vê algo bom e treina você a pensar objetivamente quando se vê em perigo”, diz o comandante do Chelsea.

“Um treinador só pode se beneficiar ao adquirir a mente de um bom jogador de xadrez”, acrescentou Maresca. “A prova disso é o desenvolvimento de uma série de habilidades mentais, que são excelentes para o córtex pré-frontal”.

“Nesta segunda-feira, em coletiva antes da semifinal do Mundial, Maresca foi só elogios para Renato Gaúcho e Fluminense.

“O Fluminense tem um treinador muito bom, com experiência, além de jogadores de experiência e qualidade, como Arias, Cano… São muitos jogadores bons. A essa altura do torneio, qualquer partida será muito difícil, porque a competição está chegando ao momento final.”

“O treinador [do Fluminense] tem muitos anos de experiência no futebol. O estilo dele eu vi nos jogos do Grêmio, não só no Fluminense, e é um estilo bastante claro. Como eu já disse, nesse estágio do torneio só teremos jogos difíceis”, completou Maresca.