O Ministério do Turismo publicou uma portaria que permite o cadastramento de produtores rurais e agricultores familiares como pessoas físicas no Cadastur, sistema oficial de cadastro de prestadores de serviços turísticos no Brasil. A medida garante segurança jurídica para que trabalhadores do campo possam oferecer experiências turísticas sem perder sua condição original, além de ampliar o acesso a políticas de apoio, crédito e promoção do setor.
Segundo a pasta, a formalização é considerada essencial para dar visibilidade a pequenos empreendimentos rurais e inserir esses negócios no mercado de turismo de forma estruturada. Dois exemplos de sucesso reforçam esse movimento: um no Pará, na Amazônia Atlântica, e outro no interior de São Paulo, na Mata Atlântica.
Amazônia: o bacuri como atrativo turístico
No Pará, a empresária Hortência Osaqui transformou a fazenda herdada do pai em um polo de turismo de experiência, unindo bioeconomia e gastronomia. A propriedade, que trabalha com manejo sustentável do bacuri, fruta típica da região, passou a receber visitantes interessados em conhecer todo o processo produtivo, da floresta à fabricação de geleias e licores premiados.
“Encontramos no turismo um pilar do nosso projeto de desenvolvimento sustentável. Era preciso mostrar ao visitante como uma família consegue viver da biodiversidade local”, conta Hortência.
A iniciativa cresceu e deu origem à Rota Amazônia Atlântica, o primeiro roteiro de turismo rural da Amazônia validado pelo Ministério do Turismo. O projeto reúne outros produtores da região e fortalece a economia local.
Para a empresária, a nova portaria é fundamental para expandir esse modelo. “É importante que o produtor rural, como pessoa física, possa acessar o mercado turístico. O turismo é coletivo, é transversal. A informação precisa chegar à base”, afirma.
São Paulo: a palmitoterapia que salva a Mata Atlântica
Em Iporanga (SP) no coração da Mata Atlântica, a empreendedora Gabriela Rodrigues criou a Palmitolândia, projeto que alia preservação ambiental, inovação gastronômica e turismo rural. A fazenda substituiu o cultivo do palmito Juçara, espécie nativa e ameaçada de extinção, pelo palmito Pupunha, que pode ser colhido sem destruir a planta.
Com criatividade, Gabriela e sua mãe passaram a desenvolver pratos inusitados, como brigadeiro, cerveja e nhoque de palmito, o que atraiu turistas de diferentes perfis: ecoturistas, famílias, veganos e até pessoas que inicialmente não gostavam do alimento.
A regularização foi decisiva para o crescimento. O empreendimento conquistou o Selo de Qualidade em Turismo do Sebrae, aumentou a procura por visitantes e entrou na rota de agências de viagem. “O Cadastur é uma vitrine que nos permite ver e ser vistos no mundo. O turismo transforma vidas, cidades e realidades inteiras, mas isso só é possível com regras claras e formalização”, ressalta Gabriela.
Formalização como caminho
Com a portaria, o Ministério do Turismo reforça que pequenos produtores terão mais condições de competir em pé de igualdade com outros segmentos do setor. O cadastramento no Cadastur não apenas amplia a visibilidade dos empreendimentos, mas também dá acesso a políticas públicas, linhas de crédito e oportunidades de promoção no Brasil e no exterior.