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Mudança na nota de crédito expõe incompetência política em meio à definição do Plano Safra

Em um momento decisivo para o futuro do agronegócio brasileiro — a definição do Plano Safra 2025/2026 —, a agência Moody’s emitiu um alerta que não pode ser ignorado: a piora na avaliação da nota de crédito de empresas brasileiras e do próprio país. Em outras palavras, estamos sendo considerados mais arriscados por quem empresta dinheiro ao Brasil. Isso significa uma coisa direta e simples: o capital vai custar mais caro.

A avaliação negativa não acontece em um vácuo. O Brasil vive hoje uma contradição cruel: enquanto o setor agropecuário acumula recordes de produtividade, exportações e competitividade global, o ambiente político e fiscal do país afunda em incertezas. A alta carga tributária, o descontrole dos gastos públicos, a falta de reformas estruturais e um Congresso em guerra consigo mesmo geram uma instabilidade institucional que mina a confiança de investidores — internos e externos.

É exatamente nesse cenário que se constrói o Plano Safra, que deveria ser o principal instrumento de fortalecimento da produção nacional de alimentos, fibras e energia limpa. O agro é altamente dependente de crédito — tanto para custeio quanto para investimento em tecnologia e infraestrutura. No entanto, com a piora na percepção de risco do Brasil, o dinheiro estrangeiro que financia boa parte do crédito rural ficará mais escasso e mais caro.

A consequência é previsível: os produtores, especialmente os médios e pequenos, terão mais dificuldade de acessar linhas de crédito em um cenário de juros ainda elevados, falta de seguro rural eficiente e gargalos logísticos crônicos. Enquanto isso, os países concorrentes investem pesado na modernização do campo, na sustentabilidade e na infraestrutura.

Pagamos caro pelo descompromisso estratégico dos nossos governantes. O Brasil tem no agro um exemplo claro de competência técnica, gestão eficiente e visão de longo prazo. Mas o que conquistamos com suor e inteligência no campo, perdemos pela miopia política e pela ausência de um projeto de nação.

Se queremos que o Brasil seja uma potência de verdade — e não apenas uma fornecedora de matérias-primas —, precisamos de uma revolução no pensamento político. Patriotismo não é slogan; é planejamento, responsabilidade fiscal, segurança jurídica e infraestrutura. Sem isso, continuaremos sendo o país do futuro que nunca chega — e que paga caro pelo presente.

Miguel DaoudMiguel Daoud

Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


Canal Rural não se responsabiliza pelas opiniões e conceitos emitidos nos textos desta sessão, sendo os conteúdos de inteira responsabilidade de seus autores. A empresa se reserva o direito de fazer ajustes no texto para adequação às normas de publicação.

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