As arbitrariedades de Donald Trump no comércio internacional, com tarifas que chegam a 50% sobre produtos brasileiros, estão afastando parceiros históricos e provocando uma reconfiguração das relações econômicas globais. Nesse vácuo de confiança, o Mercosul — com destaque para o Brasil — se torna peça central no fortalecimento de uma nova aliança com a União Europeia.
Após 25 anos de negociações, o acordo Mercosul-UE ganhou impulso e apoio explícito no Parlamento Europeu. A proposta prevê a eliminação progressiva de tarifas sobre até 92% das exportações, tornando-se um pacto capaz de compensar as perdas impostas pelo protecionismo norte-americano e de reduzir a dependência europeia em relação à China.
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Para o Brasil, o avanço significa mais do que acesso a mercados: representa um reposicionamento estratégico. Estimativas indicam que o tratado poderá gerar um impacto de até R$ 37 bilhões no PIB até 2044, ao mesmo tempo em que amplia a diversificação de destinos para as exportações nacionais. A presença ativa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em articulações diplomáticas demonstra a aposta do governo brasileiro em consolidar esse acordo ainda em 2025.
A lógica é clara: enquanto os EUA fecham portas e alimentam tensões comerciais, a Europa busca abrir novos canais de cooperação. O Brasil, nesse cenário, emerge como parceiro confiável, estratégico e capaz de suprir demandas por alimentos, energia limpa e matérias-primas de forma competitiva.
Mais do que um tratado comercial, o acordo Mercosul-UE é um gesto político de resistência ao isolacionismo. Um passo que pode marcar a transição para um mundo multipolar, no qual a América do Sul deixa de ser apenas fornecedora de commodities e passa a atuar como protagonista nas grandes decisões globais.
O cenário internacional mostra que a postura protecionista dos Estados Unidos está custando caro à sua credibilidade e à sua liderança comercial. Em contrapartida, abre-se para o Brasil e para o Mercosul uma janela histórica: ocupar o espaço deixado por Washington e consolidar-se como elo vital entre Europa, Ásia e América Latina.
Se o país souber aproveitar esse momento, poderá transformar a adversidade em oportunidade, garantindo mais força econômica e política no tabuleiro global.

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural
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