Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Maria Clara Pacheco mira Mundial de Taekwondo para completar ano ‘perfeito’

O sorriso no rosto e a medalha no peito. Essa é a imagem de Maria Clara Pacheco ao ser campeã do Grand Prix de Muju, na Coreia do Sul, uma das quatro principais competições do circuito mundial de taekwondo.

A paulista, de 22 anos, conquistou o ouro no berço da modalidade ao derrotar, na decisão, ninguém menos que a atual campeã olímpica, a sul-coreana Kim Yu-jin, que lutava em casa. Mesmo diante da torcida adversária, Maria Clara brilhou e alcançou o terceiro grande título na temporada — antes, havia vencido o Grand Prix de Charlotte, nos Estados Unidos, em junho, e a Universíade, os Jogos Mundiais Universitários, em julho.

Invicta em 2025, a atleta brasileira constrói uma temporada praticamente perfeita, demonstrando uma evolução muito grande desde os Jogos Olímpicos de Paris no ano passado. Um cenário que contrasta com os momentos difíceis enfrentados nos últimos anos, desde sua transição ao profissional e até mesmo sua experiência ‘dolorosa’ nas Olimpíadas.

“Tudo melhorou: técnico, tático, físico e psicológico. Foi uma experiência… não vou dizer ruim, porque participar dos Jogos Olímpicos sempre é positivo, mas foi sofrida e dolorosa por ser eliminada na segunda luta”, contou Maria Clara em entrevista exclusiva à ESPN.

Participar de uma edição dos Jogos Olímpicos é um sonho para praticamente todo atleta de alto rendimento, mas há três anos, esse objetivo parecia muito distante para a lutadora brasileira.

“No começo, nem passava pela minha cabeça disputar os Jogos Olímpicos. Quando comecei no adulto, minha transição do júnior foi meio conturbada. Só tive alguns resultados faltando um ano e meio para Paris, então não esperava me classificar. Foi uma surpresa. Quando conquistei a vaga, fiquei muito feliz, agarrei aquela oportunidade e queria muito ser campeã. Então, foi uma frustração enorme.”

Maria Clara Pacheco foi eliminada nas quartas de final para a chinesa Luo Zongshi, cabeça de chave número um, de virada e voltou para o Brasil muito abatida. Com o tempo, o sentimento da experiência olímpica mudou.

“Consegui resignificar e entender que não era para ser. Naquele momento, eu não estava preparada e faltava muita coisa. Acredito que, neste ciclo, estarei mais pronta.”

Transição conturbada na base e dificuldades financeiras

A superação acompanha Maria Clara desde cedo. Considerada uma promessa no júnior, com medalhas em Mundiais de base, encontrou muitas dificuldades ao subir de categoria.

“Eu lutava até 49 kg, mas era muito difícil manter esse peso no adulto. Na primeira competição com 18 anos, consegui bater o peso, mas não rendi bem. Depois, tentei mais duas ou três vezes e não consegui. Nesse período, perdi um ano e meio até me firmar no 57 kg, no fim de 2022.”

Sem espaço na seleção e sem conseguir competir, enfrentou sérias dificuldades financeiras. Maria Clara, no entanto, não lutava sozinha.

“Minha família sempre fez muitos sacrifícios para eu continuar competindo e treinando. Morava em São Vicente e treinava em Santos, gastava muito com transporte. Minha primeira competição internacional foi o Mundial Cadete, com 14 anos. Minha mãe não queria me deixar viajar sozinha para o Egito, mas não tínhamos dinheiro para as duas. Então, fizemos rifa, recebemos ajuda da família e conseguimos. Foi nesse campeonato que ganhei minha primeira medalha e passei a receber algumas bolsas, até então, só estava gastando dinheiro.”

Mesmo depois desse início promissor, Maria Clara voltou a depender do sacrifício da família ao se mudar para São Caetano, onde treina a seleção brasileira.

“Morávamos na casa da minha avó em São Vicente e tivemos que começar a pagar aluguel. Foi justamente quando eu não batia peso, perdi todas as bolsas e fiquei sem renda nenhuma.”

Maria Clara sabia do seu potencial e mais uma vez contou com seus familiares para seguir lutando.

“Falei para meu pai, é um tiro agora. Preciso ir para a Europa, para rodar, pontuar no ranking e, quem sabe, conseguir uma bolsa-pódio e conseguir que a confederação veja que eu dou resultado para ter algum investimento. Ele acreditou em mim, fez empréstimo, usou o cartão de crédito para lá e para cá, e bancou. Foi um mês na Europa, fiz cinco competições seguidas e gastei muito dinheiro e fiz muitas dívidas, mas deu certo!”

Em cinco competições, Maria Clara venceu medalhas em quatro delas, subiu no ranking e entrou no radar da confederação, mostrando que também tinha potencial no adulto e na categoria até 57 kg.

“Foi depois desses resultados que eu comecei a me reestruturar financeiramente. Aí, hoje em dia eu tenho o apoio da Marinha do Brasil. Fui contratada pela Marinha em 2023, tenho apoio da Bolsa-Pódio do governo federal. Tenho também uma parceria com a Vitafor, de suplementação, e continuo buscando outras opções e oportunidades de parceria para continuar seguindo nesse processo.”

A lutadora tem claro que uma medalha no mundial pode atrair ainda mais investimentos para sua carreira e está preparada para o Mundial de Taekwondo, marcado para o final do mês de outubro, em Wuxi, na China.

“É a competição mais importante do ano para mim e que estou mais ansiosa para lutar. Tenho um bom histórico com Mundiais, participei só de dois e ganhei duas medalhas e espero continuar nessa onda. Neste ano, eu não perdi nenhuma luta e espero continuar assim o ano todo, sei que é difícil, mas é uma meta que estou colocando para mim.”

O objetivo é ousado, mas para quem transformou adversidades em conquistas e respondeu às dúvidas com resultados, nada parece impossível.

Quem sabe, em breve, a cena de Maria Clara sorrindo com uma medalha dourada no peito não se repita mais uma vez.

Compartilhe:

Veja também: